Um dia após o cenário caótico instaurado no interior de São Paulo em função do avanço recorde de incêndios em plantações e áreas de vegetação, os moradores perceberam, no domingo (25), uma melhora significativa na qualidade do ar com as chuvas ao longo do dia e as primeiras ações de uma força-tarefa do estado para controlar os incidentes com fogo.
Ainda assim, o alerta para novos focos foi mantido para cerca de 50 cidades paulistas pelas autoridades, que também têm pela frente a urgência de atender famílias e produtores rurais diretamente impactados pela destruição do fogo, que chegou a 20 mil hectares, segundo a Defesa Civil do estado.
O que também deve mobilizar trabalhos esta semana são as investigações na Polícia Federal, para tentar apontar as causas do acúmulo de incidentes com fogo no estado, considerado incomum pela ministra do Meio Ambiente Marina Silva.
No fim de semana, ao menos duas pessoas foram presas por suspeita de praticar incêndios criminosos, entre eles um homem, em Batatais (SP), que tinha no celular vídeos comemorando o avanço das chamas, segundo a polícia.
Qualidade do ar atingiu nível crítico
Com muita fumaça no céu e o cheiro forte, o clima das primeiras horas do domingo ainda eram resultantes de uma combinação de fatores que deixaram a umidade do ar abaixo dos 20%, bem como levaram a um acúmulo extremo de micropartículas respiráveis MP.10 – cinco vezes menores do que o diâmetro de um fio de cabelo – que colocaram em risco a saúde das populações locais e elevaram a procura por atendimentos médicos por problemas respiratórios.
“Isso é tão pequeno que entra nos pulmões e vai pra corrente sanguínea. Esse material particulado se espalha para os órgãos”, explica Lúcia Campos, professora de química ambiental da USP de Ribeirão Preto.
No final da tarde de sábado (24), quando o céu escureceu antes do anoitecer e amedrontou moradores de Ribeirão Preto, por exemplo, o nível de concentração dessas partículas saltou de 148 para 1 mil microgramas por metro cúbico entre as 17h e 19h, de acordo com medições da Companhia Ambiental do Estado (Cetesb).
Segundo a professora, essa mudança brusca, que elevou de “muito ruim” para “péssima” a classificação de qualidade do ar do município, foi uma soma de condições: os incêndios que desde o início da semana ocorriam na região e deixaram resíduos sobre o solo; o próprio solo; e as partículas resultantes dos novos focos que se alastraram sobretudo a partir da última quinta-feira (22). Uma combinação que acabou potencializada pelos ventos conduzidos pela aproximação de uma frente fria.
“Isso é um número absurdamente elevado. Eu nunca vi uma coisa tão grande. (…) Foi uma somatória infeliz “, afirma.
O cenário desolador e insuportável para muitos, no entanto, começou a mudar entre o fim da noite de sábado e a madrugada de domingo, quando a incidência de chuvas, ainda que em volumes reduzidos, ajudaram a reduzir a poeira em suspensão.
Após um novo pico de 614 microgramas por metro cúbico às 9h, essa concentração passou a baixar, até chegar, às 20h, a apenas 14, o que é considerado um nível bom de qualidade naquele horário e ainda não refletia no índice de qualidade final, contabilizado pela média das últimas 24 horas.
Diante disso, a perspectiva para a professora é de que, ao menos nesta segunda-feira (26), os índices de qualidade do ar estejam em patamares muito melhores do que os observados no fim de semana.
“A chuva derruba as partículas, retira as partículas como a gente retira a sujeira que está em cima da calçada”, diz.
Outro parâmetro importante para mensurar a qualidade do ar, a umidade relativa também se elevou , de acordo com dados da Cetesb: chegou a 19% às 16h de sábado, mas foi acima de 50% durante a madrugada de domingo e chegou a 90% às 20h.
Deu no G1