Ano Novo, Feliz ?

Por Renato Cunha Lima

O filósofo Mário Sérgio Cortela certa vez disse: “Retrovisor é menor que parabrisa, porque passado é referência e não direção.”

De fato, o retrovisor é menor que o parabrisa, pois o caminho que você tem a frente é mais importante que o que deixou pra trás. A vida segue e tudo que você tem a decidir é o que fazer com o tempo que lhe é dado.

Contudo, algumas despedidas, destaco, são drásticas e traumáticas, como na história bíblica de Sodoma e Gomorra: Não poderia haver memória; tudo era começo.

Imagine você deixar tudo para trás, sua vida, sua história, sua memória, sua luta, sem direito sequer a um minúsculo retrovisor?

—Não sei vocês, mas essa foi a minha sensação neste réveillon.

Segundo a bíblia, esse foi exatamente o aviso dos anjos para Lot e sua família, que abandonassem Sodoma e Gomorra e deixassem tudo, absolutamente tudo, para trás em rumo a esperança.

Reza a lenda, que a mulher de Lot desobedeceu os alertas dos anjos e castigada se tornou uma pedra de sal, quando olhou para trás. De alguma forma Sodoma e Gomorra não saíram de seu coração.

Agora, em 2023, dizem que a cena se repetirá, como num espelho, no futuro, pelas mesmas razões: depravação (para gozo perdido) e distopia (para desengano de esperanças).

— Vivemos na plenitude da promiscuidade moral e na distopia de aplaudir a desonestidade no poder e de reverenciar instituições que se dizem democráticas quando censuram e perseguem.

A diferença, na profecia atual, está na despedida: Na repetição, as pessoas serão condenadas às memórias, não terão expectativas, planos e esperanças, e, por isso, sairão de costas, sem saber aonde estão indo, e perdendo, pouco a pouco, a visão de onde saíram.

Nesta hipótese, escaparia o Curupira, ícone do folclore brasileiro, que tem os pés para trás ou talvez, uma mulher seja transformada em pedra de açúcar, por tentar olhar para frente, imaginando um fim…


Renato Cunha Lima 
é administrador de empresas, empresário e escritor

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