Política

Governo vai atender o RS no limite do necessário, diz Ceron

Foto: Divulgação

O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, disse que o governo federal vai apoiar o Rio Grande do Sul “no exato limite do que for necessário”. Segundo ele, as ações serão ajustadas para não haver exageros ou ineficiências. “Nós vamos fazer com que o Estado seja reconstruído e possa seguir em frente, adaptado a essa nova realidade de eventos climáticos extremos. Com inteligência, com medidas que sejam racionais e atinjam o objetivo de forma mais eficiente possível, sem ter excessos ou desperdícios nesse processo”, afirmou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, publicada nesta 6ª feira.

Ceron disse que o governo fez um “pacote importante para a retomada da indústria, comércio, serviços, as demais áreas” e agora vai “partir para o atendimento das famílias”. Ele declarou: “Estamos tomando todas as medidas necessárias. O agro foi atendido nesse 1º momento. Podemos até avaliar depois se faltou recurso ou não, de acordo com a demanda que for surgindo”.

O secretário do Tesouro afirmou que “as estimativas sobre atividade econômica devem ser lidas com cuidado”. Segundo ele, as iniciativas do governo federal para o Estado devem dar “um estímulo de mais de 10%” do PIB (Produto Interno Bruto) do Rio Grande do Sul.  “Com esses estímulos, vai ter uma recuperação muito rápida. Tem uma paralisia momentânea. Quando retomar, vai ter infraestrutura e construção com crescimento forte, e o agro fazendo seus investimentos”, declarou.

“O que tende a acontecer é voltar com uma atividade econômica muito forte no segundo semestre. Daqui a pouco vai ser até um problema também de excesso de estímulos. Estamos fazendo bem controlado, para ter racionalidade”, completou.

Deu no Poder360

Tragédia

TCU cobra do governo plano nacional para prevenir tragédias em desastres naturais há 10 anos

Foto: Gustavo Mansur / Palácio Piratini

As enchentes que cobriram a maior parte do Rio Grande do Sul, e as dificuldades do poder público para prover resposta rápida para moradores das cidades afetadas pelas inundações reavivaram o debate sobre a necessidade de implementar um plano nacional de defesa civil. Há pelo menos 10 anos, o Tribunal de Contas da União (TCU), órgão de fiscalização, cobra do Executivo federal a elaboração de um documento com diretrizes, metas e adoção de medidas concretas para minimizar danos de desastres naturais em todo o país. Até hoje, o plano não foi editado, e a promessa mais recente, agora, é de que saia até o final de junho.

A fiscalização mais abrangente realizada pelo TCU ocorreu entre 2018 e 2020, quando os auditores do órgão verificaram uma dezena de problemas na aplicação de recursos para prevenção de desastres, na articulação com estados e municípios para identificar riscos, se preparar e responder às catástrofes, além de irregularidades nos gastos já realizados.

No final dessa auditoria, concluída em fevereiro de 2020, os ministros do TCU concordaram em determinar que o Ministério do Desenvolvimento Regional instituísse, em até 6 meses, um Plano Nacional de Proteção e Defesa Civil, medida que já estava prevista numa lei de 2012 que estabeleceu uma política para a área em todo o país, mas que nunca foi implementada por falta de regulamentação em decretos, portarias e uma infinidade de medidas burocráticas. Mas, antes de 2020, o TCU já havia cobrado, em decisões de 2014 e 2016, a elaboração do plano.

A medida mais concreta, em âmbito normativo, foi a edição de um decreto, assinado pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL), em dezembro de 2020, com a criação de um “sistema”, que definia como órgãos federais, estaduais e municipais, além de entidades civis e privadas, deveriam trabalhar em conjunto em situações de desastres. No próprio decreto, o governo se comprometia a elaborar o plano em até 30 meses – ou seja, até meados de 2023.

Em novembro do ano passado, sem um plano pronto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um novo decreto, jogando o prazo final para novembro deste ano. Apesar disso, no final de abril, o atual ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, prometeu, numa audiência realizada na Câmara dos Deputados, lançar o plano em junho.

Na reunião com os parlamentares, ele adiantou alguns pontos do documento, elaborado com apoio de universidades, técnicos de defesa civil e entidades interessadas, que contempla cinco eixos: prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação.

O plano, segundo o ministro, tem 23 objetivos, cada um com metas e indicadores de cumprimento. Identificaram-se as 11 ameaças mais comuns no país, incluindo inundações, granizo, vendavais, tornado, seca, erosão, deslizamento de terra, incêndios florestais e ondas de calor ou de frio. Os riscos passarão a ser medidos não apenas com base no número de mortes já registradas nesses eventos nos locais atingidos, mas também os danos financeiros provocados. Os prognósticos de eventos futuros devem levar em conta dados Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e será implementado um Indicador de Capacidade Municipal (ICM), para medir a vulnerabilidade das cidades.

“Os eventos extremos não vão diminuir. Nós é que temos de nos preparar para nos adaptar, criar resiliência para lidar melhor com a situação e diminuir as condições de risco em que as pessoas vivem. Nós não temos a cultura de contingência – essa é uma verdade – e esperamos tê-la a partir deste primeiro plano”, disse, na ocasião, Waldez Góes, conforme registro da Agência Câmara.

67 alertas ao RS foram emitidos antes de enxurradas e risco era conhecido há um ano.

O que a fiscalização do TCU verificou

A auditoria do TCU concluída em 2020 identificou 10 problemas, aqui sintetizados:

falta de critérios técnicos na alocação de recursos e seleção de projetos para prevenção de desastres;

falta de definição clara dos papéis dos Ministérios da Integração Nacional e das Cidades, depois fundidos no Ministério do Desenvolvimento Regional;

destinação de recursos para áreas menos necessitadas, além de favorecimento de alguns estados, sem atendimento à impessoalidade, moralidade e eficiência;

falta de definição clara dos papéis dos órgãos envolvidos nas ações de prevenção;

deficiências na estruturação e atuação de órgãos municipais de defesa civil, por falta de preparo;

falhas nos processos de transferência de recursos, com “elevado índice de irregularidades”;

falta de qualificação técnica dos servidores de estados e municípios;

liberação de recursos sem prévia análise dos projetos e custos envolvidos, com execução de obras com projetos deficientes e mesmo sem projeto básico;

fragilidade nos controles exercidos pelos municípios ou estados que recebem recursos federais e pelo próprio Ministério; e

falhas na apresentação e análise das prestações de contas dos recursos.

Na época, o ministro Augusto Nardes, relator da auditoria no TCU, verificou que, entre 2012 e 2019, o governo federal havia autorizado gastos de R$ 23 bilhões na área, mas R$ 16 bilhões (70%) haviam sido empenhados, ou seja, comprometido mediante contratações.

Atualmente, o TCU possui um painel com dados mais atualizados, que contabiliza – desde 2012 – R$ 36,3 bilhões em gastos autorizados no Orçamento, R$ 26,5 bi empenhados (73%) e R$ 22 bilhões efetivamente pagos (60%), seja pelo próprio governo federal ou pelos demais entes.

Do total empenhado, a maior parte, R$ 17,4 bi (65%), é para ações de resposta (socorro e assistência à população vitimada) e recuperação (que visam estabelecer situação de normalidade, como a reconstrução de pontes e infraestruturas danificadas).

Apenas R$ 8,37 bilhões (31,5%) foi empenhado para ações de prevenção, que incluem obras de contenção de encostas e mitigação de riscos causados pelas águas.

Valores empenhados no RS nos últimos 12 anos

No Rio Grande do Sul, os valores empenhados, nos últimos 12 anos, alcançaram R$ 869,7 milhões, sendo R$ 640 milhões (73%) para resposta e recuperação, e 230 milhões (27%) para recuperação das edificações danificadas.

Entre as obras de prevenção mais vultosas no estado estão:

a canalização da vala da Curitiba e estação de bombeamento em Canoas (com custo total de R$ 2,7 bilhões, com R$ 61 milhões do governo federal já transferidos);

ampliação do sistema de macrodrenagem da bacia do Arroio da Areia com implantação de reservatórios de detenção, em Poro Alegre (custo total de R$ 2,1 bi, e R$ 55 milhões federais pagos);

ampliação das estações elevatórias do sistema de drenagem de Porto Alegre (custo total de R$ 487,5 milhões, e R$ 9 milhões do governo federal transferidos).

Facilitação de aportes federais

Na semana passada, o TCU anunciou a abertura de três novos procedimentos para acompanhar e facilitar os investimentos na resposta ao desastre causado pelas chuvas e reconstrução das cidades afetadas. O Programa Recupera Rio Grande do Sul busca dar transparência para as despesas e reduzir a burocracia.

Um dos processos vai analisar as contratações em geral e as obras de infraestrutura; o segundo vai avaliar a conformidade das medidas adotadas pelo governo federal às normas de finanças públicas e seus impactos fiscais; e o terceiro diz respeito aos recursos aplicados para as atividades de Defesa Civil no estado.

Na semana passada, o governo federal anunciou um pacote de R$ 51 bilhões para o Rio Grande do Sul. São 12 medidas, que incluem:

pagamentos antecipados de Bolsa Família, auxílio-gás e BPC, abono salarial e da restituição do Imposto de Renda para cidadãos;

duas parcelas extras do seguro-desemprego para quem já estava recebendo o benefício, o que deverá contemplar 140 mil pessoas;

prorrogação de prazos, em pelo menos três meses, para que donos de empresas recolham tributos federais e do Simples Nacional;

R$ 6 bilhões para concessão de créditos por meio de programas federais e para descontos em juros de empréstimos já realizados;

dispensa de certidão negativa de débitos, para empresas e produtores rurais terem acesso facilitado a créditos em bancos e instituições financeiras.

Nesta segunda-feira (13), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou um projeto de lei para suspender, por três anos, o pagamento da dívida do Rio Grande do Sul com a União. Será adiada a cobrança de R$ 11 bilhões da dívida e perdoados R$ 12 bilhões dos juros.

Deu na Gazeta do Povo

 

 

Tragédia

Governo pode suspender dívida do RS por até 2 anos, mas sob garantias

Foto: André Borges/EFE

O ministro Fernando Haddad, da Fazenda, deve chegar a um acordo com o governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB-RS), nesta segunda (13), para que o pagamento da dívida bilionária do estado com a União seja suspensa por até dois anos.

Este é um dos pontos do acordo que será discutido à tarde durante uma reunião virtual de Leite com Haddad para tratar da situação do Rio Grande do Sul, que enfrenta uma grave crise de calamidade pública por causa das enchentes da última semana e que perduram nesta segunda (13). Ainda não há um horário confirmado, mas a expectativa é de que ocorra do meio para o final da tarde.

Até o começo desta manhã, havia a previsão de que Leite viajaria a Brasília participar presencialmente da reunião. No entanto, por volta das 7h30, ele informou a imprensa de que não se deslocaria mais à capital por conta da previsão de agravamento da situação no estado.

O Rio Grande do Sul tem uma dívida de cerca de R$ 90 bilhões e discutia com o governo um acordo para reduzir os juros dos pagamentos. Com o desastre da última semana, Haddad dará um tratamento diferente ao estado.

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No entanto, o governo exigirá garantias de Leite para que o dinheiro que seria usado para pagar as parcelas destes 18 a 24 meses seja aplicado em ações de reconstrução do estado. São, pelo menos, R$ 8 bilhões segundo a Secretaria de Estado da Fazenda do RS.

Dados preliminares da secretaria apontam que a economia gaúcha pode ter tido uma quebra de 20% por causa das enchentes.

Apesar da expectativa de se suspender os pagamentos por até dois anos, o vice-governador Gabriel Souza (MDB) pediu que o período seja até o final de 2026, pelo menos.

“Para reconstruir o estado precisamos de recursos do próprio estado. E hoje, os recursos do estado estão absorvidos por dívidas contraídas durante décadas no passado, entre as quais a dívida com a União. […] Precisamos muito que haja uma folga no pagamento com a União pelo menos até o final deste mandato, pois temos que planejar as obras”, pontuou em entrevista à GloboNews.

Havia a previsão de que Leite também teria uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o que não foi confirmado pela Secom na agenda oficial até às 7h20. O presidente se reúne com Haddad e o ministro Rui Costa, da Casa Civil, às 9h, para discutir a situação do Rio Grande do Sul.

Há, ainda, a expectativa de uma reunião virtual de Leite com o ministro Silvio Costa Filho, de Portos e Aeroportos, para traçar um plano aéreo para suprir a demanda do Aeroporto Internacional de Porto Alegre, que está completamente alagado e inoperante pelo menos até o final do mês.

O acordo, se concretizado, deve ser anunciado também no final da tarde pelo governo. E, para terça (14), está previso mais um anúncio de medidas de apoio voltadas à população gaúcha.

O final de semana foi chuvoso no estado e uma nova cheia recorde está prevista para o Lago Guaíba – que banha Porto Alegre e parte da região metropolitana – entre esta segunda (13) e terça (14), superando até mesmo o pico de 5,30 metro da semana passada. A projeção da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) aponta a possibilidade do nível chegar a 5,50 metro.

Segundo o boletim mais recente da Defesa Civil gaúcha, divulgado na noite de domingo (12), o estado tem 618 mil pessoas desabrigadas e 447 municípios atingidos.

As chuvas seguidas por enchentes vitimaram 145 pessoas e ainda há 132 desaparecidos. 806 ficaram feridas. Ao todo, 2,1 milhões de pessoas foram afetadas. Destas, 81,2 mil estão em abrigos públicos e 538,7 mil nas casas de parentes.

Deu na Gazeta do Povo

Tragédia

Entenda as falhas do sistema antienchente de Porto Alegre

Foto: Divulgação

Depois da enchente histórica que destruiu Porto Alegre (RS) em 1941 e de outra em 1967, a cidade se preparou para proteger-se das inundações. Na década de 1970, foi inaugurado o sistema de contenção das cheias dos rios Guaíba e Gravataí. Mais de 5 décadas depois, o descaso com a falta de manutenção e de investimentos fez com que o sistema ficasse vulnerável e não funcionasse como deveria.

O sistema havia sido projetado para suportar que o nível das águas suba até 6 metros. No entanto, o sucateamento causado pela falta de atenção para a necessidade de cuidar do sistema ao longo de sucessivas gestões municipais e estaduais fez com que o rio invadisse a cidade antes, em 3 de maio, quando a cota chegou a 4,5 metros. Dentre os problemas, há brechas de até 10 cm entre as portas e o muro, motores de comportas que foram roubados e nunca repostos, e bombas que não funcionaram.

O sistema de comportas foi reformado em 2012, assim como o muro da av. Mauá. Ganharam equipamentos que permitiriam a abertura e fechamento de forma mecanizada. De lá para cá, no entanto, a maioria dos motores foi roubada e os demais não tiveram a manutenção adequada e estão sem funcionar.

Atualmente, o fechamento precisa ser feito de forma manual por retroescavadeiras, que empurram ou içam as comportas. Algumas delas podem ser movidas pelos próprios trabalhadores, com auxílio de cordas. E pior: em nenhuma delas não há uma vedação completa entre as comportas e os muros.

Em alguns casos, há brechas que chegam a ter 10 centímetros, por onde a água vaza. O problema é tamanho que a prefeitura, depois de fechar as comportas, precisou recorrer a uma solução medieval e colocou sacos de areia atrás e na frente dos portões de aço para auxiliar na vedação. A solução, porém, se provou 100% ineficiente.

“As comportas não são 100% vedadas. Há frestas que permitem a entrada de água. E uma das provas é o uso dos sacos de areia. Essas estruturas deveriam ser autônomas e herméticas. Saco de areia só se usa para conter a água quando é emergencial e não tem outra opção. É uma alternativa para quando não existe um sistema de contenção”, afirma o professor UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Fernando Dornelles, que é engenheiro civil e doutor em recursos hídricos e saneamento ambiental.

No caso das unidades de bombeamento, a estrutura existente também se mostrou falha. Das 23 bombas que são responsáveis por escoar a água de volta para o rio, só 4 funcionaram efetivamente.  As bombas drenam água de dentro da área protegida para fora através de galerias. O professor Dornelles diz que com a pressão nas galerias e o alto nível do rio, a água faz força para voltar por esses dutos. Essas galerias contam com locais para inspeção cujas tampas se mostraram fracas e não contiveram a pressão, permitindo vazamentos.

“A situação ficou similar a um barco furado que está entrando água por todos os lados e você tenta jogar a água para fora com canequinhas. Ia entrando mais água do que era possível tirar”, explicou Dornelles. Isso provocou a inundação das estações. E com a água atingindo a parte elétrica das bombas, elas precisaram ser desligadas por risco de choque. Essa foi a principal causa do início dos alagamentos na capital: enquanto as comportas ainda conseguiam reter parcialmente a água, as casas de bomba passaram a jorrar água do rio dentro da cidade.

COMO FUNCIONA O SISTEMA

A proteção consiste em uma obra que inclui um muro de concreto armado de 2,65 km de extensão, localizado na avenida Mauá, e 14 comportas de aço –metade delas ao longo do muro. Existem ainda 23 casas de bomba, que têm a função de bombear a água que poderia invadir a cidade pelos bueiros de volta para o rio.

O sistema também inclui 68 km de diques de terra, que são uma espécie de barreira. Desses, 24 km são elevações que separam o rio de vias importantes da cidade, como a rodovia BR-290 (conhecida como FreeWay), a avenida Castelo Branco e a avenida Beira Rio. Há outros 44 km de diques internos, às margens dos arroios que atravessam a cidade.

A estrutura foi insuficiente para proteger a capital gaúcha das chuvas fortes. O Poder360 apurou que a água driblou o sistema de 3 formas diferentes: vazamento em comportas – falta de vedação fez a água vazar pelas frestas laterais e por debaixo das estruturas de aço. Uma delas colapsou; falhas nas bombas – a maioria das estações de bombeamento não conseguiu se contrapor à força da água; as bombas ficaram submersas e precisaram ser desligadas por risco de choque elétrico;

Extravasamento de diques – a água passou por cima dos barramentos de terra, como no dique do bairro Sarandi, onde há risco de a estrutura se romper. A intensidade das chuvas em maio colocou o sistema à prova e mostrou pontos vulneráveis que deveriam ser corrigidos, segundo explica o professor Fernando Dornelles.

“O fato é que os pontos vulneráveis, que são as partes móveis (comportas e casas de bomba) não impediram a água de entrar. Isso foi uma falha. Saber exatamente por que elas falharam é uma investigação que precisa ser feita. Será que se sabia disso? Foi negligência? Quem operava não pensou na hipótese do Guaíba subir 4 metros e como que responderia?”, afirmou.

As comportas de aço do sistema foram fechadas quando a água do Guaíba começou a subir. Das 14 existentes, 3 apresentaram falhas mais graves como vazamentos. Uma delas, a de número 14, se rompeu. A força das águas também levou parte da rodovia que passa por cima da estrutura.

PREFEITURA FOI ALERTADA DE PROBLEMAS NO SISTEMA

O Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), órgão do governo federal, havia emitido um alerta sobre o risco de um possível desastre no Rio Grande do Sul em 30 de abril, quase uma semana antes da 1ª morte pelas fortes chuvas no Estado.

O órgão de monitoramento também divulgou uma nota técnica em 5 de maio afirmando que faltou “resiliência” das estruturas hidráulicas, que são as comportas e bombas de sucção. No entanto, o relatório não menciona a falta de manutenção do sistema. Eis a íntegra da nota técnica (PDF – 131 kB). O Cemaden afirmou que as estruturas móveis do sistema foram “subdimensionadas” e que, para seu funcionamento, “não se consideraram que os volumes de chuvas”. Na nota, o órgão diz ainda que “os desastres gerados por chuvas intensas são consequência de atividades humanas”.

O professor Fernando Dornelles afirma que o sistema de proteção contra as cheias de Porto Alegre não ficou obsoleto ou precisa ser descartado. Mas necessita, sim, ter suas falhas corrigidas e ser aprimorado. “O sistema foi bem dimensionado lá atrás quando foi projetado. Agora é preciso executar um projeto de vedação para que essas comportas sejam autônomas, evitando vazamentos. E ter um cuidado com as casas de bomba, sabendo que aquela galeria de descarga vai trabalhar com uma pressão enorme durante as cheias, e garantir que tenham tampas de vedação espessas”, afirma.

O professor diz ainda que, para o futuro, será preciso pensar em um reforço e alteamento dos diques, elevando o nível. E verificar se os diques existentes de fato estão na cota correta para conter as águas em um nível de até 6 metros. Serão esforços necessários para evitar que tragédias como essa se repitam.

DESASTRE ERA PREVISÍVEL, MAS FALTARAM INVESTIMENTOS Investimentos poderiam ter sido feitos para tornar a estrutura mais resiliente. Segundo dados da própria Prefeitura de Porto Alegre, a gestão não investiu nenhum centavo no sistema antienchente em 2023. Desde 2022, o valor destinado a melhorias das estruturas vinha caindo.

Em 2021, foi investido R$ 1,8 milhão no sistema antienchente. O número caiu para R$ 141,9 mil em 2022. No último ano, o valor ficou zerado. A ausência de investimentos aconteceu no mesmo ano em que chuvas fortes atingiram o Rio Grande do Sul, inclusive Porto Alegre, que chegou a fechar suas comportas. Tudo isso quando especialistas já alertavam para a possibilidade de novos fenômenos como o de 1941 se repetirem por causa das mudanças climáticas.

Em maio de 2021, quando a histórica enchente completou 80 anos, o geógrafo climatologista Pedro Valente, pesquisador do Centro Polar e Climático da UFRGS, disse em entrevista ao Jornal do Comércio que anomalias climáticas como aquela poderiam voltar a acontecer. Valente explicou na ocasião que para ocorrer um evento desse porte é necessária uma combinação de fatores para além do volume de chuvas, como também anomalias no regime de ventos. O risco seria maior justamente nos períodos de El Niño.

“O Rio Grande do Sul como um todo está numa região geográfica que sofre influência das forçantes tropicais e polares. E essa interação no oceano e na atmosfera é influenciada pelas mudanças climáticas. Antes, fortes chuvas que ocorriam a cada 5 anos, atualmente ocorrem a cada 2 e meio […] O intervalo de ocorrência desses eventos extremos tende a ser cada vez menor”, afirmou o especialista na época.

O QUE DIZ A PREFEITURA DE PORTO ALEGRE

O Poder360 procurou a prefeitura de Porto Alegre por meio do Dmae (Departamento Municipal de Águas e Esgotos), que é o responsável pelo sistema contra as cheias. No entanto, não houve resposta até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.

Deu no Poder360

Tragédia

RS cria canal para doações nacionais de cargas acima de uma tonelada

Foto: Divulgação

“O nosso pedido é para que toda solidariedade seja destinada por esse canal, pelo qual nossas equipes farão o encaminhamento conforme as demandas de cada região, de forma estratégica e efetiva para contemplar as necessidades urgentes e dar todo suporte humanitário aos municípios gaúchos”, disse Gabriel. Conforme o governo estadual, os doadores precisam ter condições de transportar a carga até o destino final, que será informado na hora da doação.

Na sequência, um setor de planejamento e inteligência vai organizar a armazenagem e os envios, com o apoio de voluntários para separação de itens e montagem de kits. As doações, então, serão encaminhadas à operação de frota para carregamento e distribuição nos centros regionais.  Para as doações que contemplem cargas abaixo de uma tonelada, as informações estão no site sosenchentes.rs.gov.br.

ENCHENTES

O número de mortos por conta das chuvas no Rio Grande do Sul chegou a 145. A Defesa Civil do Estado atualizou na noite de domingo (12.mai.2024) o boletim que havia sido divulgado às 18h e indicava 143 mortes. São 538.743 desalojados, 132 desaparecidos e 806 feridos. Ao todo, 2,1 milhões de pessoas e 447 municípios foram afetados. O Estado conta ainda com 81.200 pessoas em abrigos.

 

ALERTAS

Para receber os alertas meteorológicos da Defesa Civil do Rio Grande do Sul, basta enviar o CEP do local por mensagem de texto para o número 40199. No WhatsApp, é possível clicar aqui ou registrar o número (61) 2034-4611 como contato. Em seguida, é necessário enviar uma mensagem, como um “Oi”. Depois da 1ª interação, o usuário pode compartilhar a localização atual ou qualquer outra do seu interesse para receber os alertas meteorológicos.

Deu no Poder360

Tragédia

Mais de 100 mil casas foram destruídas ou danificadas pela chuva no RS; prejuízo é de R$ 4,5 bi

Foto: Gustavo Mansur

Cerca de 101 mil casas já foram destruídas ou danificadas pelas fortes chuvas que há dias assolam o Rio Grande do Sul, segundo estimativa da Confederação Nacional de Municípios (CNM). Até o momento, o desastre climático afetou 447 dos 497 municípios gaúchos.

O desastre climático resultou em 143 mortes, conforme o boletim mais recente divulgado pela Defesa Civil do Estado. Além disso, há 125 desaparecidos e 806 feridos. Mais de 2,1 milhões de pessoas foram afetadas pelas chuvas no Rio Grande do Sul.

Entre as residências que sofreram avarias, 92,6 mil estão danificadas e outras 8,4 mil, destruídas. A CNM estima que as chuvas causaram, até aqui, R$ 8,4 bilhões em prejuízos financeiros ao Rio Grande do Sul, sendo mais da metade na área da habitação (R$ 4,5 bilhões).

Os dados, ainda assim, podem estar subnotificados, na medida em que as cidades afetadas concentram seus esforços neste momento nos resgates e no acolhimento das famílias afetadas. Além de buscar alertar a população sobre como proceder diante da iminência de novos alagamentos.

Na tarde deste domingo, 12, por exemplo, a prefeitura de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, emitiu um alerta solicitando a evacuação de moradores em seis bairros da cidade por risco de alagamento: Rio Branco, Fátima, Mato Grande, Harmonia, Mathias Velho e São Luis. “As águas retornarão”, disse o prefeito Jairo Jorge.

A CNM destaca que, dos 447 municípios afetados, apenas 62 começaram a inserir valores sobre prejuízos no Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD), do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional. O montante de R$ 8,4 bilhões, desse modo, diz respeito a apenas uma parcela das cidades.

As 143 mortes registradas até o momento também fazem parte de um balanço parcial, que provavelmente vai aumentar. Conforme a Defesa Civil, há 806 feridos e 131 desaparecidos, mas até mesmo esse número pode ser até maior.

A Confederação Nacional de Municípios afirmou que, de acordo com os dados inseridos pelos municípios no S2iD, há 815 desaparecidos, concentrados principalmente em quatro cidades gaúchas: Eldorado do Sul (300), Gramado Xavier (164), Candelária (120) e Canoas (114).

Estadão Conteúdo

Tragédia

Lagoa dos Patos inunda bairros e RS tem mais de 400 mil pessoas fora de casa por causa das chuvas

Foto: Richard Furtado/Prefeitura de Rio Grande

Mais de 400 mil gaúchos estão fora de casa afetados pela maior tragédia climática do Estado. Nesta sexta-feira, 10, a Defesa Civil divulgou que 337.346 pessoas estão desalojadas e outras 70.772 em abrigos. O aumento na quantidade de afetados pelas enchentes ocorre em um momento de elevação do nível da Lagoa dos Patos e queda de temperatura no Estado.

A Defesa Civil emitiu na noite desta quinta-feira um alerta com a orientação para quem mora em regiões próximas à lagoa, ou em áreas com histórico de alagamentos ou inundações, para que saiam de suas casas com antecedência e busquem um local seguro. No município de Rio Grande, por exemplo, vários bairros estão inundados. As principais ruas do entorno do centro histórico estão bloqueadas.

O nível da lagoa vem aumentando nos últimos dias e chegou a 1,84m às 16h de quinta-feira em Rio Grande, de acordo com os registros do Serviço Geológico do Brasil.

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) em conjunto com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) também emitiram na quinta-feira uma nota técnica na qual alertam sobre os riscos geo-hidrológicos, sobretudo na região da Lagoa dos Patos, que recebe as águas dos rios e do Guaíba.

De acordo com os órgãos, o avanço de uma frente por Santa Catarina e a entrada de um ar mais frio pelo Rio Grande do Sul provocaram queda de temperatura no Estado e uma virada dos ventos “desfavorecendo o escoamento da água da lagoa em direção ao oceano, desta forma, a preparação dos municípios para inundação gradual na região de Pelotas, Rio Grande e arredores deve ser redobrada.”

Ainda segundo o Inmet, as temperaturas mínimas variam de 4°C a 8°C nas regiões mais ao Sul do Estado. Nas demais áreas, as temperaturas mínimas variam de 10°C a 15°C. O frio é considerado um problema adicional em meio à tragédia climática por causa do risco de hipotermia às pessoas que ainda não foram resgatadas.

Deu no Estadão

Tragédia

Governo gaúcho e Prefeitura de Porto Alegre reduziram gasto com defesa civil

 

Foto: Divulgação

O governo do Rio Grande do Sul diminuiu em 8% os gastos com defesa civil em 2023 na comparação com 2022. A Prefeitura de Porto Alegre reduziu em 68%. Chuvas que atingem 401 das 497 cidades do Estado desde 28 de abril de 2024 já causaram pelo menos 95 mortes. Os gastos totais dos governos do Estado e das cidades com defesa civil em 2023 foram de R$ 598 milhões. Ficaram 0,6% acima de 2022. A variação foi abaixo da inflação de 5,8% do ano.

Ações de defesa civil têm foco na prevenção de catástrofe e atendimento de emergências. Os dados são do Siconfi (Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro) do Tesouro Nacional. Leia o quadro das cidades gaúchas.

TOTAL ABAIXO DA INFLAÇÃO

Houve alta dos gastos com defesa civil em 2023 em 35% das cidades gaúchas. Houve queda em 15,3% das cidades. Deixaram de informar 48,7%. É uma irregularidade administrativa.

O governo do Rio Grande do Sul e a Prefeitura de Porto Alegre foram procurados para se manifestar sobre os dados. Não houve resposta. O espaço segue disponível.

POR QUE ISSO IMPORTA?

Porque indica incapacidade de destinar dinheiro para beneficiar quem paga impostos.

Seria impossível se preparar de forma plenamente adequada para um evento fora da curva como o que está em curso no Rio Grande do Sul. Mas pode-se inferir que ações mais eficazes de prevenção e atendimento poderiam ter ajudado pessoas em situação de maior vulnerabilidade. Isso teria sido útil também para eventos climáticos de menor magnitude, mais comuns.

Os dados de gastos com defesa civil mostram elevada variância de um ano para outro em muitas cidades. Essa inconstância tende a ser prejudicial às boas políticas públicas. Sobretudo quanto se leva em conta que o Rio Grande do Sul também foi atingido por fortes chuvas em 2023, ainda que em intensidade menor do que as das semanas mais recentes.

Deu no Poder360

Tragédia

Temporais no RS: estado deve ter tempo instável e frio nesta quarta; ventos podem chegar a 100 km/h

Tempo: Inmet

Com a chegada de uma frente fria, a situação pode ficar mais grave no Rio Grande do Sul. A partir desta quarta-feira (8) estão previstas chuvas com volumes acima de 100 milímetros para algumas cidades, queda de temperatura e ventos de até 100 km/h.

O avanço desta nova frente fria é consequência de um ciclone extratropical formado próximo à costa da Argentina. Segundo a Climatempo, o sistema não vai passar pelo Rio Grande do Sul, mas favorece a intensidade dos ventos na região Sul do país – além de provocar o retorno da chuva ao estado.

A chuva deve começar no fim desta manhã e se estender por toda a tarde, seguindo com o tempo chuvoso até o domingo (12). Os volumes maiores são esperados a partir de quinta-feira.

Segundo os meteorologistas, a chuva e os ventos neste momento podem piorar o cenário pelos seguintes pontos:

• O vento ajuda a escoar a água que está acumulada e neste momento corre no mesmo sentido da água — o que ajuda a acelerar o processo. No entanto, a partir desta noite, com o reforço da chuva, o vento muda de direção e passa a soprar na direção contrária ao escoamento.

• Hoje, como a frente vem da Argentina, ela vai impactar com mais força a parte sul do estado. Essa região é a de escoamento da Lagoa dos Patos, que ajuda a levar a água do Guaíba. Com a chuva, o nível de água pode ficar ainda mais alto.

• Entre quinta-feira e domingo, a frente deve subir para a metade norte do Rio Grande do Sul. O ponto de atenção é que esses são os dias em que a chuva deve ficar mais intensa e ela atinge, justamente, a cabeceira dos rios do estado.

“O ponto preocupante é que a chuva vai atingir regiões já bem afetadas pelos alagamentos, mas vai fazer subir o nível da água nas cabeceiras. Essa água, depois, pela geografia do estado, vai descer e agravar o problema.”

— Fábio Luengo, meteorologista da Climatempo.

O Rio Grande do Sul já contabiliza 95 mortos e mais de 130 desaparecidos por conta das chuvas. Há 207,8 mil pessoas fora de casa e estima-se que mais de 1,4 milhão de pessoas já foram afetadas.

 

Cidades sob grande alerta

Por conta do grande volume de chuva previsto para os próximos dias, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu dois avisos meteorológicos: um de grande perigo e outro de perigo. As classificações variam por causa do volume de chuva.

• Grande perigo

O alerta de “grande perigo” engloba o extremo sul do estado. Nas regiões sob esse aviso, o volume de chuva pode superar os 100 milímetros por dia, com ventos superiores a 100 km/h e queda de granizo.

Estão incluídas no alerta:

• Aceguá

• Arroio Grande

• Bagé

• Candiota

• Canguçu

• Capão do Leão

• Cerrito

• Chuí

• Herval

• Hulha Negra

• Jaguarão

• Morro Redondo

• Pedras Altas

• Pedro Osório

• Pelotas

• Pinheiro Machado

• Piratini

• Rio Grande

• Santa Vitória do Palmar

• São José do Rio Norte

Deu no G1