Lula quer acomodar Guido Mantega na ex-estatal Vale

 

Luiz Inácio Lula da Silva trabalha para acomodar o ex-ministro Guido Mantega, titular do Ministério da Fazenda de 2006 a 2014, no conselho de administração da Vale, ex-estatal privatizada há 26 anos. O arranjo foi elaborado às vésperas da sucessão na companhia – no fim deste mês o conselho decidirá se reconduz o atual presidente, Eduardo Bartolomeo, que já declarou ter a intenção de permanecer no cargo.

O governo, que ainda tem influência na empresa, concorda em manter Bartolomeo na presidência e renovar o seu mandato por mais um ano, até abril de 2025. Mantega, cujo nome Lula tentou emplacar para dirigir a Vale no ano passado, seria então acomodado em um dos assentos da Previ no conselho de administração. Apoiar uma recondução de Bartolomeo não é o desejo da Previ e, por isso, o arranjo governista é uma tentativa de acordo para contemplar os interesses dos demais sócios na companhia.

Auxiliares do presidente afirmam que, desde que chegou ao Palácio do Planalto, Lula fala em retribuir Mantega pelos trabalhos prestados ao PT. O ex-ministro atuou informalmente na campanha de Lula, em 2022, e integrou por uma semana a equipe de transição.

Em 2016, ele foi inabilitado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) a assumir cargos públicos em razão de sua participação nas “pedaladas” fiscais do segundo governo Dilma Rousseff e que levaram a então presidente ao impeachment. No ano passado, porém, a decisão foi suspensa pelo TRF-1 (Tribunal Regional Federal).

Se a investida prosperar, o ex-ministro terá uma remuneração aproximada de R$ 100 mil por mês. O trabalho prevê uma reunião ordinária mensal e a atuação obrigatória em dois comitês internos. Procurada, a Secom (Secretaria de Comunicação) da Presidência da República informou que não comentaria o assunto. Mantega não respondeu às ligações e mensagens enviadas pela reportagem.

A fórmula que inclui Mantega e Bartolomeo deseja acomodar ainda um nome da Cosan, que também é acionista da Vale, no comando da companhia. O intento é colocar Luis Henrique Guimarães no grupo de executivos que administram a Vale, possivelmente como um dos vice-presidentes, ainda que ele tenha estatura para ser o titular.

Luis Henrique presidiu a Cosan até novembro, quando deixou o cargo. Em Brasília, o movimento foi interpretado como um sinal de que o executivo tem pretensões de assumir um posto na Vale. O Estadão tentou falar com Guimarães, mas ele preferiu não se manifestar.

As tratativas dependem porém dos demais acionistas, uma vez que a Vale já não é uma empresa com tanta influência do governo como no passado. Desde 2020, ela é uma “corporation”, ou seja, tem o seu capital diluído no mercado e não há um acionista individual com mais de 10% da empresa. O sócio com maior participação é a Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, por meio do qual o governo exerce a sua influência na Vale. Depois dela estão a Mitsui, a Blackrock e a Cosan.

O quadro é bastante diferente do vivido por Lula durante seus dois primeiros mandatos, quando a companhia era comandada por um bloco de controle integrado por Previ, Bradespar e BNDESpar. Durante a gestão Jair Bolsonaro, em 2021, o banco estatal se desfez da participação na Vale e a Bradespar tem hoje menos de 5%.
A Previ tem dois assentos do total de 13 posições no conselho de administração. A Mitsui tem um, a Bradespar, um e os funcionários da empresa, um. Os demais são independentes.

Fonte: ESTADÃO CONTEÚDO

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