Economia

Na contramão dos portos nacionais, Porto de Natal teve queda de 11,8% na movimentação de cargas em 2021

O Porto de Natal teve uma queda de 11,8% na movimentação portuária em 2021 na comparação com 2020. Em números gerais, o percentual representa 82,2 mil toneladas de granel sólido e contêineres que deixaram de circular pelo terminal no ano passado em comparação com 2020. Os dados estão no anuário estatístico da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), divulgado na quarta-feira (2), durante coletiva com diretores da agência e representantes do Ministério da Infraestrutura. No total, o porto movimentou 614,6 mil toneladas, em 2021. No ano anterior, o volume foi de 696,8 mil toneladas de produtos. A queda na movimentação portuária ocorre pelo segundo ano consecutivo. Em 2020, quando o terminal natalense escoou 696,8 mil toneladas, houve redução de 4,8% ante 2019 (732.542).

O detalhamento dos números mostra que a maior queda de movimentação foi registrada no granel sólido, que alcançou 215,7 mil toneladas, 24,03% de retração. A área de contêineres, cuja movimentação foi de 379 mil toneladas teve uma baixa de 4%. O Porto de Natal é utilizado para cargas gerais, mas principalmente para a exportação de frutas e rochas (quartzitos) e cabotagem de cargas em contêiner. A baixa reflete em números negativos também no transporte de longo curso, responsável pelas importações e exportações.
O levantamento da ANTAQ aponta que o Porto de Natal teve redução de 24,78% nas exportações e de 0,72% nas importações. A movimentação na área de cabotagem (movimentação de cargas entre os portos do País) também sofreu revés com uma queda de 39,59%, conforme revela o Estatístico Aquaviário 2021. Atualmente, dentro do sistema de cabotagem brasileiro, Natal faz rota apenas com Fernando de Noronha. A região Nordeste também apresentou retração de 1%, movimentando 330,6 milhões de toneladas no último ano. O Terminal Portuário do Pecém (CE) foi o destaque com a movimentação de 21,9 milhões de toneladas, aumento de 37,6% no ano.
Dados da Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern), liberados pela Assessoria, apontam queda ainda maior: 13%. A movimentação passou de 710.912 toneladas, em 2020, para 617.469, em 2021. A Codern explica que, muito, deve-se à escassez de contêineres, um problema que atingiu todos os terminais brasileiros e de outros países no ano passado.
Os números de Natal vão na  contramão do cenário nacional, que bateu recorde de movimentação portuária e apresentou crescimento de 4,8% neste ano. De acordo com Diogo Piloni, secretário nacional de Portos e Transportes Aquaviários do Ministério da Infraestrutura, apesar das movimentações reduzidas em 2021, a expectativa é de a Codern tenha novos investimentos a partir do lançamento de processos licitatórios, a exemplo do que ocorreu com o Terminal Salineiro de Areia Branca, arrendado no fim do ano passado por R$ 100 mil, o que deverá beneficiar o Porto de Natal.
“O Porto de Natal também tem estudos em andamento, estudos de viabilidade para realização de licitações. A gente sabe da importância do Porto para movimentação de algumas cargas, especialmente as frutas e fazer com que haja uma redução dos gargalos das necessidades de infraestrutura é umdos nossos desafios”, explicou o gestor.
Portos nacionais tiveram crescimento de 4,8%
O setor portuário brasileiro, formado pelos portos públicos e terminais privados, movimentou 1,210 bilhão de toneladas em 2021. O número representou um crescimento de 4,8% em relação a 2020, de acordo com o levantamento feito pela ANTAQ. Em relação aos perfis de carga, houve crescimento na movimentação de granel sólido, de granel líquido, de contêineres e de carga geral. A movimentação de contêineres, por exemplo, registrou incremento de 11% se comparada com a de 2020.
Em relação às principais cargas movimentadas, o minério de ferro continua sendo o maior destaque em quantidade. Foram 370,4 milhões de toneladas movimentadas em 2021: um aumento de 4% em comparação com 2020 (356,1 milhões de toneladas). O Terminal de Ponta da Madeira (MA) foi a instalação que mais movimentou minério de ferro no Brasil. No ano passado, foram 182,3 milhões de toneladas.
“O setor deixou de ser gargalo e vem respondendo às demandas do setor produtivo, apresentando crescimento em 2020, na pandemia e 2021 também, apesar das dificuldades. Quanto o setor produtivo precisou de respostas, o sistema aquaviário deu essa resposta, se recuperou da crise no ano passado e a expectativa é se recuperar ainda mais. A gente etá preparando um crescimento estrutural ao longo dos próximos anos”, afirmou o titular do Ministério da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas.
Para 2022, estudos apontam que a movimentação alcançará 1,239 bilhão de toneladas, o que representaria um crescimento de 2,4% em relação ao ano passado. Pelos próximos quatro anos, a Agência prevê a manutenção do viés de alta na movimentação portuária. Em 2026, a expectativa é que o setor portuário nacional movimente 1,402 bilhão de toneladas ante 1,360 bilhão de toneladas em 2025.
A navegação de longo curso transportou 853,4 milhões de toneladas em 2021. O número representou crescimento de 5,4% em relação a 2020. Os estudos da ANTAQ mostram que 51% do que o Brasil exporta por esse tipo de navegação vão para China. Nas importações, os principais parceiros comerciais são os Estados Unidos (24%), China (11%), Rússia (7%) e Argentina (6%).
A navegação de cabotagem transportou 288,3 milhões de toneladas em 2021. Isso representou um crescimento de 5,6% em comparação com 2020. As principais cargas transportadas foram: petróleo (49%), derivados de petróleo (16%) e contêineres (13%). A movimentação de derivados de petróleo e de contêineres registraram alta de mais de 15% no período.
Polícia

Natal faz parte do grupo logístico de esquema criminoso internacional

No esquema específico comandado pelo ex-major da Polícia Militar, o crime se organiza em três grandes grupos: “Márcio Cristo” e “Zoio”, com ações em Paranaguá-PR e “Logístico”, em São Paulo. A capital potiguar faria parte de um subgrupo vinculado ao “Logístico”, intitulado “Barcos Natal” e “Frutas Nordeste”, que inclui ainda cidades como Juazeiro (BA) e Petrolina (PE).

No caso do “Logístico”, o papel desse grupo seria receber, armazenar e transportar para os grupos que atuam diretamente na exportação da cocaína, como o caso de Natal.

O Grupo Barcos Natal, por exemplo, segundo dois processos da Justiça Federal aos quais a TN teve acesso, “trata-se de grupo especializado na reforma de embarcação para ocultação de grandes carregamentos de cocaína em viagens transoceânicas”, disse.

Esse grupo, segundo a denúncia, seria chefiado por Lenildo Marcos da Silva, o “Cabeça”, sendo diretamente ligado ao Major Carvalho. A Justiça afirma que três embarcações foram reformadas na Rua Chile, na Ribeira, zona Leste de Natal. Entre elas estaria a “Wood”, embarcação que foi apreendida em águas internacionais com 1.100 kg de cocaína nas proximidades de Cabo Verde em maio de 2019. O pesqueiro, foi encontrado a aproximadamente 280 milhas náuticas da Cidade da Praia, em Cabo Verde. Seis dos sete tripulantes eram do Rio Grande do Norte. Eles partiram de Jaboatão dos Guararapes (PE) e o barco era inscrito na Capitania dos Portos do RN.

Neste caso específico, a técnica utilizada pelo grupo é a “Pescaria”, que consiste no transporte da droga em lanchas e/ou içamento para navios. No processo, a Polícia Federal cita que o carregamento da droga foi transportado por um helicóptero branco e azul “que lançou a carga ao mar a cerca de 50 milhas náuticas da costa de Pernambuco já acondicionada nos sacos”.

Nos tabletes de cocaína haviam adesivos com as marcas da Louis Vitton, marca de bolsas, e do clube espanhol Real Madrid.

Além da “Wood”, as embarcações “Myomar” e “Dorada” também faziam parte do esquema e foram adquiridas por uma empresa fictícia intitulada “Alves Embarcações”.

Polícia

265kg de cocaína é apreendido no Porto de Natal e empresa alega que o contêiner foi violado

Foto.Magnus Nascimento

A empresa de frutas que teve a carga confiscada com 265kg de cocaína, prestes a ser embarcada via Porto de Natal no último sábado (20) e interceptada por autoridades federais, disse que o contêiner contaminado teve o lacre rompido antes de chegar ao porto. Para o Grupo Argo, que aparece em imagens com as cargas de manga com os pacotes de drogas, a empresa “foi vítima da ação da quadrilha” e está à disposição das autoridades para colaborar com as investigações. A droga apreendida tem valor estimado em R$ 58 milhões.

A apreensão da carga foi feita no último sábado pela Receita Federal e Polícia Federal, numa fiscalização feita pelos órgãos. De acordo com a Argo, a empresa segue um protocolo e procedimento interno que inclui o lacre da carga após o carregamento e temperatura e trajeto “monitorados durante todo o percurso ao porto; filmagem e controle de embalagem e carregamento das cargas”.
“Estes procedimentos ajudaram a Polícia Federal e a Receita Federal a identificarem que o contêiner em questão teve seu lacre rompido antes de chegar ao Porto e acenderam a suspeita. Infelizmente, várias empresas do segmento de frutas têm sido vítimas de atuação semelhante. Em alguns casos, os contêineres são violados dentro do próprio porto”, diz a empresa.
“Além do prejuízo financeiro e comercial decorrente da não exportação da mercadoria, há ainda os danos causados pela imagem das empresas exportadoras, bem como para o setor de fruticultura de exportação. O Grupo Argo está a inteira disposição das autoridades para colaborar com as investigações policiais e demais órgãos envolvidos, aguardando o desfecho do caso”, diz a empresa.
Esta foi a segunda apreensão feita pelas autoridades federais no Porto de Natal em 2021. Em junho, 550 quilos de cocaína foram apreendidas durante uma inspeção das autoridades federais no Porto de Natal, que nos últimos anos têm sido utilizado frequentemente para escoamento de cocaína para países da Europa, em especial Bélgica, Espanha e Holanda. A exportação da droga segue acontecendo mesmo um ano depois da instalação do scanner nas dependëncias do Porto.
“O scanner está funcionando e está sendo utilizado para todas as cargas que estão embarcadas para Natal. Todos os contêineres que saem pelo nosso porto são scaneados. Ele consegue fazer 15 análises por hora, nessa faixa”, explica o Chefe da Equipe de Vigilância e Repressão, o Auditor-Fiscal Maurício Santos, responsável pela execução das operações em entrevista à TRIBUNA DO NORTE na última segunda-feira (22).
“Naturalmente o scanner tem suas vantagens, incontáveis, mas num universo grande de cargas, o scanner em algumas vezes não é tão preciso. Só o scanner por si só não resolve, é mais uma ferramenta que auxilia nessa detecção. Dependendo dessa carga pode ser que ele tenha uma facilidade maior que a outra. Depende do tipo de carga exportada que pode trazer alguma dificuldade”, acrescenta.
Em nota enviada à imprensa, a Companhia Docas Do Rio Grande do Norte (Codern), que administra o Porto de Natal, disse que “a apreensão [do último final de semana] demonstra, mais uma vez, que a intensificação das ações de vigilância na área portuária, sempre em parceria e com o apoio irrestrito da Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern), vem surtindo efeito”.
Desde outubro do ano passado, segundo a Codern, está em uso o scanner de contêineres no Porto de Natal. O equipamento foi instalado em outubro de 2020, em um procedimento que envolveu negociações com agentes públicos e a iniciativa própria do armador CMA/ CGM, da empresa operadora portuária, Progeco, e fruticultores do Estado. O custo mensal varia entre R$ 350 mil e R$ 400 mil. O contrato inicial iria até setembro deste ano, mas, segundo a Codern, foi renovado.
Em virtude das apreensões e alegando falta de segurança portuária, a CMA-CGM chegou a anunciar a suspensão das operações no Porto de Natal no começo de março de 2019, após apreensão de quase 3,2 toneladas de cocaína dentro de contêineres, nos dias 12 e 13 de fevereiro. As operações voltaram no dia 08 de abril.
Valor
As apreensões de cocaína no Porto de Natal geraram, em 2021, um prejuízo de pelo menos R$ 178 milhões ao tráfico internacional. Ao todo, foram apreendidos 815 quilos da droga saindo do Porto em direção à Roterdã, na Holanda. No último sábado (20), 265 quilos foram apreendidos numa carga, em caixas de manga. A quantidade é avaliada em R$ 58 milhões, segundo estimativa da Receita Federal.
O prejuízo ao crime organizado aumenta para R$ 440 milhões quando se somam apreensões de 1.198 quilos na Holanda e na Bélgica, mas que passaram por Natal, ao longo do ano, após alertas emitido pela Receita Federal à aduana europeia. O cálculo feito pela TRIBUNA DO NORTE pega como base as estimativas sobre os valores da droga no mercado disponibilizados pela Receita e Polícia Federal.
Em 2021, outras quatro cargas foram apreendidas, três delas, segundo a Receita Federal, resultados de interceptações das autoridades aduaneiras da Holanda e Bélgica. As cargas eram de 398 (março, na Holanda); 550 quilos (abril, na Holanda), 250 quilos (junho, na Bélgica).  Em junho, 550 quilos de cocaína foram apreendidas durante uma inspeção das autoridades federais no Porto de Natal. Portanto, 765 quilos foram interceptados antes de embarcar em Natal e outros 1.198 quilos após o embarque. As quantidades constam no mais recente boletim da Receita Federal com o histórico de apreensões, enviado à tribuna.