No RJ, 6 pessoas que receberam órgãos transplantados contraíram HIV; 286 amostras estão sendo testadas

Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

Seis pessoas contraíram o vírus HIV ao receberem órgãos transplantados no Rio de Janeiro. A Vigilância Sanitária interditou o laboratório responsável pelos testes.

O recado na porta diz que o laboratório PCS, em Nova Iguaçu, está fechado para manutenção. Mas essa não é a verdade. O local foi interditado depois de emitir laudos errados de testes de HIV em doadores de órgãos. O PCS era o responsável por esses testes no estado do Rio.

O resultado de um doador saiu no dia 23 de janeiro de 2024: negativo para HIV. No dia 25 de maio, o exame de uma doadora também deu livre do HIV. E os órgãos foram liberados para quem aguardava na fila de transplantes.

Mas, em setembro, um paciente que havia recebido órgão de um desses doadores foi ao hospital com sintomas neurológicos e testou positivo para HIV. Ele não tinha o vírus antes da cirurgia. O hospital notificou a Secretaria Estadual de Saúde, que começou a investigar como a infecção aconteceu.

Quando um órgão é transplantado, uma amostra do sangue do doador fica guardada em um banco de doação, para eventual checagem. Nesse caso, ficou no Hemocentro do Rio. O Hemorio refez o teste nas amostras, e deu positivo.

Um homem de 28 anos doou dois rins, fígado, coração e córneas. A pessoa que recebeu o coração e as duas que receberam os rins testaram positivo para HIV. Outra pessoa, uma mulher de 40 anos, doou dois rins e um fígado. O exame dos três receptores deu positivo. Até o momento, a Secretaria de Saúde constatou que seis pacientes transplantados foram infectados com o HIV.

A Vigilância Sanitária fiscalizou o laboratório, mas não encontrou nenhum kit para teste de HIV. Os fiscais pediram a numeração dos testes já realizados e a nota fiscal de compra dos kits para analisar se havia algum erro de fabricação nos lotes. Mas o laboratório não entregou nenhum documento comprovando a compra dos itens. A polícia investiga se os testes foram realmente feitos.

O caso foi revelado pela rádio BandNews FM e confirmado pela TV Globo.

Um dos sócios da empresa Patologia Clínica Doutor Saleme, a PCS, é Matheus Vieira. Ele é primo do ex-secretário estadual de Saúde, Dr. Luizinho, agora deputado federal pelo PP. O laboratório foi contratado três meses depois da saída de Dr. Luizinho da secretaria. A contratação para análises para transplantes foi feita em dezembro de 2023, em um pregão, por R$ 11 milhões.

O diretor-geral da Central Estadual de Transplantes escreveu em um ofício interno na quarta-feira (9) que a atual gestão da Central não foi consultada ou ouvida durante todo o processo licitatório do laboratório, nem participou da elaboração do contrato. O diretor ressaltou que, na única oportunidade que teve de se manifestar para atestar a qualificação técnica do laboratório PCS, questionou a sua habilitação, uma vez que, segundo Alexandre Cauduro, não foram apresentados os documentos necessários para avaliação.

O Ministério da Saúde, a Polícia Civil, o Ministério Público, o Conselho Regional de Medicina e a Secretaria de Saúde investigam o caso. 286 amostras de doadores estão sendo testadas novamente, e o Hemorio assumiu a testagem dos doadores.

“O encaminhamento de todos os testes do Rio de Janeiro para o Hemorio, utilizando o teste NAT, um teste de alta qualidade produzido pela Fundação Oswaldo Cruz”, diz Nísia Trindade, ministra da Saúde.

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem o maior sistema público de transplantes do mundo e é reconhecido como um dos mais seguros e consolidados para esse tipo de procedimento. É o segundo país que mais faz transplantes, atrás apenas dos Estados Unidos.

“O sistema nacional de transplante é um sistema modelo e reconhecido mundialmente e é um sistema seguro, um sistema que segue uma normativa do Sistema Nacional de Transplantes da Anvisa. Toda uma cadeira de cuidado que é bastante segura e que deve seguir a risca as recomendações, que elas existem e são regulamentadas inclusive por lei”, diz Lígia Pierrotti, coordenadora da Comissão de Infecção em Transplante da ABTO.

“O sistema é seguro, o sistema permanecerá seguro. Esse foi um caso sem precedentes. A gente vai buscar, a todo momento, alguma ação necessária para corrigir, se houver, mas o sistema é seguro e está mantido seguro. Que as pessoas doem, porque doar salva muitas vidas. Já salvou mais de 16 mil vidas só aqui no Rio de Janeiro”, afirma Claudia Mello, secretária estadual de Saúde do Rio de Janeiro.

O ex-secretário de Saúde Dr. Luizinho disse que jamais participou da contratação do PCS ou de qualquer outro laboratório.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública informou que a Polícia Federal vai investigar o caso.

Fonte: G1

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