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Advogados intermediaram plano de fuga de Alcaçuz, diz secretário

 

Um plano de fuga na Penitenciária Rogério Coutinho Madruga, que faz parte do Complexo de Alcaçuz, contava com a intermediação de dois advogados ligados ao crime, segundo apurou e divulgou a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), nesta quarta. Seis presos vão responder a uma sindicância e poderão ter as penas aumentadas. Os advogados foram presos na Operação Carteiras, do Ministério Público do RN.

“Detectamos que havia uma comunicação de advogados com várias lideranças. Todo preso que o advogado falava, ele cometia uma falta disciplinar, então ele teria que ser transferido para aquela determinada cela, que era a do isolamento. Percebemos que havia algo anormal: presos que não davam problemas começaram a cometer faltas e irem para as celas. E ainda relacionamentos com advogados que foram presos na operação do Ministério Público”, disse Pedro Florêncio, secretário da Seap.

O plano era “engenhoso”, nas palavras de Pedro Florêncio. A situação funcionava da seguinte forma: os presos cometiam faltas disciplinares de forma intencional para serem enviados à uma cela específica, a do isolamento. As faltas poderiam ser ofensas à policiais penais, desobediências a procedimentos, xingamentos e materiais inapropriados. Uma vez na cela, começava-se o trabalho, com serragens das grades e ocultação do material no lixo fora da cela. Era de lá que eles fugiriam, utilizando-se de “teresas”, cordas formadas por lençóis torcidos.

“Eles iriam romper a cela serrando a grade, lançando a teresa e teria o apoio já do outro lado porque já havia comunicação dos advogados de como se daria a fuga e o resgate. Teria um ou mais carros esperando eles lá fora. Naquele momento tinham seis presos, e nessa cela, dois fugitivos de Alcaçuz do ano passados, recuperados, estavam lá. E um dos que estavam coordenando essa fuga era um que falou com a advogada presa recentemente”, cita.

Os seis homens presos que participavam da operação de violação da cela não necessariamente eram os que iriam fugir.

“Eles é quem estavam executando o dano na grade. Os presos que arquitetaram estavam aguardando a hora de cometer a falta e irem para a cela, que eram as lideranças realmente do crime”, acrescentou Florêncio.

Entre os materiais utilizados, o secretário explica que, além dos lençóis para as “teresas”, os presos utilizavam arroz, feijão e raspas das paredes para criar uma massa e esconder e disfarçar os danos causados nas grades. Para a serragem, os presos utilizavam ainda lâminas de barbear.

“As teresas eram feitas com lençóis que eles rasgam e fazem a corda. Esse outro material, para serrar a grade, é material da estrutura física da cela, do lado de fora, o acabamento da laje. Eles descobriram que aquilo servia para lixar. O desgaste de uma matéria com a outra. Eles escondiam jogando no lixo do lado de fora, quando ia ter revista. Depois eles conseguiam resgatar com o próprio lençol”.

Em nota enviada à imprensa, a  OAB/RN disse que está acompanhando, desde o começo do ano, as operações realizadas contra advogados investigados por intermediar a comunicação com detentos nos presídios estaduais.

“A OAB/RN zela pelas prerrogativas da advocacia, mas não compactua com nenhum envolvimento com atividades ilegais, que vão contra o Código de Ética da Advocacia e a Constituição Federal. A Ordem instaurou processos éticos-disciplinares para apurar as condutas”, diz a nota.

Plano já estava 60% executado 

O plano de fuga dos presos já estava 60% executado e existia a possibilidade de a fuga acontecer neste final de semana, acredita o secretário Pedro Florêncio, titular da Secretaria de Estado da Administração Penitenciária.

“Os advogados faziam a comunicação de como se daria o plano entre as lideranças que estão isoladas em salas diferentes. E através de advogados sérios, descobrimos que havia plano de fuga dentro daquela unidade. Acredito que esse plano já estava com uns 60¨% avançado. Mas isso pode ser feito em uma semana como em dois dias. Era uma atividade que não fazia barulho”, complementa.

A Seap vai avaliar, junto ao Ministério Público (MPRN), a possibilidade de transferência desses presos para unidades federais.

“Vai ser aberto um inquérito na Deicor. Os seis presos vão responder a uma sindicância no âmbito da Seap onde serão punidos e a pena é revertida pelo juiz de execuções em aumento da pena. Eles já estão isolados e vamos verificar a possibilidade de conseguir a transferência dessas lideranças para presídios federais e identificar se essa comunicação ainda está se dando através de advogados ou se foi apenas por parte dos advogados presos nas operações Carteiras”, complementou o secretário Pedro Florêncio.

O Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN) deflagrou na semana passada a operação Carteiras 2. O objetivo foi cumprir mandado de prisão contra um advogado suspeito de integrar uma organização criminosa que atua dentro e fora de unidades prisionais do Estado. Além do advogado, a ação cumpriu outros quatro mandados de prisão contra detentos.

O advogado foi preso na Penitenciária de Alcaçuz, em Nísia Floresta. A investigação do MPRN já apurou que ele, por diversas vezes trocou “catataus” (mensagens) com detentos, estabelecendo a comunicação entre os internos integrantes da organização criminosa que ainda estão nas ruas e as lideranças encarceradas.

O MPRN já ofereceu denúncia contra o advogado preso nesta segunda-feira e ele já é réu em ação penal. Na denúncia, o MPRN mostra que no dia 6 de outubro de 2021, o advogado entrou na penitenciária de Alcaçuz portando um print de conversa do aplicativo WhatsApp sobre venda de objeto ilícito. No dia 27 de novembro passado, durante atendimento a internos da mesma unidade prisional, deixou cair um papel no parlatório. Esse “catatau” tratava de comunicação dos presos com integrantes da organização criminosa.

Para o MPRN, o advogado preso se aproveitava de suas funções para driblar a fiscalização penitenciária, usando criminalmente suas prerrogativas.

No dia 8 de julho passado, o MPRN deflagrou a operação Carteiras, que cumpriu seis mandados de prisão preventiva e outros quatro, de busca e apreensão, nas cidades de Natal, Parnamirim, Extremoz, Nísia Floresta. Os mandados foram cumpridos nas residências de advogados, em um escritório de advocacia e ainda nas penitenciárias estaduais de Alcaçuz e Rogério Coutinho Madruga. Ao todo, três advogados foram presos na ação.

Confira nota da OAB:

A Ordem dos Advogados do Brasil no Rio Grande do Norte (OAB/RN) está acompanhando, desde o começo do ano, as operações realizadas contra advogados investigados por intermediar a comunicação com detentos nos presídios estaduais.

A OAB/RN zela pelas prerrogativas da advocacia, mas não compactua com nenhum envolvimento com atividades ilegais, que vão contra o Código de Ética da Advocacia e a Constituição Federal.

A Ordem instaurou processos éticos-disciplinares para apurar as condutas.

Deu na Tribuna do Norte

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Seap detalha plano de fuga de apenados de presídio do Rio Grande do Norte

 

A Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) deu detalhes do plano de fuga da Penitenciária Rogério Coutinho Madruga, frustrado por policiais penais nesta terça-feira (16). De acordo com a pasta, os apenados cometiam irregularidades para serem transferidos para uma cela, de onde planejavam sair do presídio.

De acordo com o secretário Pedro Florêncio, a investigação identificou seis presos que tinham envolvimento direto identificado com o plano. Materiais que seriam usados na fuga foram produzidos, de forma artesanal, por eles

“Não sabemos a data que (a fuga) iria ocorrer, mas o plano já estava em andamento. O material para serrar a grade, a ferragem, as ‘teresas’, enfim, os artefatos já estavam prontos para serem utilizados”, afirmou o titular da pasta.

O plano consistia nos apenados, de forma intencional, cometerem infrações para serem levados para uma cela em especial. Atos como jogar comida no chão, xingar os policiais penais e desobedecer suas ordens eram alvos de advertências. Os presos eram levados para uma cela de isolamento.

“Toda vez que o preso comete uma falta disciplinar, ele é isolado do convívio geral, levado a uma cela para isolamento. O local já tinha seis presos isolados, sendo dois deles apenados que fugiram de Alcaçuz e foram, posteriormente, capturados”, afirma Florêncio.

Seis presos vão responder a uma sindicância e poderão ter as penas aumentadas, segundo a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap):

  1. Marcos Vinícios Costa Portela Lopes
  2. Fábio Henrique Da Silveira Mendonça
  3. Carlos Alexsandre Teixeira Feliciano
  4. Antônio Marcos Sena da Silva
  5. Francisco Paulino da Silva Júnior
  6. Maibson Alison Silva

A Seap não definiu se irá pedir a transferência dos seis apenados. Um deles é envolvido na Operação Carteiras do Ministério Público (MPRN), que prendeu advogados e deu nova voz de prisão a apenados por trocas de mensagens entre presos e membros de facções criminosos que estão nas ruas.

A pasta vai avaliar, junto ao MPRN, até que ponto se dava o envolvimento dos seis presos identificados. A secretaria quer saber quem estava arquitetando, de fato, o plano.

“Eles estavam fazendo o trabalho, seriam os personagens. Eles estavam executando a violação e quem arquitetou, muito provavelmente, estava aguardando a hora de ir pra cela, após uma advertência, para poder fugir”, explicou o secretário.

Identificação do plano

A irregularidade foi identificada durante uma fiscalização às celas, quando os agentes identificaram um dano na estrutura da grade, por onde ocorreria uma tentativa de fuga.

A produção do material que seria utilizado na fuga ocorreu de forma artesanal. A Seap afirmou que as “teresas” eram formadas com lençóis. Os apenados também utilizaram gilete, material liberado para eles fazerem a barba, na tentativa de cerrar as grades.

Para maquiar o desgaste provocado no local, os apenados teriam produzido um material a partir de acabamento da laje, arroz e feijão. “Era produzida uma massa para ocultar a violação que estava sendo feita na unidade”, afirma Florêncio.

Deu no G1