“Não adianta querer combater a corrupção com Lula no poder”, diz Dallagnol

Foto: Bruno Spada

 

Apesar de todo o esforço de parte do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso para desmontar e desgastar a Lava Jato, a maioria da sociedade compreende que a maior operação anticorrupção da história do país foi positiva. Essa é a opinião de Deltan Dallagnol, ex-chefe da força-tarefa de Curitiba, relatada em entrevista à Gazeta do Povo na semana em que a primeira fase da operação completa 10 anos.

“Ela abriu os olhos da sociedade brasileira. Pela primeira vez na história, a Lava Jato mostrou que o monstro sangra. O monstro do abuso. O poder da corrupção política sangra”, diz o ex-procurador e ex-deputado federal (Novo-PR).

Nesse período, um dos legados da operação, em sua visão, foi provar que é possível vencer a impunidade, que sempre imperou na política brasileira para proteger os poderosos corruptos. Mas uma nova operação assim não será possível, para Dallagnol, enquanto Luiz Inácio Lula da Silva ocupar a Presidência da República. Ele foi condenado por corrupção, mas teve o processo anulado pelo Supremo Tribunal Federal.

“Não adianta você querer combater a corrupção com Lula no poder. Quem Lula vai escolher como ministro do STF? Gente que não vai apoiar a prisão em segunda instância, que não vai apoiar o fim do foro privilegiado. Sem um bom presidente, não teremos bons ministros do STF que combatam a corrupção”, diz.

Deltan Dallagnol deixou o Ministério Público Federal em 2021, num momento de ocaso da operação. O procurador-geral da República à época, Augusto Aras, era um inimigo declarado dos métodos da Lava Jato. Além de acabar com as forças-tarefa, fez uma devassa nas investigações que corriam em Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo. No comando do Conselho Nacional do Ministério Público, deixou correr processos disciplinares movidos por políticos investigados para punir os procuradores, sobretudo Dallagnol, sancionado com advertência e censura.

Candidato mais votado no Paraná para uma cadeira na Câmara dos Deputados em 2022, Dallagnol não ficou um ano no mandato. Foi cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob a acusação de ter deixado o MPF para escapar de processos disciplinares – que, no entanto, já não existiam. No Tribunal de Contas da União (TCU), foi condenado a pagar pelas diárias que os colegas procuradores recebiam para ir a Curitiba, e no Superior Tribunal de Justiça (STJ), foi obrigado a indenizar Lula por expor à imprensa, na forma de um PowerPoint, a denúncia do caso triplex.

Nesta entrevista, Dallagnol aponta que o retrocesso no combate à corrupção parte principalmente do STF, com decisões mal fundamentadas, em sua visão, que têm apenas uma “conta de chegada”: livrar novamente os poderosos de responsabilização por corrupção, como sempre ocorreu na história do Brasil.

Com isso, para Dallagnol, a Corte manda uma mensagem de que o risco de corromper é baixo, o que é reforçado pela anulação da condenação de Lula e sua volta à Presidência. “A mensagem é: ‘roube pouco e você vai para a cadeia, roube muito e você vira presidente da República’”, resume o ex-procurador. Além disso, ele avalia que o STF comete abusos no inquérito das fake news e nos processos sobre o 8 de janeiro de 2023.

Deu na Gazeta do Povo

Deixe um comentário