O incêndio no Morro do Careca, ocorrido em fevereiro deste ano, tem “origem indeterminada”. As informações foram divulgadas pelo Instituto Técnico-Científico de Perícia do Rio Grande do Norte (Itep/RN), nesta terça-feira (7). O laudo ainda aponta que não se descarta a possibilidade do fogo ter sido iniciado por uma ação humana.
O documento, produzido pelo Setor de Engenharia Ambiental e Meio Ambiente (Selma) do Órgão, foi finalizado ainda no mês de março e traz informações sobre o que foi encontrado no local e a dinâmica do ocorrido.
De acordo com a perícia do Itep, diversos vestígios de resíduos sólidos de atividade humana foram identificados, como latas, garrafas, copos plásticos e palitos de fósforo riscados.
Embora o laudo tenha sido concluído como ‘incêndio florestal de origem indeterminada’, considerando a presença de elementos, e em especial dos palitos de fósforo riscados próximos ao local em que possivelmente o incêndio teve origem, sugere-se como hipótese mais provável que tenha ocorrido um incêndio não natural, ou seja, que teve origem por ação humana, embora não se possa fazer inferências quanto à intencionalidade do ato.
Uma vez iniciado, no ponto mais elevado da área atingida, o fogo se deslocou a favor do vento, em direção à praia de Ponta Negra, atingindo mais intensamente uma área estimada de 730 metros quadrados e outras áreas da vegetação abaixo da copa das árvores. As áreas afetadas pelo incêndio sofreram diferentes intensidades de deterioração, desde completa carbonização à leves chamuscamentos.
Horas após o início de um incêndio no Morro do Careca, um dos principais cartões postais de Natal, bombeiros continuam realizando o combate as chamas. De acordo com o Corpo de Bombeiros, o incêndio foi controlado. Porém, ainda há pontos com a presença de fumaça. Portanto, a ocorrência ainda não foi encerrada.
O Morro do Careca faz parte da Zona de Proteção Ambiental 6 em Natal. Também conforme apontado pelo CB, as chamas, classificadas como um incêndio florestal rasteiro e de média proporção, atingiram entre 20 e 30 metros do ponto turístico.
Comandante geral do Corpo de Bombeiros do RN, o coronel Luiz Monteiro afirmou que o fator desencadeador do incêndio só poderá ser confirmadas após investigação do Instituto Técnico-Científico de Perícia (Itep). “Para a gente chegar em algo conclusivo, é necessário a realização da perícia do local sinistrado. Isso só será realizado logo que o combate seja realizado. É necessário se chegar aonde se iniciou o fogo, como se iniciou”, disse.
Monteiro também salientou que 90% dos incêndios florestais são causados pela ação humana. Porém, se comprovado que a ocorrência começou nesta circunstância, deverá também ser confirmado se houve a intenção do possível suspeito em causar as chamas.
O CBM/RN informou que os trabalhos ocorrem sem transtornos no local, a partir das 21h30, após equipes serem acionadas. Agora, os bombeiros estão finalizando o trabalho nesta manhã com o apoio de um helicóptero da Polícia Militar. As chamas, que se concentraram no topo do morro, tiveram início na noite da última terça-feira (6).
Uma banhista da Praia de Ponta Negra, em Natal, registrou através de um vídeo um novo deslizamento na área do Morro do Careca – cartão postal do Rio Grande do Norte. As imagens foram divulgadas na tarde deste domingo (3), nas redes sociais.
No registro feito pela mulher, ela destaca o perigo do novo deslizamento. “Caraca, que perigo. Coitado do Morro, olha só como está, totalmente sem proteção, sem vegetação. Eles poderiam tomar uma providência, né?”, afirmou a banhista.
Uma banhista da Praia de Ponta Negra, em Natal, registrou através de um vídeo um novo deslizamento na área do Morro do Careca – cartão postal do Rio Grande do Norte. pic.twitter.com/nleOXCiamO
Ainda durante a gravação, enquanto a banhista fala sobre o risco para quem está na praia, algumas crianças aparecem sentadas na areia, bem próximas ao morro, desrespeitando a regra que determina a não aproximação do local.
O processo de erosão no cartão postal tem chamado atenção dos órgãos públicos. O Ministério Público Federal do Rio Grande do Norte solicitou ao Serviço Geológico do Brasil, uma vistoria na estrutura do Morro do Careca. O pedido foi enviado em 7 de julho. A previsão é que essa vistoria realizada no primeiro semestre de 2024.
O Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte informou que segue monitorando a situação do Morro do Careca e que, todos os dias, no período da manhã, uma equipe do Batalhão de Policiamento Ambiental realiza a fiscalização no trecho, impedindo a aproximação dos banhistas.
Um homem está sendo criticado nas redes sociais após infringir a legislação ambiental e subir no Morro do Careca, principal cartão-postal de Natal.
A subida na duna foi registrada por ele próprio nas redes sociais. Em uma publicação no X (antigo Twitter) na tarde desta segunda-feira (30), ele aparece em duas imagens no topo do Morro do Careca, só de sunga e de braços abertos. Na legenda, ele escreveu: “Toda beleza, todo amor, é lindo, é realmente lindo”.
Logo após a publicação, ele passou a receber uma enxurrada de críticas. Provocado por internautas, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema) respondeu ao seguidor: “Seja um amigo do Morro do Careca! A subida neste patrimônio ambiental é considerada infração ambiental. Preserve-o”.
Com a repercussão, o homem apagou as contas nas redes sociais.
Subir no Morro do Careca é uma infração ambiental. Pisar na duna, que integra uma área de preservação ambiental (APA), agrava o processo de erosão que atinge o morro. Desde 1997, a Justiça proibiu o acesso à duna por causa disso. De acordo com o Idema, com base nos artigos 72 e 73 do Decreto Federal nº 6.514, de 2008, a subida pode render multa que varia entre R$ 10 mil e R$ 200 mil.
À 98 FM, o órgão ambiental afirmou que o homem já foi identificado e notificado sobre o auto de infração.
Fiscalização
Ao subir o local, a pessoa provoca impactos ambientais como erosão e perda de sedimentos, rebaixamento da topografia, danos à paisagem e perda de vegetação lateral. Há também o descarte de resíduos.
A fiscalização do local é feita diariamente pela Polícia Militar, por meio da Batalhão de Policiamento Ambiental (BPAmb). A Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal (Semurb) e a Guarda Municipal também ajudam no monitoramento.
Um relatório elaborado pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME), aponta que o há um risco “muito alto” de deslizamentos no Morro do Careca, por causa do processo de erosão costeira. O documento, enviado ao Ministério Público Federal (MPF), recomenda ampliação do isolamento montado no principal cartão-postal de Natal, para prevenir acidentes.
O SGB aponta que as erosões são provocadas pelo contato da água com a falésia que sustenta a duna do morro. Esse cenário gera um alerta para os riscos geológicos que podem afetar a segurança dos frequentadores da região.
O relatório da avaliação geotécnica foi produzido pelos pesquisadores Ivan Bispo de Oliveira Filho e Filipe de Brito Fratte Modesto. “Os deslizamentos podem ser de areia, tombamentos de blocos da falésia, ou queda/rolamento de blocos rochosos”, indica o documento. Os estudos apontam que o deslizamento é restrito às áreas próximas à base do Morro do Careca, o que facilita as medidas de prevenção.
Ainda de acordo com o relatório, a tendência é que o processo de erosão costeira continue a comprometer a base da falésia e, desse modo, faça com que “mais sedimentos arenosos da duna deslizem e tragam consigo grandes fragmentos de blocos rochosos com potencial para provocar graves danos aos frequentadores do local”.
Em nota, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema) afirmou que não recebeu oficialmente o estudo executado SGB. O órgão também disse que é responsável por realizar a manutenção do cercamento lá existente.
“Entretanto, o equipamento encontra-se danificado e órgão aguarda a finalização de um processo de licitação para contratar o prestador serviço para restaurá-lo”, destaca o Idema.
O famoso Morro do Careca , um dos maiores símbolos de natal, pode mesmo desaparecer em menos de uma década.
De acordo com o doutor em Geografia e coordenador da pós-graduação em Geografia da UFRN, Rodrigo de Freitas, a falta de ações para conter a erosão coloca o Morro do Careca em sério risco.
“Olha, se nada for feito, essa falésia terá recuado ainda mais, vamos ver o material muito mais antigo (rochas) e a altura do Morro do Careca terá diminuído. Mas, se a vegetação começar a avançando ainda mais, teremos uma perda da característica da careca, porque o Morro do Careca é uma pareidolia, a comparação da feição com alguém que tenha pouco cabelo, alguém calvo”, explicou.
Segundo o geógrafo, embora o desaparecimento do Morro do Careca não seja iminente, estima-se que leve aproximadamente uma década para que isso ocorra, caso não sejam tomadas medidas adequadas, como por exemplo, a obra de engorda.
O aspecto mais preocupante é a possibilidade de perder as características distintivas que tornam o morro tão reconhecível. Cada vez que essas características únicas são perdidas, ocorre uma descaracterização que afeta a identidade do morro. Assim como acontece com outros monumentos naturais, o Morro do Careca desempenha um papel simbólico para Natal, representando uma parte essencial de sua identidade e herança cultural.
“Aqui tem duas medidas (que podem ser tomadas), a primeira dela é tentar conter a erosão da base do morro e, isso não pode ser feito com obra de engenharia, porque se criar um paredão de concreto vai descaracterizar a parte paisagística, né? E, aí se for feita a engorda, as ondas não atingiriam mais a base do Morro do Careca. Então, já é um primeiro passo”.
E prosseguiu: “Agora, o que a gente tem chamado atenção é que é necessário ir além e começar um estudo, uma pesquisa para quantificar o sedimento que chega no Morro do Careca e ver se é suficiente para manter a feição. É igual um doente, você precisa fazer um conjunto de exames para entender e ver a dosagem correta do remédio”, concluiu.
De acordo com o professor, o Morro do Careca está passando por mudanças significativas em sua aparência. Anteriormente, a abertura característica do topo era maior, porque tinha mais areia, porém agora, “a vegetação está tendendo a fechar por causa que tem menos areia chegando, tendo mais erosão e está saindo mais areia, ou seja, tanto está chegando menos, como está saindo mais areia, isso vai fazendo com que ele se estabilize e a vegetação avance e vai fechando (tomando conta do Morro do Careca)”, disse.
Segundo Rodrigo de Freitas, “se nada for feito, a falésia tende a recuar, porque a água está erodindo a base dela, as ondas estão ‘solapando’ a base e vai removendo pouco a pouco. E como ela vai removendo, vai avançando, como por exemplo, as reentrâncias erosionais, onde tem fraturas, falhas, um ponto de menor resistência é mais acelerado o processo erosivo”, ressaltou.
De acordo com o geógrafo, a erosão do Morro do Careca tem exposto paredões de falésias que estão gradualmente emergindo. “Isso é uma falésia, é uma escarpa bruta e costeira. Aqui no caso, a formação de barreiras está aflorando, que é essa rocha que está ali em baixo. Essa rocha é mais resistente, por isso, que ela forma a escarpa, formando um ângulo de 90º graus. Quando você tem um material que é friável, ou seja, que está desagregado, como é o caso da duna, ele não consegue formar o ângulo de 90º graus. Então, são dois materiais aqui, um é essa rocha que está embaixo, que é a formação de barreira e o depósito eólico, que é a areia da duna que está em cima”.
Segundo o professor, há uma clara diminuição da faixa de areia do Morro do Careca ao longo dos anos. Comparando os dados de 2016 a 2023, constatou-se a remoção de mais de 320 metros quadrados de areia devido à ação da erosão. Além disso, em termos de altura, verificou-se que na frente e na parte de trás do morro, a altura diminuiu para cerca de 2,30 metros e 2,70 metros, respectivamente. Essa diminuição é mais notável na frente do morro, pois a parte montante, de onde o sedimento é trazido pelo vento, leva mais tempo para diminuir. Esses dados revelam a erosão contínua que afeta a faixa de areia do Morro do Careca, comprometendo sua estabilidade e alterando sua aparência característica.
Frequentadores
O processo erosivo avançado no Morro do Careca, representa um perigo para os banhistas devido ao desprendimento de blocos de areia na falésia. Essa preocupação é confirmada por um relatório da Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal (Semurb). A professora Celeste de Almeida, 47 anos, visita Natal pela primeira vez. Ela expressou preocupação com o estado do Morro do Careca se encontra.
“É uma pena e preocupante, né? Porque os turistas também correm risco, a gente viu na reportagem que estava descendo pedras, acho preocupante e acredito que (as autoridades) devem tomar uma atitude, até para que nós possamos prestigiar melhor a cidade”, disse.
O processo de erosão do Morro do Careca, um dos principais cartões postais do Rio Grande do Norte, foi destaque no Jornal Hoje da Rede Globo neste sábado (1º).
A solução proposta para conter o avanço acelerado da erosão no Morro do Careca é a engorda da praia de Ponta Negra, um projeto que já foi anunciado pela prefeitura. Essa medida visaria impedir a erosão na base do morro.
Durante a reportagem, foram apresentadas entrevistas com o diretor do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema) e com o geógrafo da Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal, José Petronilo da Silva.
Ambos os especialistas discutiram os riscos da erosão que ameaçam o Morro.