Estado do RN não atinge metas de vacinação de rotina há 7 anos

Segundo dados da Secretaria de Saúde, Estado tem cerca de 300 mil doses de vacina em atraso. Foto: Adriano Abreu

 

Há sete anos o Rio Grande do Norte não atinge todas as metas de vacinação de rotina para crianças e adolescentes. No intervalo de 2016 a 2022, o Estado vem registrando reduções significativas nos índices das vacinas tidas como essenciais para o  público de até 15 anos. No ano passado, dos nove imunizantes da caderneta de vacinação, somente dois – BCG e hepatite B em bebês de até 30 dias – alcançaram a meta preconizada pelo Ministério da Saúde, entre 90% e 95% do público-alvo. A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sesap) estima que cerca de 300 mil doses estão em atraso em todo o Rio Grande no Norte.

Duas dessas doses em atraso estavam no cartão de Lauany Fernanda, de 10 anos, que estuda na Escola Municipal Maria de Lourdes de Lima, em São Gonçalo do Amarante, e aproveitou uma campanha na unidade para preencher a caderneta. “Tomei logo duas. Uma doeu um pouquinho, mas foi só uma picadinha, mas o bem é maior”, diz. “É uma ideia muito boa colocar essas campanhas na escola”, diz a dona de casa Francisca da Costa, mãe de Lauany. “Que sirva de incentivo para as mães e pais levarem os filhos para se vacinar. São atitudes que salvam vidas”, acrescenta.
Além da BCG e hepatite B para bebês com até 30 dias de vida, a cartilha de vacinas de rotina inclui outros sete imunizantes: rotavírus humano; meningococo C; pentavalente; pneumocócica; poliomielite; hepatite A; e tríplice viral. Foram justamente estas últimas sete vacinas que ficaram abaixo da meta, com percentuais variando de 71% a 82%, o que é considerado grave pela Coordenadora de Vigilância em Saúde do RN, Diana Rego. Em 2023, ano em que o Programa Nacional de Imunizações (PNI) completa meio século de criação, a situação também  preocupa.
“Ao longo dos últimos anos a gente vem percebendo essas diminuições. Isso nos preocupa porque se eu tenho 70% de cobertura para hepatite A, significa que 30% está desprotegido, mas em 2021 nós tivemos mais 35% que deixaram de se vacinar, por exemplo. Quando a gente junta tudo, o grupo de desprotegidos é muito grande e vem aumentando. Enxergamos um impacto negativo no longo prazo para a sociedade porque grandes parcelas ficarão descobertas. Temos que retomar nosso protagonismo nesse assunto”, diz.
Diana Rego, que é professora da Universidade do Estado (UERN), explica que o cenário de baixa é nacional. Na avaliação dela, três motivos principais contribuíram para que as taxas de vacinação diminuíssem nos últimos anos. “Primeiro porque as pessoas não veem a doença. Por exemplo, a poliomielite a gente não vê pessoas sequeladas da doença hoje. Então se não vê, a pessoa  não vê necessidade de se vacinar. Nós vimos isso muito claramente com a covid, quando tínhamos muitos óbitos e as pessoas viam a doença e rapidamente passaram a se vacinar”, argumenta.
Outro fator é a desinformação, conta. “O movimento anti-vacina não é exclusivo da covid, ele ganha força na pandemia e isso atinge outras vacinas também. As pessoas passaram a divulgar informações falsas, fake news sobre os imunizantes e isso acabou contribuindo para isso também. Hoje nós temos esse papel também de combater essas desinformações porque nós, como País, sempre fomos referência em vacinação, inclusive exportando nossa experiência para outros países”, destaca a coordenadora de vigilância em saúde do Rio Grande do Norte.
Por fim, Diana diz que a mudança do perfil socioeconômico e cultural da população também influenciou nesse processo. “Há 15 anos, as mulheres não trabalhavam como trabalham hoje. Não era comum ter os dois trabalhando, às vezes era só o homem ou só a mulher. Sempre tinha um cuidador que levava as crianças para tomar vacina. A gente enquanto profissional precisa repensar novas estratégias voltadas para esses novos modelos da sociedade, que oportunizem o acesso geral às vacinas”, pontua.
Para que a vacinação seja eficaz, é importante que as pessoas procurem uma sala de vacinação para serem vacinadas, nas idades recomendadas – essa é a chamada vacinação de rotina. Também existem as campanhas de vacinação como, por exemplo, as campanhas contra a poliomielite e a gripe, que acontecem todo ano. Além de serem vacinadas nas idades recomendadas pelo calendário do Ministério da Saúde, as pessoas também devem receber as vacinas oferecidas nas campanhas de vacinação. Isto é, uma não exclui a outra.
Informações da Tribuna do Norte

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