Economia

Brasil vê população de rua aumentar quase dez vezes na última década

Foto: William Moreira

 

O número de pessoas em situação de rua no Brasil teve um aumento expressivo nos últimos dez anos, de acordo com um levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), baseado nos dados do Cadastro Único do governo federal.

Os dados foram divulgados nesta segunda-feira, 11. O número saltou de 21.934 em 2013 para 227.087 até agosto de 2023, o que representa um crescimento de 935,31%. Diversos fatores contribuem para esse problema, como exclusão econômica, que engloba insegurança alimentar, desemprego e falta de moradia adequada; ruptura de laços familiares; e questões de saúde, especialmente relacionadas à saúde mental.

Entre as pessoas em situação de rua, 47,3% apontaram problemas familiares ou com companheiros como motivo para deixar suas casas. O desemprego foi citado por 40,5% delas, enquanto o alcoolismo e o abuso de outras drogas foram mencionados por 30,4%. A perda de moradia foi citada por 26,1%. O levantamento foi realizado por Marco Antônio Carvalho Natalino, especialista em políticas públicas e gestão governamental, que atualmente trabalha na diretoria de estudos e políticas sociais do Ipea. Segundo o especialista, quanto mais tempo uma pessoa passa nas ruas, maior é a probabilidade de problemas familiares e com companheiros serem um dos principais motivos que a levaram a essa situação. A análise aponta que 60% das pessoas em situação de rua não vivem na cidade em que nasceram, mas 70% delas vivem no mesmo estado de nascimento. Além disso, o movimento geral é das periferias em direção aos centros metropolitanos.

Segundo a pesquisa, do total de pessoas em situação de rua no Brasil, 10.586 são estrangeiros, representando 4,7% do total. A maioria desses estrangeiros vem de países vizinhos, sendo que 30% são da Venezuela e 32% são de Angola.O estudo do Ipea também revela que 69% das pessoas em situação de rua são negras, sendo 51% pardas e 18% pretas. A idade média deste grupo é de 41 anos. Os jovens entre 18 e 29 anos representam 15% do total da população nessa situação, enquanto aqueles com idade entre 50 e 64 anos correspondem a 22%. Crianças e adolescentes somam 2,5%, e idosos representam 3,4%.

Entre as causas para o aumento exponencial de pessoas em situação de rua nos últimos dez anos, Natalino destaca as crises econômicas sucessivas enfrentadas pelo Brasil há quase uma década, incluindo a volta da insegurança alimentar grave e da fome, situação agravada pela pandemia de Covid-19. Diante desse cenário, o STF (Supremo Tribunal Federal) determinou, em julho deste ano, que Estados e municípios devem seguir as diretrizes da Política Nacional para a População em Situação de Rua.

Deu na JP News

Inclusão

Quem é o cabeleireiro que faz transformação e ajuda sem teto a mudar de vida

Imagem de capa para Quem é o cabeleireiro que faz transformação e ajuda sem-teto a mudar de vida

 

 

Sim. É a mesma pessoa nas duas fotos acima! As fotos transformação do morador em situação de rua Bruno Henrique Cassimiro Ramos, de 33 anos, viralizaram nas redes sociais nos últimos dias. O rapaz de Votorantim, no interior de São Paulo, prometeu a si mesmo que vai “mudar de vida” e disse que o novo visual foi o primeiro grande passo dessa mudança.

E não é que a família dele, que hoje vive na Itália, teve notícias do Bruno depois das fotos viralizarem nas redes sociais? Agora eles querem se reunir novamente e levar o Bruno para morar com eles na Europa!

E o autor de toda essa mudança na vida do Bruno é o cabeleireiro Leandro Matias, que desde os 14 anos coleciona transformações de pessoas em situação de rua.

Ele sempre gostou de ajudar os outros e falou ao G1, da primeira transformação que fez.

“Foi antes da pandemia, uns três anos atrás. Uma senhora catadora de reciclagem passou em frente ao salão e eu pedi para um dos meus funcionários chamá-la. Ela entrou e eu disse que ela tinha ganhado um presente. Aí eu apontei para o céu e ela começou a chorar”.

Leandro ajuda pessoas “invisíveis”, que ninguém enxerga, segundo ele.  O jovem cabeleireiro faz tudo de graça e só exige que a transformação seja uma surpresa para o cliente.

“Toda transformação eu fico ansioso. Eu não deixo a pessoa ver o resultado até eu acabar. Eu pergunto o que a pessoa quer ou não e, depois, eu a viro de costas para o espelho. Quando finalizo, é aquela choradeira. Uma das minhas maiores motivações é saber que eu dou o pontapé inicial na vida dessas pessoas”, disse.

 

A transformação do Bruno

Nesta quinta-feira, 31, Leandro estava voltando ao salão, quando encontrou um outro rapaz nas ruas e perguntou se ele queria uma mudança no look. Leandro estranhou mas aceitou.

“Dei uma toalha e um sabonete para ele e falei ‘vai lá e toma o banho da sua vida’. Depois, ele colocou um roupão meu e almoçou. Depois, fiz luzes no cabelo dele, cortei, fiz uma esfoliação no rosto dele, e também fizemos a sobrancelha. Na hora, ele ficou em choque, não acreditava que era ele”.

A transformação foi registrada, postada nas redes sociais de Leandro e teve muitas curtidas e compartilhamentos.

Após as postagens, uma dentista entrou em contato com o cabeleireiro e vai fazer um tratamento dentário no Bruno nos próximos dias. Ele também tem ganhado roupas e ajuda de pessoas que o encontram na rua.

 

Bruno antes da transformação pedindo ajuda nas ruas - Foto: arquivo pessoa
Bruno pedindo ajuda nas ruas Foto : Arquivo pessoal

 

O cabeleireiro Leandro Matias atendendo Bruno no salão em Votorantim - Foto: arquivo pessoal
O cabeleireiro Leandro Matias atendendo Bruno no salão em Votorantim – Foto: arquivo pessoal

 

Família quer levá-lo para a Itália

Bruno contou ao G1 que é de Minas Gerais e, aos cinco anos, foi abandonado pela mãe. Ele morou com a irmã e, depois, ficou um tempo com o pai e até chegou a ir para um orfanato. Hoje, a irmã e o pai moram na Itália.

Ele falou sobre a dependência de drogas e que quer mudar de vida.

“Já fui para clínicas de reabilitação duas vezes em Araçatuba (SP). Lá eu comecei a trabalhar como técnico de iluminação, algo que eu tinha aprendido com meu irmão. Nesse tempo, eu fiquei com uma pessoa, estava bem, trabalhando, e, em 2019, fui fazer um trabalho na Ilha Comprida (SP). Foi quando descobri uma traição. Fiquei mal e decidi que iria embora para o interior. Não conhecia ninguém”.

Bruno chegou em Sorocaba (SP) em fevereiro de 2020, um mês antes do início da pandemia no Brasil. Como não conhecia ninguém na cidade, acabou ficando nas ruas. E um dos seus maiores problemas havia voltado: a droga. Ele conta que, durante a pandemia, não recebeu muita ajuda.

“Nessa época, eu estava descrente da vida, não queria saber de nada. Quando o Leandro me encontrou, era o que eu estava precisando. A gente cansa da humilhação. Aquele não era o meu verdadeiro eu, então aceitei a mudança”.

E quando ele viu o novo Bruno no espelho…. “Me senti outra pessoa, foi muita alegria. Me fez lembrar do passado. O que eu tenho mais saudade é do meu trabalho, é o que eu faço desde os meus dez anos”.

Bruno afirma que está aproveitando a oportunidade para mudar de vida: “não quero ser mais aquele homem, quero mudar”, afirma.

A repercussão foi tanta que a irmã de Bruno entrou em contato com Leandro através da postagem e está conversando com a família para tentar levá-lo até a Itália.

 

 

Alguns dos moradores em situação de rua que já ganharam transformação feita pelo cabeleireiro Leandro - Fotos: arquivo pessoal
Alguns dos moradores em situação de rua que já ganharam transformação feita pelo cabeleireiro Leandro Matias – Fotos: arquivo pessoal

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