OPINIÃO

“O martírio das mulheres afegãs”

Por Ney Lopes de Souza

Incrivelmente em pleno século XXI, o grupo fundamentalista (talibãs) do Afeganistão, que governa o país, impõe severas restrições às mulheres e meninas, submetendo-as a verdadeiro martírio.

Neste domingo, 26, foi decretado que as mulheres somente poderão viajar na companhia de um parente próximo do sexo masculino.

Desde que assumiram o poder, em 12 de agosto de 2021, os talibãs negam às mulheres a liberdade de movimento fora de suas casas, exigem códigos de vestuário obrigatórios, restringem severamente o acesso ao emprego e à educação, além do direito à reunião pacífica.

A orientação, emitida pelo “Ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício”, também diz que os proprietários de automóveis só devem transportar mulheres se elas usarem “hijabs islâmicos”, que são peças cobrindo o corpo das muçulmanas, variando de acordo com os costumes locais.

Além disso, também foi emitida uma diretriz para que não haja música nas viaturas.

Tais exigências afastaram as mulheres da vida pública, isolando-as da educação, do emprego e da vida social, dificultando a obtenção de cuidados de saúde, tornando-as completamente dependentes de membros da família do sexo masculino e impedindo-as de escapar, mesmo quando sofrem abusos em casa.

No momento, o Afeganistão enfrenta uma seca devastadora, escassez de alimentos em todo o país, ameaças de colapso económico e financeiro, fuga de cérebros, além do aumento da taxa de violência contra as mulheres.

Mesmo em tal situação, as autoridades impedem que as mulheres sirvam nos mais altos níveis administrativos, regressem aos seus empregos e tenham acesso ao ensino superior.

Sem as mulheres afegãs qualificadas para prestar todo o tipo de serviços de saúde e de educação, participar em atividades de comércio, cultivar, prestar serviços financeiros, envolver-se em negociações e ações humanitárias de todas as dimensões, o país sujeita-se ao aumento da pobreza, violência e instabilidade.

O envolvimento das mulheres é vital em qualquer sociedade humana, independente de religião, ou outro fator.

Por isso, o “caos” constatado no Afeganistão será o primeiro teste de mobilização da comunidade internacional em 2022.

Caberá a ONU continuar o seu trabalho de apoio às mulheres afegãs na diáspora a que estão submetidas.

As nações globais terão que se juntar, na defesa “dos direitos” dessas mulheres, que significam princípios e componentes não negociáveis para a paz no Afeganistão, ou em qualquer outro país.

Esse é o grande desafio no início de 2022.

 

Dr Ney Lopes de Souza é advogado, professor titular da UFRN e ex-deputado federal