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Ignorando julgamento na ONU e acordo com a Guiana, Venezuela cria novo estado de Essequibo

 

Mesmo com julgamento em andamento na Corte Internacional de Justiça, órgão judicial máximo da ONU, a Venezuela decidiu criar o novo estado de Essequibo, zona disputada com a Guiana que representa 70% do território vizinho.

A decisão foi aprovada por unanimidade durante sessão na Assembleia Nacional, controlada pelo ditador Nicolás Maduro, nesta quinta-feira (21).

A criação do novo estado é uma prova de que o regime chavista está ignorando as conclusões do encontro entre as lideranças de seus países, o presidente guianense, Irfaan Ali, e o ditador Nicolás Maduro. Em dezembro, os lados se comprometeram a buscar uma solução pacífica para a disputa, embora tensões e dúvidas permanecessem.

À época, o ministro venezuelano das Comunicações, Freddy Ñáñez, divulgou um vídeo na rede social X com Ali e Maduro trocando um aperto de mão. Na publicação, ele escreveu que a reunião bilateral foi “bem-sucedida” e “a única forma de resolver a controvérsia territorial é o diálogo, com compreensão e respeito, livre de interferências, priorizando o bem-estar” da região.

Ainda, depois do encontro, os países divulgaram um comunicado conjunto afirmando que concordaram que “direta ou indiretamente, não ameaçarão ou usarão a força uma contra a outra sob quaisquer circunstâncias, incluindo aquelas decorrentes de qualquer disputa existente entre ambos os Estados”.

A decisão final sobre o futuro da região de Essequibo, rica em petróleo, deve ser definida pela CIJ, apesar da falta de reconhecimento da Venezuela sobre a legitimidade do órgão da ONU. O processo pode levar vários anos para ser decidido.

Na terça-feira (19), a Assembleia Nacional (AN) da Venezuela já havia aprovado, em segunda discussão, os artigos finais da Lei Orgânica de Defesa da Guiana Essequiba. Um dos artigos que passaram prevê que quem apoiar a posição de Georgetown nessa questão não poderá concorrer a cargos públicos na Venezuela, mais um sinal do autoritarismo do atual regime chavista.

Informações da Gazeta do Povo

Guerra

Reunião entre Venezuela e Guiana para abordar a questão do Essequibo ocorre nesta quinta

O primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves| Foto: EFE/Matías Martín Campaya

 

O ditador da Venezuela, Nicolas Maduro, e o presidente da Guiana, Irfaan Ali, vão se reunir nesta quinta-feira (14) em São Vicente e Granadinas para discutir a disputa pelo território de Essequibo, que se intensificou nas últimas semanas. O encontro contará com a presença de vários líderes caribenhos e representantes do Brasil e das Nações Unidas.

A reunião foi anunciada pelo governo de São Vicente e Granadinas, que afirmou que o país está “facilitando” as negociações, mas não atuará como “mediador”. O governo disse nesta quarta-feira (13) que os preparativos para o encontro estavam concluídos e que diversos representantes já estavam no país caribenho. O primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves, disse que espera que a conversa entre os dois líderes “reduza as tensões, a linguagem violenta e a escalada na região”.

A Venezuela aprovou em um referendo unilateral em 3 de dezembro a anexação de Essequibo, uma área rica em recursos naturais que corresponde a cerca de 70% do território da Guiana. O regime de Maduro também ordenou o estabelecimento de uma divisão militar perto da área disputada, sem incursões por enquanto, entre outras medidas.

A Guiana, por sua vez, rejeita qualquer negociação sobre a fronteira terrestre, que considera definida desde 1899 por um tribunal arbitral. O país defende que a disputa seja resolvida pela Corte Internacional de Justiça (CIJ), que iniciou um processo em 2018 a pedido da Guiana.

A reunião desta quinta-feira será a primeira que Ali, que assumiu cargo de presidente da Guiana em agosto de 2020, tem com o ditador venezuelano. O encontro também terá a participação do consultor de Lula, Celso Amorim, e de Courtney Ratray, chefe de gabinete do secretário-geral da ONU, António Guterres.

Deu na Gazeta do Povo

Guerra

Davi contra Golias: guerra entre Venezuela e Guiana colocaria frente a frente forças militares díspares

 

O temor sobre a possibilidade de que ocorra um conflito entre a Venezuela e a Guiana aumentou após o referendo realizado no domingo (3), no qual os venezuelanos aprovaram as questões levantadas pelo regime de Nicolás Maduro para anexar a vasta região do território de Essequibo. A região, que corresponde a cerca de 70% da Guiana, é alvo de uma disputa histórica entre os dois países, que remonta ao século 19.

O resultado do referendo, que a oposição a Maduro diz que contou com uma baixa participação da população, foi recebido como uma provocação por parte do governo da Guiana, que já havia manifestado sua oposição à consulta popular de Maduro e reafirmado sua soberania sobre a área disputada, que possui riquezas naturais como petróleo, ouro e diamantes.

Em meio ao aumento da tensão, surge a questão: como seria uma guerra entre a Venezuela e a Guiana? Uma análise das capacidades militares dos dois países revela uma enorme disparidade de forças, que poderia colocar a Guiana em uma situação de grande desvantagem.

Analistas consultados pela Gazeta do Povo apontam que em um cenário de conflito, a Venezuela sai na frente, já que sua força militar é maior e de certa forma mais bem equipada que a da Guiana. Os venezuelanos contam atualmente com cerca de 123 mil militares na ativa e 220 mil reservistas, distribuídos entre o Exército, a Marinha, a Força Aérea e a Guarda Nacional.

Segundo dados do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, veiculados pelo site Poder360, dos 123 mil militares venezuelanos na ativa, 63 mil são do Exército, 25.550 da Marinha, 11.550 da Força Aérea e 23 mil fazem parte da Guarda Nacional.

O país de Maduro também possui um arsenal de armas um pouco mais modernas, que inclui aviões de combate, navios de guerra, 173 tanques, 81 veículos blindados e sistemas de defesa antiaérea em maior quantidade.

Além disso, a Venezuela tem o apoio de países como o Irã e a Rússia, que podem ter fornecido material bélico nos últimos anos para que o país sul-americano pudesse reforçar e atualizar sua capacidade militar, sobretudo na área naval, apesar da crise econômica que enfrenta.

A Guiana, por sua vez, tem uma força de defesa bastante inferior e mais limitada, com cerca de 3.400 soldados – três mil no Exército, 200 da Marinha e 200 da Força Aérea -, que são apoiados por pequenas embarcações de patrulha e algumas aeronaves leves. A maior parte do seu equipamento militar é composto por armas não tão modernas, veículos de reconhecimento e transporte, e alguns tanques mais antigos.

Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, mestre em Geopolítica pela Universidade Nacional de Defesa de Pequim e em Ciências Militares pela Escola de Comando e Estado Maior do Exército, disse que “a Venezuela tem forças militares incomparavelmente mais bem equipadas que a Guiana” nesse momento, e que o país liderado pelo regime de Maduro conta com “forças armadas estruturadas” e com “treinamento superior”.

Gomes Filho lembrou que os guianenses possuem neste momento “apenas seis blindados Cascavel, que foram fabricados na década de 1980, pela extinta empresa brasileira Engesa e algumas poucas peças de artilharia, também muito antigas”.

Segundo Alessandro Visacro, analista de segurança e defesa, a Venezuela pode ter feito “algum esforço de modernização” nos últimos anos com a aquisição de material militar que pode ter vindo da Rússia e do Irã. No entanto, ele ressalta que a crise econômica que assola o país pode afetar a sua capacidade de sustentar por muito tempo um esforço bélico contra a Guiana, especialmente se houver a interferência de atores externos.

Ambos os analistas apontam que o terreno de Essequibo ao longo da fronteira entre os dois países também pode desempenhar um papel fundamental em um eventual conflito, já que ele é composto por florestas tropicais, montanhas e rios, que formam um ambiente desafiador para qualquer operação militar. Isso poderia indicar que a superioridade militar da Venezuela não significa que uma eventual guerra contra a Guiana poderia ser fácil ou rápida.

A vegetação densa e o clima imprevisível podem dificultar a visibilidade, a navegação e o reconhecimento, além de limitar o uso de armas pesadas e o apoio aéreo. O terreno também impõe desafios logísticos, como o abastecimento e a comunicação das tropas.

Segundo Gomes Filho, a Venezuela teria que realizar uma “operação anfíbia”, ou seja, desembarcar tropas pelo mar por conta das dificuldades impostas pela fronteira predominantemente formada por selva com a Guiana.

“Uma eventual ação militar venezuelana, muito provavelmente seria planejada projetando-se poder do mar sobre a terra, no qual a Venezuela desembarcaria tropas em algum ponto do litoral guianense”, disse ele.

Gomes Filho também afirmou que o terreno da fronteira entre os dois países “impede o deslocamento de colunas de viaturas blindadas e dificulta em muito o deslocamento de tropas a pé, assim como o envio dos suprimentos necessários para a manutenção das tropas em combate”.

Visacro disse que a fisiografia da região de Essequibo pode ser um obstáculo para as operações militares da Venezuela de grande escala, que dependem de infraestrutura logística pré-existente, como estradas, pistas de pouso e energia elétrica. Ele lembrou que a melhor forma de chegar na área disputada é passando pelo território brasileiro, o que parece improvável neste momento diante da posição do governo brasileiro de não consentir com uma invasão venezuelana.

Visacro também disse que um eventual conflito entre os dois vizinhos poderia se desenvolver por meio de operações navais, já que a disputa principal está no interesse pelas costas de Essequibo, que é onde se pode explorar o petróleo. No entanto, segundo o analista, a Venezuela poderia enfrentar problemas nas operações navais caso a Guiana conseguisse contar com o apoio militar dos EUA, por exemplo.

Segundo o analista, “militarmente”, o conflito “não é um desafio tão fácil para Venezuela, embora a capacidade militar da Guiana seja praticamente nula”.

 

Estratégia de defesa

Para tentar se defender, a Guiana poderia promover uma “guerra de resistência” contra os venezuelanos, “utilizando técnicas de guerrilha”, disse Gomes Filho. No entanto, ele apontou que, militarmente, o pequeno país sul-americano “não reúne condições” para “resistir a uma invasão venezuelana” por muito tempo.

Por sua vez, Visacro, destacou que os guianenses, por possuir um “poder político, econômico e militar” muito pequeno, deveriam adotar neste momento como “única estratégia possível” um alinhamento com atores externos.

“O mais importante deles, sem dúvida nenhuma, é os Estados Unidos, que não quer um conflito na região”, disse o analista, observando que os EUA têm sido cautelosos e discretos na sua abordagem sobre a situação de Essequibo.

Ele também mencionou a possibilidade de uma “guerra de resistência” por parte da Guiana, mas ressaltou que essa ação dependeria de vários fatores, como “condições fisiográficas, psicossociais, políticas e econômicas” da Guiana que ainda não estão muito claras.

“A única opção praticamente que a Guiana tem é apelar para o apoio externo e contar com a capacidade de força dissuasória dos EUA para evitar uma escalada do conflito”, disse Visacro.

Deu na Gazeta do Povo

 

 

 

 

Guerra

Maduro propõe criação de uma província em região disputada com a Guiana

 

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, propôs a criação de uma província na região de Essequibo, área disputada com a Guiana. A proposta foi apresentada nesta terça-feira, 5, durante uma reunião com o alto escalão do governo venezuelano.

Maduro ordenou ainda que a estatal petroleira Petróleos de Venezuela (PDVSA) conceda licenças para a exploração de petróleo, gás e minas na região. O presidente propôs “ativar de imediato o debate na Assembleia Nacional e a aprovação da lei orgânica para a criação da Guiana Essequiba”. Antes do anúncio do presidente, o chefe do comando da campanha chavista para o referendo sobre o território de Essequibo, Jorge Rodríguez, já havia afirmado que a Venezuela tomaria medidas de acordo com o mandato popular dado na consulta de domingo, quando a anexação da região em disputa com a Guiana foi aprovada de forma não vinculante.

Durante uma coletiva, ele garantiu que “as ações que serão tomadas nas próximas horas serão baseadas no mandato do povo” em favor dos direitos que a Venezuela alega ter sobre a área em questão, de quase 160 mil quilômetros quadrados, e na implementação de “um plano acelerado para o atendimento integral da população atual e futura desse território”. Rodríguez insistiu que a consulta “é vinculante”, o que significa uma incursão iminente nessa área controlada por Georgetown e o fim das competências da Corte Internacional de Justiça (CIJ) sobre o assunto, algo que não é decidido por uma consulta nacional. “Vocês vão ver, a partir de hoje à tarde. Nós vamos calar a boca deles com o caráter vinculante desse referendo, a partir de hoje à tarde, fiquem muito atentos, fiquem muito atentos ao que vai acontecer hoje à tarde”, declarou.

O território é disputado pelos países há mais de um século e está sob o controle de Guiana desde o século 19. Pelo menos 125 mil pessoas moram na região, que representa 70,4% do atual território da Guiana. Em 2015, foi descoberto a existência de petróleo na região. A Guiana, inclusive, é o país sul-americano que vem registrando crescimento nos últimos anos. Os dois países afirmam ter direito sobre o território.

Nesta segunda-feira, Maduro garantiu que seu país vai recuperar Essequibo e que busca “construir consensos”. Por outro lado, o vice-presidente da Guiana, Bharrat Jagdeo, afirmou em entrevista que está se preparando para o pior e que o governo está trabalhando com parceiros para reforçar a “a cooperação de defesa”. O ministro das Relações Exteriores guianense, Hugh Todd, disse que o país está “vigilante” após a decisão do último domingo. “Temos que permanecer sempre vigilantes. Embora não acreditemos que ele vá ordenar uma invasão, temos que ser realistas sobre o ambiente na Venezuela e o fato de que o presidente Nicolás Maduro pode fazer algo muito imprevisível”, afirmou Todd.

Nesta segunda-feira, o líder venezuelano anunciou a próxima etapa da “poderosa” disputa territorial. “Demos o primeiro passo de uma nova etapa histórica para lutar pelo que é nosso. Hoje o povo falou duro, alto e claro, e vamos começar uma nova e poderosa etapa, porque levamos o mandato do povo, levamos a voz do povo”, comentou o presidente venezuelano diante de uma multidão, minutos depois de o Conselho Nacional Eleitoral anunciar os resultados do referendo, que teve 10.554.320 votos. “Foi um dia maravilhoso, uma vitória esmagadora do ‘Sim’”, disse o líder venezuelano que tentará a reeleição em 2024.

Maduro destacou o “nível muito importante de participação do povo”, que não ficou claro, já que o CNE anunciou o número total de “votos”, sem explicar se eles correspondem ao mesmo número de eleitores ou se foi feita uma contagem de cinco votos por pessoa, correspondente ao número de perguntas respondidas por cada participante. Ele também agradeceu a alguns oponentes, incluindo o duas vezes candidato à presidência Henrique Capriles, por participarem dessas votações. “O polo contrário estava no exterior: o governo da Guiana, a ExxonMobil, o império norte-americano”, disse ele, sem dar detalhes das ações que planeja tomar agora que, como esperava, tem apoio popular para “reforçar” a defesa do país na disputa com o país vizinho.