É certo dizer que a gasolina está mais cara agora do que no governo Dilma? Entenda.

Depois que a Petrobras anunciou um novo aumento nos preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha (GLP), críticos e políticos opositores ao governo de Jair Bolsonaro (PL) passaram a comparar os valores dos combustíveis agora com os praticados durante o governo de Dilma Rousseff (PT), questionando por que a parcela da população que foi às ruas em 2016, por exemplo, não faz o mesmo para protestar contra a mais recente alta. Mas é correto dizer que a gasolina está mais cara agora do que antes?

Considerando apenas a inflação acumulada desde então, sim, está. Mas também há outros fatores que impactam diretamente o preço dos combustíveis, como a cotação do petróleo — que em março de 2016 custava menos da metade do que atualmente — e a do dólar, por exemplo.

Sob a gestão Dilma, o litro da gasolina comum atingiu seu pico em março de 2016, custando R$ 3,73, em média, segundo levantamento da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). Corrigido pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado até fevereiro de 2022 — o último disponível —, esse valor corresponderia hoje a R$ 5,05. Mas a última pesquisa da ANP mostra que a média no país no mês passado foi de R$ 6,60 por litro — valor quase 31% maior.

Ainda em março de 2016, o petróleo Brent (referência nos mercados europeu e asiático) chegou a sua máxima no dia 22, quando era vendido a US$ 40,54, ou R$ 146,23 na cotação da época (R$ 3,607). Se corrigido pela inflação dos Estados Unidos no período, esse valor hoje equivaleria a US$ 47,92 — menos da metade do preço mais alto pelo qual o barril foi negociado em fevereiro de 2022, no dia 28: US$ 103,08 (R$ 529,73, considerando o dólar a R$ 5,139).

Ou seja: embora o aumento nos preços da gasolina tenha superado a alta da inflação no Brasil desde 2016, o petróleo também ficou muito mais caro no mercado internacional desde então.

Gasolina
Março de 2016 – máxima do governo Dilma: R$ 3,73 (R$ 5,05 em valores de fevereiro de 2022)
Fevereiro de 2022 – último dado mensal divulgado pela ANP no governo Bolsonaro: R$ 6,60
Diferença: gasolina está 30,69% mais cara hoje do que em 2016, em valores reais (ou seja, corrigidos pela inflação).

Proporcionalmente, quem ganha um salário mínimo em 2022 também está gastando mais com gasolina do que quem recebia o piso nacional em 2016.

Hoje, para encher um tanque de 50 litros — capacidade de boa parte dos carros de entrada à venda no Brasil —, o consumidor gasta R$ 330, em média, segundo valores levantados em fevereiro pela ANP. Essa quantia corresponde a 27,23% do salário mínimo atual, que está em R$ 1.212.

Já em março de 2016, considerando o pico do preço do litro da gasolina (R$ 3,73), era possível encher o mesmo tanque com R$ 186,50 — ou 21,19% do salário mínimo da época (R$ 880).

Tanto Dilma Rousseff quanto Jair Bolsonaro já interferiram na Petrobras para tentar controlar o preço dos combustíveis. Em 2014 e 2015, antes de adotar a política de preços atual, a estatal manteve congelados os valores nas refinarias, mesmo com o barril de petróleo em alta no exterior, com o objetivo de conter a inflação no país. A medida foi uma das principais responsáveis pelos quatro anos de prejuízo da Petrobras entre 2014 e 2017, já no final do governo Dilma e início do governo Temer.

“Com Dilma, o controle [na Petrobras] vinha de cima para baixo, era uma decisão do governo de manter os preços fixos na marra; no caso de Bolsonaro, foi uma decisão individual dele, e de baixo para cima, por causa da pressão de um setor [os caminhoneiros]”, disse ao UOL Álvaro Frasson, hoje diretor do BTG Pactual, em abril de 2019.

Com informações de UOL

 

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