Nem prancheta de desenho, nem mesa digitalizadora. E com uma pasta colecionadora nas pernas, sentado em uma praça da zona Sul de Teresina (PI), que o mototaxista Luís Celso desenha suas histórias em quadrinhos enquanto espera os clientes. São várias páginas produzidas durante o dia. E mesmo assim Celso nunca teve uma história sua publicada.
Para corrigir essa falha, Bernardo Aurélio, editor de quadrinhos, lançou no Catarse, um site de financiamento coletivo (crowdfunding) a hq “Cenouras Malditas” como uma espécie de pré-venda. “Conheço o Luís Celso há um bom tempo. Ele está sempre nos eventos e encontros de desenhistas, sempre observando, levando seus desenhos, mostrando e pedindo opinião sobre o que faz. Sempre me impressionou a sua dedicação ao desenho e aos quadrinhos, nunca deixando se abater pelas adversidades da vida. Muito pelo contrário, sua produção, mesmo desenhando no meio da praça, é muito grande. Tem histórias de mais de 100 páginas”, ressalta Bernardo.
Na avaliação do editor, Celso é dono de um traço kitsch, mas sem o teor pejorativo. “É popular, de massa, de grande alcance. Na verdade, o melhor adjetivo seria alguma coisa entre o kitsch e o ‘naife’, porque os desenhos dele são simples, mas com uma técnica forte de hachura. Não é um desenho acadêmico, no sentido de que Celso é um autodidata. Normalmente, seus gibis são mudos, mas ele começou a colocar os textos. Um ilustrador às avessas. Primeiro desenha, depois imagina os diálogos”, avalia.
Dentre tantas histórias longas, Celso e Bernardo selecionaram algumas curtinhas. E são essas que estarão da HQ “Cenouras Malditas”, inscrita no Catarse. “O futuro do quadrinhos são hqs curtas”, ele me disse certa vez. A revista terá o seguinte formato: 48 páginas, 210 x 297 mm, com lombada quadrada.