Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
A primeira-dama Janja da Silva tenta manter a sua influência na comunicação do governo após a mudança no comando da área e vem consolidando a proximidade com o mundo jurídico na segunda metade da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Preocupada com um cenário político adverso que pode ter impacto no projeto de reeleição em 2026, ela já vinha defendendo internamente que o governo deveria comunicar com mais clareza as realizações.
A guinada, defendida por diversos setores da gestão, se concretizou na semana passada, quando foi anunciada a chegada de Sidônio Palmeira para a vaga de Paulo Pimenta na chefia da Secretaria de Comunicação Social (Secom).
Perda da espaço
Apesar da mudança, Janja perdeu espaço com o aval que Lula deu a Sidônio para fazer as trocas que desejar na equipe. Ele decidiu demitir a secretária de Estratégia Digital e Redes, Brunna Rosa, próxima à primeira-dama, conforme informou o colunista Lauro Jardim.
Sidônio, por sua vez, dá sinais de que não manterá Janja totalmente afastada das políticas de comunicação. Ele costuma consultar a primeira-dama em alguns momentos, gesto que a agrada. Os dois, por exemplo, analisaram juntos fotos que foram usadas no evento que marcou os dois anos dos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Paulo Pimenta, ministro que deixou a Secom, não tinha o hábito de conversar com Janja sobre políticas da pasta e costumava consultar diretamente Lula na tomada de decisões.
O entorno da primeira-dama afirma que ela se manteve longe da formação da Secom e que, nos últimos dias, se dedicou à organização dos eventos da semana passada — em um dos quais chegou a discursar.
Peso no judiciário
Além do cenário político, Janja tem observado os movimentos do Poder Judiciário. Ela teve peso na escolha de Lula pela advogada Cláudia Franco para a vaga de desembargadora do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), em novembro de 2024, e de Daniela Teixeira para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), em 2023.
Janja também deu apoio a Gabriela Araújo, professora de direito da PUC-SP, para uma vaga de desembargadora no TRF da 3ª Região. Na cerimônia de posse, a primeira-dama foi convidada a discursar.
Para as vagas no STJ em aberto, Lula tem à disposição mulheres nas duas listas de indicação. Internamente, Janja defende que, em ao menos uma delas, seja escolhida uma jurista.
O entorno de Janja pondera, no entanto, que não há tanta influência como alas do governo lhe atribuem. Afirmam que ela é uma das vozes que Lula escuta, mas não a única. A primeira-dama costuma estar presente nas reuniões ministeriais, mas não participa, por exemplo, de encontros da coordenação política nem dos despachos de Lula com ministros.
Janja tem se empenhado mais em ações específicas. Foi assim, por exemplo, na tragédia climática do Rio Grande do Sul e na articulação da Aliança Global Contra Fome, anunciada durante o G20, no Rio.
Ataque a Musk e “Janjapalooza”
Críticos da expansão da sua presença veem com cautela os movimentos e lembram um episódio recente. Em novembro de 2024, durante um evento paralelo ao G20, ela atacou o bilionário Elon Musk, dono do X. A derrapada gerou reação imediata contra o governo e, no dia seguinte, em uma indireta pública, Lula afirmou que não se pode “ofender ninguém”. A fala trouxe críticas internas pela polêmica, que ofuscou um evento para o qual a cúpula do governo se empenhou.
O episódio ocorreu justamente em uma ação do governo que contou com a presença de Janja, que teve participação ampla nas definições, como a escolha do logotipo da Aliança Global Contra a Fome, que o Brasil capitaneou no G20, a realização de shows na Praça Mauá — chamados jocosamente pela oposição de “Janjapalooza”. Aliados afirmam que a repercussão negativa da briga com Musk provocou uma inflexão, mas não a ponto de interferir nas iniciativas que tem conduzido.
Deu no O Globo