Meio Ambiente, Política

Audiência Pública propõe ação prática para fim da “Língua Negra” em Areia Preta

Foto: João Gilberto

 

A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte debateu nesta segunda-feira (29), a problemática causada pela “Língua Negra” na Praia de Areia Preta, localizada no bairro do mesmo nome. A “Língua Negra” é uma mancha de sujeira formada pelo esgoto que corre dos bairros para Areia Preta, na região do começo da Via Costeira, na Zona Leste de Natal. Propositor da audiência, o deputado estadual Luiz Eduardo (SDD), abriu os trabalhos lamentando a ausência de um representante do Instituto de Defesa do Meio Ambiente (Idema).

“Estamos tratando de um problema de saúde pública, social e econômico, visto que esse Estado depende e muito do turismo. É inadmissível que Natal ainda esteja passando por isso, sendo que há recursos e tecnologia para solucionar o problema”, disse.

Representando o Ministério Público, a promotora do Meio Ambiente, Gilka da Mata, fez uma apresentação da atual situação, que não envolve apenas Areia Preta e sim todo o seu entorno, como é o caso do Bairro de Mãe Luiza. Ela destacou que, o órgão entende que a execução do plano estratégico de fiscalização para monitoramento e combate a ligações clandestinas de efluentes domésticos na rede pública de drenagem no bairro de Mãe Luiza, feito pela prefeitura, não está sendo suficientemente realizada.

“Estamos pedindo, judicialmente, que a prefeitura comprove a execução de atividades de fiscalização existentes no plano estratégico de fiscalização para monitoramento a ligações clandestinas de efluentes domésticos na rede pública de drenagem no Bairro de Mãe Luiza”, resumiu.

Para o secretário adjunto da Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), Francisco Auricélio de Oliveira, a questão é ampla e passa por saneamento, esgotamento sanitário e rede de águas pluviais, além da educação sanitária da população do entorno da praia. “Temos um problema que interessa a toda sociedade e que só vai ser resolvido se todos os órgãos se juntarem em busca da solução, que passa diretamente pela educação ambiental da população, pela revisão de todas essas ligações e ao final pelo processo de balneabilidade da praia”, resumiu.

A vereadora de Natal, Camila Araújo (União), destacou que a “língua negra” não é uma peculiaridade só de Natal, mas de muitas cidades litorâneas. “Enviamos um requerimento ao poder municipal solicitando um relatório de tudo o que está sendo feito para criando uma legislação que ajude a resolver esse problema”, informou.

O presidente da Associação dos Moradores de Areia Preta e Miami de Natal (Amap), Delcindo Mascena, destacou em sua fala, a necessidade de acreditar que, mesmo depois de tanto tempo, o problema vai ser solucionado. “Precisamos acreditar que um dia as coisas podem mudar. É preciso força de vontade, união e dar ao tema a importância que ele merece. Nós somos fortes quando estamos juntos. Comunidade, órgão competentes, deputados, vereadores, prefeito e quem mais interessar. Não tenho dúvidas que encontraremos o que tem que ser resolvido para que essa “língua negra” deixe de existir”, ressaltou.

Além da preocupação com as áreas da saúde e ambiental, a econômica também foi abordada pelo coordenador de relações institucionais da Fecomércio, Flawbert Benício, que trouxe os números gerados pelo setor do turismo no RN. “Estamos falando de 33 mil empresas, que geram mais de 65 mil empregos e que acabam sendo impactadas por uma causa como essa. O RN tem um grande potencial na área do turismo, o que nos obriga a olhar com atenção para equipamentos como as nossas praias, visto que pesquisas comprovam que cerca de 90% dos turistas que nos visitam passam por nossas praias”, destacou.

Everton Rafael, chefe de operação e manutenção da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern), falou sobre o que a empresa tem feito para minimizar os problemas operacionais na região. “A companhia tem seguido as orientações do Ministério Público e tratado o assunto com a importância que merece e não medimos esforços para que esse problema seja resolvido o mais breve possível”, disse.

No final da audiência púbica o deputado Luiz Eduardo propôs a realização de uma audiência conjunta entre a Assembleia Legislativa, Câmara Municipal de Natal, órgãos competentes, Amap, iniciativa privada e a sociedade civil organizada da região. “Seria uma grande oportunidade para darmos visibilidade ao tema e promoção da zeladoria da praia. Paralelo a isso poderíamos provocar uma ação com atividades lúdicas, limpeza de terrenos e de boca de lobo, sorteio de brindes, instalação de lixeiras, entre outros. Em seguida cada órgão produziria um levantamento ou relatório com o objetivo de discutir os encaminhamentos. No final juntava tudo em um só documento com as sugestões para a solução do problema”.

Já o Ministério Público solicitou que a Caern, oficialmente, comunique ao órgão se haverá condições de atender ao bairro de Mãe Luiza e em que prazo isso ocorrer e, concomitantemente, que o município refaça a visitação das residências. “Assim teremos número real de imóveis que hoje se encontra irregulares e com isso sairemos do discurso e partiríamos para a extinção da língua negra na Praia de Areia Preta”, finalizou.

Areia Preta – Foi a primeira praia de Natal, a ser oficializada, como lugar de banho, ou balneário público dos natalenses. Areia Preta foi elevada à categoria de praia oficial da cidade através da Resolução 115 de 18 de janeiro de 1908. O nome Areia Preta é uma referência as falésias, ali encontradas. A Lei nº 4.328 oficializou este bairro.

Notícias

Com valor de até US$ 10 bi por ano, Lula deve negociar ‘licença para poluir’ com a China

Com valor de até US$ 10 bi por ano, Lula deve negociar ‘licença para poluir’ com a China

 

Quando finalmente se encontrar com o presidente chinês Xi Jinping em Pequim, o mandatário brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva deve tentar convencer a China a comprar o equivalente a até US$ 10 bilhões (ou R$ 51 bilhões) por ano em créditos de carbono gerados pelo Brasil. O gás carbônico é um dos gases responsáveis pelo aquecimento global.

Créditos de carbono são um mecanismo criado pelo Protocolo de Kyoto, em 1997, pelo qual países que emitem menos gás carbônico na atmosfera do que suas metas recebem créditos que podem vender a outros países com dificuldade em reduzir sua própria poluição. Na prática, é como se a China comprasse do Brasil uma espécie de licença para poluir um dado limite adicional à sua própria meta original de emissões.

A negociação entre Brasil e China se dá em um contexto no qual a pauta ambiental tornou-se uma prioridade na agenda internacional do novo governo Lula. Nos últimos anos, o Brasil viu sua taxa de emissões ultrapassar mais de 30% a meta estabelecida no Acordo de Paris e se tornou o quinto maior poluidor do mundo, atrás apenas de China (1o), EUA (2o), Índia (3o) e Rússia (4o). Mas diferentemente dos demais países na lista – cujas emissões são geradas por uso de combustível fóssil para energia, no Brasil, o desmatamento é responsável por cerca de metade do carbono liberado na atmosfera.

Ao mesmo tempo em que promete zerar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030 – o que derrubaria os índices de carbono brasileiros, Lula já demonstrou frustração por não ver os instrumentos criados nos fóruns multilaterais, como um mercado internacional de carbono, serem implementados.

“Uma das agendas do presidente Lula é o comércio de carbono entre os dois países. Essa relação de ‘parceria estratégica’ com a China deve gerar oportunidades como um acordo de enfrentamento da crise climática em que a China, que tem as maiores emissões, possa se juntar com o Brasil, país que tem a maior biodiversidade e nesta junção criarem o maior mercado de carbono do mundo, fundamental para esta transição para um modelo de produção e consumo descarbonizado”, afirmou, em Xangai, Jorge Viana, ex-senador e atual presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil).

Após o cancelamento de sua viagem a Pequim por causa de uma pneumonia, o presidente brasileiro tenta remarcar a agenda com Xi Jinping para a primeira quinzena de abril. Partiu da diplomacia brasileira a iniciativa de incluir as mudanças climáticas como um dos temas centrais da reunião bilateral e há a perspectiva de criação de um inédito mecanismo ambiental bilateral de cooperação entre Brasil e China nos moldes daqueles já estabelecidos pelos brasileiros com os europeus.

“O Brasil tem hoje a oportunidade de trazer US$ 10 bilhões anualmente com a criação de um mercado regulado internacional de carbono. O Brasil presta serviços biossistêmicos para o mundo”, afirmou Pablo Machado, diretor-executivo da Suzano na China. Com o plantio de 1,2 milhão de mudas de árvores por dia, a empresa brasileira de celulose é superavitária em carbono e poderia se beneficiar da criação de um mercado internacional de créditos. Machado, no entanto, se recusou a estimar o tamanho dos ganhos da Suzano porque a empresa é listada em bolsa.

A companhia acaba de inaugurar um laboratório de inovação em Xangai. A China compra atualmente 45% de toda a produção de celulose de eucalipto da Suzano.

Créditos: BBC.