Aeroporto de Natal tem potencial para mais voos internacionais, diz Tobias Markert

Tobias Markert  Foto: Magnus Nascimento

 

Foco na qualidade ao passageiro, perspectivas para aumentos de voos internacionais e ampliação em infraestrutura e serviços. Após um processo longo de mais de três anos de discussões,  tramitação na Justiça e enfim a relicitação, o grupo suíço Zurich Airport está com boas expectativas para iniciar as operações no Aeroporto Internacional Aluízio Alves, em São Gonçalo do Amarante. Ainda aguardando a assinatura do contrato de concessão, que terá 30 anos, a empresa já começa a se mexer para iniciar a transição aeroportuária com a Inframerica e assumir de vez o terminal potiguar. “A Zurich já era interessada nesse aeroporto desde a primeira licitação”, enfatiza Tobias Markert, CEO da Zurich Airport. Os empresários e representantes da Zurich Airport visitaram o Rio Grande do Norte esta semana pela primeira vez após o resultado da relicitação  na B3. A empresa arrematou o Aeroporto de São Gonçalo do Amarante por R$ 320 milhões na primeira relicitação da história do Brasil no último dia 19 de maio. A empresa já administra os aeroportos de Vitória-ES, Florianópolis-SC, Macaé-RJ e o de Belo Horizonte-MG, este último em parceria com a CCR. O grupo aguarda a conclusão do processo de conclusão da relicitação, com o pagamento da indenização à Inframerica, que deverá gerar uma ordem de serviço para que as partes iniciem a transição. A expectativa é de que a Zurich inicie a operação de fato entre dezembro deste ano ou janeiro do ano que vem.

CEO da Zurich Airport na América Latina, Tobias Markert, faz um balanço das primeiras ações da empresa após a relicitação, comenta sobre oportunidades e perspectivas de investimentos e analisa o mercado de turismo do Rio Grande do Norte.

Confira na entrevista abaixo:

O que levou a Zurich a vir para o RN? A relicitação já está em discussão desde março de 2020…
A Zurich já era interessada nesse aeroporto desde a primeira licitação. Acho que nós temos uma rede de aeroportos que não são os maiores do Brasil e nessa rede vejo que Natal cabe muito bem. O que nós procuramos são sinergias.  Falamos muito com o Governo daqui e duas coisas ouvi muito: o foco na qualidade e no desenvolvimento, algo que estamos procurando também. Qualidade é algo que está no DNA da Zurich Airport. E precisamos de desenvolvimento para crescer. O Governo quer isso, nós também, acho que é uma combinação muito boa.
 
O Aeroporto do RN está num estado majoritariamente turístico e de certo modo com um perfil diferente dos estados dos aeroportos que vocês administram no Brasil. Isso é uma mudança na empresa? Esse apelo turístico convenceu mais vocês?
Já temos isso em Florianópolis que possui um turismo importante. Aprendemos muito por lá em relação a isso, trabalhando com as organizações que cuidam e lidam com o desenvolvimento do turismo. Acho que conseguimos juntar essas agências para termos um esforço focado. Não quero dizer que isso não acontece aqui, mas talvez possamos trazer esse know-how de Florianópolis e Vitória para Natal.
 
Quais são as expertises dos outros terminais que vocês administram que poderiam ser aplicadas em São Gonçalo? A ideia é manter o padrão de operação ou haverá estratégia diferente para nosso aeroporto?
Primeiro acho que nos aeroportos as expectativas dos clientes não são tão diferentes. Hoje em dia as pessoas viajam muito e conhecem os terminais. Acho que essa expectativa de qualidade é a mesma. Queremos trazer a qualidade de Florianópolis e Vitória aqui para Natal, que já é um aeroporto muito legal. Gosto muito do prédio e da estrutura e estamos muito orgulhosos em operar o melhor aeroporto do Brasil. O que temos de diferente nesse processo é que já existe um terminal. Precisamos nos adaptar com ele. Fizemos um workshop com o time que vai operar o aeroporto e acho que eles têm essa qualidade no DNA. São coisas que vamos trazer por aqui, processos que vão trazer mais qualidade. Por exemplo: o silent airport, (aeroporto silencioso). Não temos as chamadas feitas pelos agentes de companhias aéreas nos aeroportos da Zurich. Temos uma chamada automática padrão e também chamadas por telas. Assim não tem aquele excesso de agentes fazendo chamadas, o que contribui para a redução do stress do passageiro e para ele se sentir mais confortável no aeroporto. Terminamos com isso em todos os nossos aeroportos. Isso é fácil, mas não é o suficiente. Precisa-se de uma olhada em tudo que você faz no aeroporto para se ter qualidade. Nosso time já tem essa vibe. É olhar para todos os detalhes.
 
Em 2022 o Aeroporto de Natal fechou em 2,2 milhões no fluxo de passageiros. O que vocês pretendem fazer para ampliar esse número?
Eu tive a possibilidade de falar com alguns donos dos hoteis de Natal e do RN. Um deles me disse que 98% dos clientes dele são nacionais. Isso me surpreendeu, porque com todos esses hotéis internacionais, um aeroporto desenvolvido, eu achava que teríamos mais voos internacionais, o que ainda não tem. Acho que a infraestrutura dos hoteis, aeroporto, a segurança que melhorou muito, temos um potencial de termos mais voos internacionais. Vamos tentar usar os nossos contatos com as companhias aéreas da América Latina e da Europa. Acho que esses contatos podem ajudar em aumentar o número de voos e passageiros.
 
Existem outras estratégias além dessa?
Somos novos aqui no RN, mas o que ouvimos dizer também é que ainda falta um pouco de desenvolvimento na infraestrutura. Os hotéis são legais, mas falta algo no entorno deles. Estamos abertos em ajudar. Tem esse trem que hoje vai para São Gonçalo do Amarante, mas que não vai para o Aeroporto. Isso é uma coisa que podemos dar uma olhada, por exemplo. Acho importante entendermos outra coisa também: os voos vão para onde tem demanda. Ela vai primeiro. Precisamos crescê-la para o conhecimento de Natal, isto é, o desejo das pessoas de virem para cá. E depois, quando tiver uma demanda, as companhias aéreas vão voar. Normalmente não é uma boa ideia começar com os voos, e sim a demanda.

Estudam voos diretos da Suiça para Natal?
Seria legal, especialmente para nós! (risos).
 
Já existem perspectivas iniciais nos cinco ou dez primeiros anos de quanto a Zurich pretende investir no Aeroporto? Em voos, infraestrutura…
Nessa concessão é um pouco diferente, porque é uma relicitação  e já tem uma estrutura bem adequada que não precisa de tantos investimentos. Acho que precisa de manutenção e temos que fazer investimentos para crescimento do aeroporto. Parte desses aportes vão acontecer nos primeiros cinco anos, mas a maioria é mais pra frente. Se surgirem negócios em outras partes do sítio aeroportuário, como desenvolvimento imobiliário (real estate development), nós podemos fazer investimentos, ou centros de distribuições. Os investimentos estão condicionados a partir do momento em que tivermos crescimento de passageiros.
 
Existem planos para os cinco primeiros anos? Há valores em R$ para investimentos nos dez primeiros anos?
Estamos no início. Claro que temos um Plano de Negócio, que tem crescimento de x% por ano, mas como vamos fazer ainda estamos entender. Normalmente os aeroportos crescem 2x o PIB, crescendo mais rápido. Não temos como definir números nesse momento, mas temos expectativa de crescimento.
 
Há possibilidade de mudanças na infraestrutura do aeroporto?
Isso também está condicionado ao aumento de passageiros. O time já começou esses processos. Com certeza há mudanças e melhorias que vamos fazer no aeroporto, mas ainda é cedo para dizer. Claro que queremos que esse terminal tenha uma aparência similar aos nossos aeroportos que já temos no Brasil e Suíça.
 
Como avaliaram a chegada do Hub dos Correios para o Aeroporto? Esperavam isso?
Foi uma surpresa boa para nós. Claro que ainda não falamos com os Correios, pois ainda não estamos responsáveis, mas é uma oportunidade grande não só para o aeroporto mas como para o Rio Grande do Norte. Estamos abertos a falar com os Correios sobre essa possibilidade porque normalmente esse tipo de negócio traz outros. Gera empregos e traz desenvolvimento. Faz muito sentido ser perto do Aeroporto porque esse tipo de logística para nós é algo importante. Em Florianópolis começamos com um centro de cargas pequeno e crescemos muito esse terminal de cargas. Hoje em dia temos dois voos diretos semanais de carga de Florianópolis para Miami. Isso para nós é um foco também.
Existe essa possibilidade também para o RN de o Aeroporto de Natal tornar-se um terminal de cargas?
Com certeza. Falamos muito com o governo que também tem o desejo de ter mais voos de cargas porque muitos dos produtos que o Rio Grande do Norte produz precisam ir para outros aeroportos. Isso realmente não é necessário, podemos fazer daqui. O importante a se entender é que uma companhia aérea não vai voar vazia. Por isso eles precisam exportar e importar coisas, então precisaríamos de uma solução do que esse voo de cargas traria para o RN. Com certeza vamos trabalhar nisso. Acho que desenvolvemos um trabalho legal em Vitória e Florianópolis e esse conhecimento vamos trazer por aqui.
Mudanças no conceito do aeroporto? Isto é, tornar aquele lugar um espaço de convivência, eventos…
Fazer isso nos nossos aeroportos é um sonho da Zurich. Queremos muito desenvolver o terminal como um centro da cidade também, onde as pessoas vão para desfrutar. Os aeroportos têm essa reputação de serem muito caros, mas não precisam ser. Acho que em Florianópolis mostramos que temos um estacionamento com preços razoáveis, com as lojas tendo preços bons. É um lugar muito legal porque tem shows gratuitos, e vamos ver se é possível fazer isso no RN também. Claro que o Aeroporto fica um pouco longe da cidade, mas talvez haja potencial para se fazer isso.
 
Quais as perspectivas para o mercado de aviação como um todo? 
Acho que estamos vivendo um momento bom, porque estamos em quase 100% dos voos que tínhamos antes da pandemia. No início desse ano os preços eram muito altos, mas isso também melhorou agora. Acho que o Governo tem algumas iniciativas boas, como esse pacote de voos (Voa Brasil) e a ideia de desenvolver aeroportos regionais, o que acho importante para a conectividade e também com mais companhias internacionais querendo atuar no Brasil também. Acho que temos três companhias legais no País, mas tem um mercado por mais.

Informações da Tribuna do Norte

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