“Que saudade meu Deus”

Por Ney Lopes de Souza

Não sabia, que o próximo dia 30 de janeiro é anualmente considerado o Dia da Saudade, data especial em nosso calendário.

Uma homenagem merecida, sobretudo na recordação da memória de pessoas queridas.

Como definir essa palavra saudade?

Saudade é de origem latina, derivada de “soltarem” e quer dizer “solidão”.

Trata-se do vocábulo, considerado por uma empresa britânica, após ouvir vários tradutores, como a sétima palavra mais difícil de ser traduzida.

Para Bráulio Bessa, consagrado poeta popular, “Saudade talvez seja o sentimento mais poético que existe, mais até do que o amor. Porque nem todo mundo sentiu amor na vida, mas saudade, sim”.

Patativa do Assaré, ídolo e inspirador de Bráulio Bessa, vaticinou que “Há dor que mata a pessoa, Sem dó e sem piedade, porém não há dor que doa, Como a dor de uma saudade”.

Neruda expressou em versos, a dimensão da saudade:

Saudade – O que será… não sei… procurei sabê-lo
em dicionários antigos e poeirentos
e noutros livros onde não achei o sentido
deste doce palavra de perfis ambíguos.

Dizem que azuis são as montanhas como ela,
que nela se obscurecem os amores longínquos,
e um bom e nobre amigo meu (e das estrelas)
a nomeia num tremor de cabelos e mãos”.

O Dicionário Aurélio conceitua o sentimento da saudade como “Lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; nostalgia”.

A saudade torna-se companheira permanente.

Chega com intensidade nos resplendores matinais da brisa das madrugadas, desabrochando a sensação, de que a pessoa especial  não morreu e permanece viva, ao nosso lado.

Uma Ave Maria votiva é rezada, com fé nos desígnios de Deus.

Mario Quintana descreve a solidão da saudade como “a penumbra do amanhecer; Via você na noite, nas estrelas, nos planetas, nos mares, no brilho do sol e no anoitecer”.

A vida continua, com a lida do alvorecer.

Mas, não se pode esconder a saudade do ente querido já na Eternidade.

Drummond tinha razão:

Sim, tenho saudades.; sim, porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da natureza; nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste”.

Ainda Pablo Neruda descreveu a “Saudade como sentir que existe o que não existe mais. Saudade é solidão acompanhada”.

Escrevo o texto chorando.

Na expressão de Machado de Assis, as lágrimas traduzem o alívio da minha saudade e dever do meu amor, de Abigail, dos filhos e familiares pela morte prematura do nosso filho querido Ney Lopes de Souza Júnior, por coincidência ocorrida há sessenta dias do próximo domingo, o Dia Nacional da Saudade.

Ainda lembrando Quintana, continuamos a conviver com Ney Jr no ontem, no hoje e no amanhã.

Ao relembrá-lo, parece um sonho que tenha partido!

Para sempre será nosso filho e para sempre todos nós lhe amaremos!

Resta-nos recordar os momentos inesquecíveis com ele, que se foram.

Os olhos brilhantes que não abrem mais.

Mãos que não nos afagarão.

Jamais ouviremos a sua voz, transmitindo amor filial, nem o seu sorriso aberto.

Nunca mais poderei pedir-lhe “um cheiro na cabeça”, como sempre fazia.

Que saudade, meu Deus!

Dá-nos forças para suportar.

 

Dr Ney Lopes de Souza é advogado, professor titular da UFRN e ex-deputado federal

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