Ato de Bolsonaro no Rio reforça reação à censura e busca união da direita nas urnas

Foto: Sebastião Moreira

 

O próximo ato político convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), marcado para a manhã deste domingo (21) na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, não é apenas uma continuação do anterior, realizado em 25 de fevereiro na Avenida Paulista, em São Paulo. Além de reiterar a mensagem de defesa do ex-presidente contra as pressões judiciais enfrentadas por ele e seus aliados, o protesto, que deve ganhar impulso das recentes revelações do Twitter Files sobre censura do Judiciário, busca consolidar um momento favorável para a direita no país e promover um apelo à unidade.

Nas últimas semanas, Bolsonaro e seus apoiadores mais próximos têm se empenhado em construir pontes e suavizar conflitos, especialmente visando as eleições municipais.

Sua peregrinação pelo país, acompanhado pela esposa Michelle, presidente do PL Mulher, tem dado continuidade ao planejamento do partido, apesar das restrições impostas na esteira da operação Tempus Veritatis, da Polícia Feral (PF), como a proibição de contato entre Bolsonaro e o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto.

A expectativa é que a manifestação no Rio reflita menos tensão em comparação com a anterior, durante a qual Bolsonaro se sentiu pressionado, inclusive enfrentando o risco de prisão pouco tempo após ter seu passaporte apreendido pela PF.

Desde então, a oposição tem conquistado alguns avanços no Congresso, demonstrando a possibilidade de uma resposta ao ativismo judicial. Houve, por exemplo, o engavetamento do PL das Fake News (PL 2630/20), que deverá ser rediscutido em um novo texto, e uma abertura de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, para tratar sobre foro privilegiado e prerrogativas parlamentares.

Um novo fator significativo para esta mudança de clima foi o apoio externo à luta de Bolsonaro contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Supremo Tribunal Federal (STF), com o bilionário Elon Musk, dono da plataforma X (antigo Twitter), assumindo um papel ativo nessa questão. Desde 6 de abril o empresário vem questionando diretamente o ministro Alexandre de Moraes, do STF, sobre “exigir tanta censura no Brasil” e acusando-o de ser um ditador.

Bolsonaro mesmo procurou amplificar as repercussões do confronto entre a plataforma digital e a Suprema Corte, destacando o “apoio significativo de fora”, vindo daquele que ele chamou de “mito de nossa liberdade”. Em um vídeo postado nesta quinta-feira (18), o ex-presidente afirmou que “o mundo ficou sabendo que o Brasil está à beira de uma ditadura”, graças à decisão de Musk de desafiar publicamente medidas judiciais tomadas por Moraes.

O ato em Copacabana ocorrerá neste contexto e apenas quatro dias após as revelações de um relatório do Comitê Judiciário da Câmara dos Estados Unidos – equivalente à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados – que expôs, por meio de documentos solicitados à rede social de Musk, a falta de transparência e escala da censura no Brasil. E Bolsonaro fez questão de conectar a manifestação deste domingo à causa da liberdade de expressão, dizendo que ela diz respeito às gerações futuras.

No entanto, os organizadores mantiveram precauções, como pedir que manifestantes evitem trazer cartazes e faixas, além de regular a lista de oradores.

Bolsonaro deve voltar a rebater “minuta golpista”

Durante o ato do Rio, que deve durar uma hora e meia, espera-se que Bolsonaro aborde novamente o tema da pacificação nacional, por meio da aprovação pelo Congresso de uma anistia para os presos após os atos de 8 de janeiro, particularmente aqueles não envolvidos em vandalismo. Este argumento foi o ponto mais enfatizado de seu discurso no evento em São Paulo.

O evento deste domingo também visa reforçar a defesa do ex-presidente e de seus aliados contra acusações da Justiça, sobretudo as relacionadas a uma suposta tentativa de golpe de Estado. “Estaremos discutindo, compartilhando informações, junto com autoridades e o pastor Silas Malafaia, sobre o nosso Estado democrático de direito”, afirmou o ex-chefe do Executivo em um vídeo postado em 6 de abril, na convocação inicial para o ato do Rio.

Bolsonaro enfatizou que abordaria nessa oportunidade “a maior fake news da história do Brasil”, referindo-se à tese amplamente difundida, inclusive entre seus aliados, sobre a existência de uma “minuta do golpe”, termo cunhado pela PF para descrever um documento apócrifo encontrado na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.

A ideia de perseguição política dentro das investigações do STF foi levada ao palanque pelo pastor Silas Malafaia durante o ato na Avenida Paulista, em fevereiro. O aliado do ex-presidente, que organizou o evento, concentrou o seu discurso na denúncia de abusos pelo Judiciário, em defesa de Bolsonaro e dos presos do 8 de Janeiro.

As investigações da PF continuam a se basear na “minuta do golpe”, que Bolsonaro e seus aliados rejeitam por considerá-la carente de “plausibilidade jurídica mínima”, destacando que quaisquer medidas discutidas, como a declaração do Estado de Defesa ou do Estado de Sítio, não foram perseguidas e requeriam a aprovação do Congresso.

A defesa do ex-presidente também alega a impossibilidade de um golpe com base em “dispositivos constitucionais que nunca foram implementados e, portanto, não constituem crime”.

Deu na Gazeta do Povo

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