Educação

Após greve, auxílio permanência da Faculdade de Direito da USP perde doadores e corta bolsas

Eduardo Knapp – 08.ago.2022/Folhapress

O Adote Um Aluno, programa que distribui auxílio permanência de R$ 600 a alunos em vulnerabilidade socioeconômica da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo), começou a cortar bolsas.

Das 130 oferecidas na edição passada, foram retiradas 40 para este ano. Mais de 200 pessoas requisitaram acesso ao benefício.

Isso ocorreu, segundo seus mantenedores, por uma redução de 28% na verba, ocorrida após a última greve na instituição —de setembro a novembro de 2023. A iniciativa funciona por meio de doações, principalmente de ex-alunos.

Um diretor da Associação dos Antigos Alunos, responsável pelo programa, afirma que os financiadores ficaram irritados com a paralisação e ataques ao patrimônio e a docentes durante ela, resolvendo encerrar suas contribuições como forma de protesto.

Ele pediu para não ser identificado por não poder falar em nome da entidade, que mandou uma nota sobre o tema.

“Essa jamais foi a pretensão dos organizadores do programa, que nunca se posicionaram por menos recursos para a inclusão e o pertencimento. Acabar com o Adote não aumentará o apoio da universidade”, diz o texto da associação.

O DCE (Diretório Central dos Estudantes) da USP lamentou o corte de bolsas e disse defender o apoio financeiro a todos os estudantes necessitados. “Muitos desses doadores saíram do programa no momento em que os estudantes lutavam em greve, ironicamente, por permanência”, escreveu à reportagem.

Procurada, a Faculdade de Direito, por meio de seu diretor, Celso Campilongo, expressou sua preocupação com o corte de benefícios. “Claro, é uma consequência muito ruim para todos, instituição e alunos”, disse Campilongo.

Implementado no primeiro semestre de 2019, o Adote um Aluno foi criado num contexto de inclusão na principal universidade do país, via política de cotas. Isso mudou gradualmente o perfil socioeconômico dos alunos da Faculdade de Direito, surgindo a necessidade de maior apoio para parte dos ingressantes com potencial grau de vulnerabilidade.

Hoje, 45,2% das vagas —disponibilizadas uma vez ao ano por Fuvest e Sisu—são reservadas a oriundos do ensino público. Desse percentual, 38% das são voltadas a pretos, pardos e indígenas.

Podem se candidatar ao Adote um Aluno estudantes que se inscrevam no Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil da USP, mas que, por falta de recursos institucionais para atender toda demanda, não puderam acessar o apoio vindo da reitoria.

GREVE NA USP

Iniciada em 18 de setembro de 2023 por estudantes da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Sociais), a greve teve a contratação de docentes e o fortalecimento da política de permanência estudantil no centro das reivindicações. O movimento alcançou todas as unidades da USP, incluindo escolas que não têm tradição de greve, como a Faculdade de Direito e a Escola Politécnica. Professores e funcionários da universidade também aderiram à mobilização.

Segundo levantamento feito pela Adusp (Associação de Docentes da Universidade de São Paulo) com base nas folhas de pagamento disponíveis no Portal da Transparência, o corpo docente da universidade encolheu 17,56% desde 2014. O número de professores efetivos, ainda conforme a entidade, caiu de 5.934 para 4.892 em agosto deste ano.

A falta de docentes já levou algumas faculdades a cancelarem disciplinas obrigatórias, causando até mesmo o atraso de formaturas. Como mostrou a Folha, a proporção de professor por aluno na USP é a menor em 20 anos. Em 2002, a universidade tinha 0,07 educador para cada matriculado, número que baixou para 0,05 no ano passado.

Após negociação com os estudantes, a reitoria anunciou medidas como a contratação de 148 professores temporários até o fim do ano –adicionais às 879 contratações já previstas até 2025. Nenhum reforço nos programas de auxílio estudantil foi anunciado

Deu na Folha de São Paulo

Política

“Carta pela democracia” é lida em evento na Faculdade de Direito da USP

 

A leitura pública da “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito” está acontecendo na manhã desta quinta-feira, 11. O evento está acontecendo na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista. A carta elaborada pela Fiesp já foi lida, enquanto que o documento da USP ainda aguarda a leitura. Intelectuais, empresários, economistas e representantes da sociedade civil estão entre os signatários do documento, que conta com mais de 900 mil assinaturas.

A leitura do documento começou às 10h da manhã, com o reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, abrindo o ato, com um discurso defendendo o processo eleitoral, criticando as fake news e exaltando a soberania popular. “Estar aqui hoje é um dever nosso com a sociedade paulista e brasileira. Estamos aqui para defender democracia, justiça eleitoral e sistema eleitoral com as urnas eletrônicas. Que a vontade do povo brasileiro seja respeitada e soberana”, afirmou. Mais de 65 atos semelhantes são esperados nas capitais e em cidades do interior de todo o país.

A presidente seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo, Patricia Vanzolini disse que o Brasil não pode ‘sentir saudade’ da democracia. “Não podemos flertar com a ausência dela”, afirmou Vanzolini. O ex-ministro da Justiça. José Carlos Dias, exaltou a união de empresários e trabalhadores para defender a democracia, classificando o dia de hoje como um “momento inédito”.

O presidente do Conselho Deliberativo da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), Horácio Lafer Piva, destacou a importância da defesa da liberdade e das instituições. “Todos estamos preparados para este momento. Todos estão incorporados na história do nosso Brasil. Aqui estão empresas e organizações que compreendem o papel do que é mais sagrado: defesa da liberdade. Defendemos a liberdade das instituições”, afirmou Piva. A presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Bruna Brezzaz, afirmou que “não pode haver mais espaço para autoritarismo”, e reiterou o compromisso da entidade “em lutar pelo Estado Democrático de Direito que atravesse desafio de superar desigualdades sociais e econômicas”.

Dentre as figuras públicas presentes no evento, estão o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Junior – um dos autores do pedido de impeachment de Dilma Rousseff -, o ex-prefeito e candidato ao governo de São Paulo Fernando Haddad (PT), o ex-ministro Aloizio Mercadante (PT), o candidato ao Senado Márcio França (PSB), a deputada federal Joice Hasselmann (PSDB), a cantora Daniela Mercury, a ex-ministra Marina Silva e a campeã olímpica Marta (basquete).

Leia a íntegra da carta da Fiesp:

“No ano do bicentenário da Independência, reiteramos nosso compromisso inarredável com a soberania do povo brasileiro expressa pelo voto e exercida em conformidade com a Constituição Quando do transcurso do centenário, os modernistas lançaram, com a Semana de 22, um movimento cultural que, apontando caminhos para uma arte com características brasileiras, ajudou a moldar uma identidade genuinamente nacional.

Hoje, mais uma vez, somos instigados a identificar caminhos que consolidem nossa jornada em direção à vontade de nossa gente, que é a independência suprema que uma nação pode alcançar. A estabilidade democrática, o respeito ao Estado de Direito e o desenvolvimento são condições indispensáveis para o Brasil superar os seus principais desafios. Esse é o sentido maior do 7 de Setembro neste ano. Nossa democracia tem dado provas seguidas de robustez.

Em menos de quatro décadas, enfrentou crises profundas, tanto econômicas, com períodos de recessão e hiperinflação, quanto políticas, superando essas mazelas pela força de nossas instituições. Elas foram sólidas o suficiente para garantir a execução de governos de diferentes espectros políticos. Sem se abalarem com as litanias dos que ultrapassam os limites razoáveis das críticas construtivas, são as nossas instituições que continuam garantindo o avanço civilizatório da sociedade brasileira.

É importante que os Poderes da República – Executivo, Legislativo e Judiciário – promovam, de forma independente e harmônica, as mudanças essenciais para o desenvolvimento do Brasil. As entidades da sociedade civil e os cidadãos que subscrevem este ato destacam o papel do Judiciário brasileiro, em especial do Supremo Tribunal Federal, guardião último da Constituição, e do Tribunal Superior Eleitoral, que tem conduzido com plena segurança, eficiência e integridade nossas eleições respeitadas internacionalmente, e de todos os magistrados, reconhecendo o seu inestimável papel, ao longo de nossa história, como poder pacificador de desacordos e instância de proteção dos direitos fundamentais.

A todos que exercem a nobre função jurisdicional no país, prestamos nossas homenagens neste momento em que o destino nos cobra equilíbrio, tolerância, civilidade e visão de futuro. Queremos um país próspero, justo e solidário, guiado pelos princípios republicanos expressos na Constituição, à qual todos nos curvamos, confiantes na vontade superior da democracia. Ela se fortalece com união, reformando o que exige reparos, não destruindo; somando as esperanças por um Brasil altivo e pacífico, não subtraindo-as com slogans e divisionismos que ameaçam a paz e o desenvolvimento almejados.

Todos os que subscrevem este ato reiteram seu compromisso inabalável com as instituições e as regras basilares do Estado Democrático de Direito, constitutivas da própria soberania do povo brasileiro que, na data simbólica da fundação dos cursos jurídicos no Brasil, em 11 de agosto, estamos a celebrar”

Leia a íntegra da carta da USP:

“Em agosto de 1977, em meio às comemorações do sesquicentenário de fundação dos Cursos Jurídicos no País, o professor Goffredo da Silva Telles Junior, mestre de todos nós, no território livre do Largo de São Francisco, leu a Carta aos Brasileiros, na qual denunciava a ilegitimidade do então governo militar e o estado de exceção em que vivíamos. Conclamava também o restabelecimento do estado de direito e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.

A semente plantada rendeu frutos. O Brasil superou a ditadura militar. A Assembleia Nacional Constituinte resgatou a legitimidade de nossas instituições, restabelecendo o estado democrático de direito com a prevalência do respeito aos direitos fundamentais.

Temos os poderes da República, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, todos independentes, autônomos e com o compromisso de respeitar e zelar pela observância do pacto maior, a Constituição Federal.

Sob o manto da Constituição Federal de 1988, prestes a completar seu 34º aniversário, passamos por eleições livres e periódicas, nas quais o debate político sobre os projetos para país sempre foi democrático, cabendo a decisão final à soberania popular.

A lição de Goffredo está estampada em nossa Constituição “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
Nossas eleições com o processo eletrônico de apuração têm servido de exemplo no mundo. Tivemos várias alternâncias de poder com respeito aos resultados das urnas e transição republicana de governo. As urnas eletrônicas revelaram-se seguras e confiáveis, assim como a Justiça Eleitoral.

Nossa democracia cresceu e amadureceu, mas muito ainda há de ser feito. Vivemos em país de profundas desigualdades sociais, com carências em serviços públicos essenciais, como saúde, educação, habitação e segurança pública. Temos muito a caminhar no desenvolvimento das nossas potencialidades econômicas de forma sustentável. O Estado apresenta-se ineficiente diante dos seus inúmeros desafios. Pleitos por maior respeito e igualdade de condições em matéria de raça, gênero e orientação sexual ainda estão longe de ser atendidos com a devida plenitude.

Nos próximos dias, em meio a estes desafios, teremos o início da campanha eleitoral para a renovação dos mandatos dos legislativos e executivos estaduais e federais. Neste momento, deveríamos ter o ápice da democracia com a disputa entre os vários projetos políticos visando convencer o eleitorado da melhor proposta para os rumos do país nos próximos anos.

Ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições.

Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o estado democrático de direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional.
Assistimos recentemente a desvarios autoritários que puseram em risco a secular democracia norte-americana. Lá as tentativas de desestabilizar a democracia e a confiança do povo na lisura das eleições não tiveram êxito, aqui também não terão.

Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia. Sabemos deixar ao lado divergências menores em prol de algo muito maior, a defesa da ordem democrática.

Imbuídos do espírito cívico que lastreou a Carta aos Brasileiros de 1977 e reunidos no mesmo território livre do Largo de São Francisco, independentemente da preferência eleitoral ou partidária de cada um, clamamos as brasileiras e brasileiros a ficarem alertas na defesa da democracia e do respeito ao resultado das eleições.

No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao passado. A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições.

Em vigília cívica contra as tentativas de rupturas, bradamos de forma uníssona:

Estado Democrático de Direito Sempre!!!!”