A Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) avaliou como precipitada e complexa a conclusão apontada pelo Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Lais/UFRN), de que o Carnatal não provocou aumento no número de casos de covid-19 no RN. Segundo a secretaria, a análise é imprecisa já que, há mais de 10 dias, os dados sobre a pandemia não estão sendo atualizados corretamente nos sistemas do Ministério da Saúde, em virtude da invasão de hackers.
No relatório, divulgado na noite dessa segunda-feira (21), o Lais trouxe uma análise do período posterior ao Carnatal, que foi realizado de 9 a 12 de dezembro deste ano, e informou que “os dados epidemiológicos e assistenciais do RN relacionados à covid-19 se mantiveram estáveis e em tendência de queda. Neste contexto, e ainda de forma preliminar, não se observou impacto negativo do Carnatal sobre a rede assistencial do estado”. E completou: “Não há registro de aumento dos casos e nem de internações por covid-19, portanto, mantém-se o mesmo comportamento observado no final do mês de novembro e início do mês de dezembro de 2021 (antes do Carnatal)”.
Os dados sobre covid-19, no entanto, estão inconsistentes, como explicou a Sesap. Isso porque o Brasil está há 12 dias sem estatísticas oficiais de novos vacinados e de casos de covid-19, após ataque hacker a sistemas do Ministério da Saúde. O ataque fez com que os estados passassem a ter dificuldades para informar o total de novos contaminados e mortos em decorrência do coronavírus. O represamento de informações acaba diminuindo os números da pandemia de maneira superficial, com indicadores apresentando médias de mortes mais baixas que a realidade. Além disso, a invasão aos sistemas também impossibilitou que fosse registrado o avanço da campanha de vacinação no país.
“Os sistemas de informação, de âmbito nacional, estão fora do ar. Então o boletim diário que a Sesap está emitindo é com base apenas no Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL). Nós estamos contabilizando somente os casos confirmados a partir do resultado dos laboratórios. Porém, esse dado não é tão fidedigno quanto a notificação exatamente porque a Sesap distribuiu para o municípios aproximadamente 300 mil testes Swab para que pudessem estar realizando na população de forma ampliada. Eles estão utilizando esses testes para o diagnóstico da covid-19, mas os resultados não estão sendo computados, já que o sistema de notificação – o eSUS-VE – está fora do ar. E isso impossibilita que tenhamos um diagnóstico fidedigno do real cenário epidemiológico”, explicou a coordenadora de Vigilância em Saúde da Sesap, Kelly Lima.
Procurado pelo Portal da Tropical, o Lais ressaltou que considerou sim a instabilidade e, por isso, se baseou também nos dados da rede assistencial. “Nós utilizamos o dado de melhor qualidade, que são os dados da rede assistencial, medidos pelo sistema de regulação, o Regula RN. Esse é um sistema totalmente autônomo e é um dos sistemas de melhor qualidade para medição dos efeitos da pandemia. Importante destacar que o maior problema da covid-19 não é somente a questão dos novos casos diários, mas principalmente as internações em leitos de UTI covid-19. Então consideramos o aumento dos pedidos por internação, que nesse caso, pós Carnatal, estão reduzindo. Há um declínio da taxa de ocupação de leitos de UTI covid-19 na rede assistencial do SUS”, explicou diretor executivo do Lais, professor Ricardo Valentim.
“Essa é, claro, uma análise preliminar do laboratório. Nós vamos continuar analisando depois os efeitos pós Natal e Ano Novo. O laboratório seguirá monitorando, como fizemos nos últimos dois anos. Mas hoje é seguro afirmar, de maneira categórica, de que a rede assistencial – ou seja, a taxa de ocupação de leitos de UTI covid no RN, se mantém estável, com tendência de redução”, complementou o pesquisador.
Por outro lado, a Sesap destaca que o relatório elaborado pelo Lais levou em consideração somente os 10 dias após a micareta, período classificado pela pasta como curto para avaliar o impacto que a festa teve na circulação do vírus em território potiguar. Segundo a secretaria, seriam necessários, pelo menos, 14 dias para analisar o ciclo da doença, que inclui infecção, possível agravamento e consequente internação.
“Nós da Sesap também julgamos prematuro fazer uma análise sobre a possível contaminação no Carnatal exatamente porque não temos tempo hábil para estar observando esse cenário epidemiológico. Precisaríamos de, pelo menos, 14 dias após o fim da festa para termos uma mudança no cenário. A gente acredita que possivelmente as pessoas que podem ter sido contaminadas no Carnatal não estão solicitando leitos, porque são pessoas jovens e, em sua maioria, tiveram contato com a vacina, então não necessariamente vão desenvolver sintomas respiratórios graves”, acrescentou Kelly Lima.
Deu no Portal da Tropical