Comparação da guerra de Israel com nazismo e altas de preços derrubaram popularidade de Lula

Foto: Ricardo Stuckert

 

Uma pesquisa de opinião divulgada nesta quarta-feira (6) provou que a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva equiparando a guerra de Israel contra o terrorismo do Hamas ao nazismo na Segunda Guerra Mundial derrubou sua popularidade em fevereiro mesmo entre os lulistas. A maior queda foi no segmento evangélico, que representa cerca de um terço da população. Nele, a avaliação negativa do governo Lula deu um salto de 36% para 48%.

A pesquisa quantitativa foi feita pela consultoria Genial/Quaest entre os dias 25 e 27 de fevereiro com duas mil pessoas. Com essa amostra e metodologia, as consultorias afirmam atingir um nível de confiabilidade de 95%.

Ela mostra com evidências técnicas indícios que já eram perceptíveis: a fala de Lula sobre o Holocausto trouxe vergonha para a diplomacia brasileira, fortaleceu o ato pró-Bolsonaro do dia 25 de fevereiro e minou as tentativas de Lula de se reaproximar de parlamentares da bancada evangélica. Os evangélicos têm grande afinidade com Israel por laços de costumes e crenças de cristãos e judeus e pelo fato de o país abrigar locais sagrados para ambas as religiões, entre outros fatores.

Além disso, a referência ao Holocausto gerou a gratidão dos terroristas do Hamas e aumentou em mais de 230% as denúncias de antissemitismo no Brasil, segundo a Federação Israelita de São Paulo.

Segundo a pesquisa Quaest, 60% dos entrevistados disseram que Lula exagerou na declaração sobre o Holocausto. Entre os apoiadores de Lula o índice foi de 43%. Os entrevistados só podiam optar por exagerou, não exagerou ou por não responder ou não ter opinião.

“A pesquisa mostra um quadro muito desfavorável para o governo Lula”, avalia o cientista político Adriano Cerqueira, professor do Ibmec e da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). “O Lula está se radicalizando, se afastando do centro político e assumindo um tom de extrema esquerda. Isso ficou bastante evidente nos resultados da pesquisa. Então foi muito ruim para o Lula esse resultado e se ele quiser melhorar a sua performance, vai ter que melhorar a sua comunicação política”, pontua o especialista.

De acordo com analistas ouvidos pela Gazeta do Povo, o resultado da pesquisa foi influenciado pela estratégia de Lula em adotar discursos mais radicais. Os índices mostram que o presidente teve pior avaliação entre evangélicos e a população mais rica do país.

“O presidente Lula, na maior parte, diria que em 95% das vezes, ele continua falando para o eleitorado dele. Aquela questão abordada durante a campanha, de uma pacificação entre os diferentes públicos, não aconteceu. Ele segue falando para aquele eleitor que o elegeu, então a outra parcela da população ainda não se sente representada”, analisa a cientista política Deysi Cioccari.

“Um dado muito importante é a perda consistente de Lula e seu governo do eleitorado evangélico. A população católica no Brasil está encolhendo e a evangélica está crescendo. E, entre os evangélicos, a maioria tem uma avaliação negativa de Lula e seu governo”, diz Adriano Cerqueira. Entre os evangélicos, o trabalho do presidente Lula chegou a 62% de desaprovação e apenas 35% de aprovação. São 27 pontos percentuais de diferença.

O resultado foi puxado pelas diversas críticas que o petista fez a Israel nos últimos meses. No último dia da pesquisa, Lula falou que o premiê israelense Benjamin Netanyahu cometeu genocídio e quer exterminar o povo palestino.

“O maior desastre dessa fala do Lula, essa comparação indevida sobre Israel, não foi nem na política externa, já que o Brasil não tem tanta presença assim em discussões no exteriores como o Lula gostaria que tivesse, mas foi na política interna mesmo. Avalio que Lula deu literalmente um tiro no pé ao insistentemente fazer acusações contra Israel”, diz o especialista que é professor no Ibmec e na UFOP.

Deu na Gazeta do Povo

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