Pressão no Papa faz igreja recuar na questão LGBT

Tiziana FABI

 

O Vaticano divulgou nesta 5ª feira (04.jan) uma comunicado assinado pelo cardeal prefeito Fernández e pelo secretário monsenhor Matteo esclarecendo que a bênção a casais homossexuais anunciada no mês passado pelo Papa Francisco não significa “absolvição” e nem que a Igreja Católica aprova a união de pessoas do mesmo sexo. Segundo o comunicado, a doutrina sobre o matrimônio não muda, os bispos podem discernir sua aplicação de acordo com o contexto.

“A Declaração contém a proposta de breves e simples bênçãos pastorais, não litúrgicas e nem ritualizadas, de casais ‘irregulares’, sublinhando que se trata de bênçãos sem forma litúrgica, que não aprovam nem justificam a situação em que se encontram essas pessoas.”

“São inadmissíveis ritos e orações que possam criar confusão entre aquilo que é constitutivo do matrimônio, como a união exclusiva, estável e indissolúvel entre um homem e uma mulher, naturalmente aberta à geração de filhos e àquilo que o contradiz. Esta convicção é fundada sobre a perene doutrina católica do matrimônio. Somente neste contexto as relações sexuais encontram o seu sentido natural, adequado e plenamente humano. A doutrina da Igreja sobre este ponto permanece firme”, diz a carta.

“Tal é também o sentido do Responsum da então Congregação para a Doutrina da Fé, onde se afirma que a Igreja não tem o poder de conceder a bênção a uniões entre pessoas do mesmo sexo”.

O Vaticano explica que para distinguir-se claramente das bênçãos litúrgicas ou ritualizadas, as “bênçãos pastorais” devem ser sobretudo muito breves, de 10 a 15 segundos, sem uso do Ritual de Bênçãos.

“Esta forma de bênção não ritualizada, com a simplicidade e a brevidade de sua forma, não pretende justificar algo que não seja moralmente aceitável. Obviamente, não é um matrimônio, nem mesmo uma ‘aprovação’, nem a ratificação de coisa alguma. É unicamente a resposta de um pastor a duas pessoas que pedem a ajuda de Deus. Por isso, neste caso, o pastor não põe condições e não quer conhecer a vida íntima dessas pessoas.”

O comunicado diz ainda que em alguns lugares, talvez será necessária uma catequese que ajude a todos a entender que este tipo de bênção não é uma ratificação da vida que levam aqueles que a imploram. Menos ainda é uma absolvição, enquanto estes gestos estão longe de ser um sacramento ou um rito.

Entenda o caso

Em 2 de outubro de 2023, o Papa Francisco sugeriu, pela primeira vez, a possibilidade de padres darem bênçãos a casais do mesmo sexo. A declaração foi dada em carta em resposta a cinco cardeais conservadores da Ásia, Europa, África, Estados Unidos e América Latina, que voltaram a questionar o pontífice a respeito de uniões homossexuais.

No texto, Francisco afirmou que cada caso deve ser analisado, alegando que os religiosos “não podem ser juízes que apenas negam, rejeitam e excluem”. O pontífice reforçou, no entanto, que o ato não deve ser confundido com cerimônias de casamento , uma vez que a Igreja Católica reconhece apenas matrimônios entre um homem e uma mulher.

“A caridade pastoral deve permear todas as nossas decisões e atitudes. Quando você pede uma bênção, você expressa um pedido de ajuda de Deus, uma oração para poder viver melhor, uma confiança num pai que pode ajudá-lo a viver melhor”, escreveu o papa.

“Ser homossexual não é crime. Sim, mas é pecado. Tudo bem, mas primeiro vamos distinguir entre um pecado e um crime. Também é pecado faltar à caridade uns com os outros”, disse o papa, à época. “Somos todos filhos de Deus, e Deus nos ama como somos e pela força que cada um de nós luta pela nossa dignidade”, completou.

No dia 18 de dezembro, o Vaticano afirmou que padres poderão abençoar casais formados por pessoas do mesmo sexo. A decisão faz parte da declaração Fiducia supplicans, publicada pelo Dicastério e aprovada pelo Papa Francisco.

O documento aprofunda o tema das bênçãos, distinguindo entre as bênçãos rituais e litúrgicas e as bênçãos espontâneas. Segundo a Santa Fé, é precisamente nessa segunda categoria que está contemplada a possibilidade de acolher também aqueles que “não vivem de acordo com as normas da doutrina moral cristã”, sem que eles estejam sujeitos a “uma análise moral exaustiva”.

SBT News

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