Representados pelas maiores lideranças políticas da história recente do país, o Partido Liberal (PL) e o Partido dos Trabalhadores (PT) adotaram posturas estratégicas para a formação de alianças nas capitais para as eleições de 2024, o que deve adiar um novo confronto direto entre as siglas que polarizaram o pleito presidencial de 2022.
Mas a indicação de vices nas chapas, o apoio à reeleição de prefeitos aliados ou as articulações de frentes partidárias de direita e de esquerda mantêm o acirramento político entre os grupos do ex-presidente Jair Bolsonaro e do atual presidente Lula, mesmo sem o protagonismo das candidaturas próprias de suas legendas. As alianças municipais nos maiores colégios eleitorais vão pavimentar os apoios políticos para 2026 e garantir o palanque nas capitais para um provável segundo round nacional entre PL e PT.
O recuo estratégico e a manutenção da queda de braço é o retrato eleitoral na maior capital do país. Em São Paulo, os partidos de Bolsonaro e Lula indicaram os pré-candidatos a vice nas chapas de Ricardo Nunes (MDB-SP) e Guilherme Boulos (Psol-SP), respectivamente. A candidatura pela reeleição do prefeito paulistano terá como vice o ex-comandante da Rota, coronel Mello Araújo (PL-SP), nome escolhido pelo ex-presidente da República.
O anúncio que confirmou o nome do vice de Nunes também contou com a presença de Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), governador de São Paulo, que pode migrar para o PL até 2026 se optar pela disputa presidencial, caso a inelegibilidade de Bolsonaro seja mantida na Justiça Eleitoral.
No PT, a chapa encabeçada por Boulos com a petista Marta Suplicy como vice foi costurada por Lula. A ex-prefeita de São Paulo deixou a gestão de Ricardo Nunes para voltar ao PT depois de nove anos, atendendo o convite do presidente da República.
“Além de amarrar os apoios para o jogo em 2026, em alguns casos, percebemos movimentos anteriores com reflexo na eleição deste ano. Em São Paulo, havia um acordo para que Boulos não se lançasse candidato ao governo em 2022 para não prejudicar a candidatura de Fernando Haddad e dividir a esquerda. Em troca, o PT não lançou um nome para a eleição municipal deste ano. Então, isso é resultado de um pleito anterior, assim como teremos repercussões nas próximas eleições por causa das alianças em 2024”, analisa o cientista político e professor do Insper Leandro Consentino.
Apesar da decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que cassou os direitos políticos do ex-presidente, Bolsonaro segue como o principal cabo eleitoral da direita brasileira com apoio cobiçado por diferentes partidos na construção de alianças. “Se o PL está pensando na candidatura à presidência, por que trazer um nome que, em tese, não pode disputar as eleições? Porque ele [Bolsonaro] é um grande cabo eleitoral. Do outro lado, o presidente da República com a agenda não precisa sequer do reforço do programa político. Já aparece todos os dias e o PT usa essa evidência para de alguma forma catalisar [o apoio eleitoral]”, avalia.
No Rio de Janeiro, a campanha do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) aposta na presença de Jair Bolsonaro para chegar ao segundo turno com a transferência de votos ao pré-candidato. Do outro lado, o atual prefeito do Rio, Eduardo Paes, não abriu a vaga de vice para indicação do PT e fez um movimento de descolamento da esquerda.
O aceno à direita veio com o anúncio do apoio do deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ). Bolsonarista e conservador, o parlamentar é pastor da Assembleia de Deus e pode coordenar a campanha de Paes entre os evangélicos. O acordo tem como condição o veto ao vice petista na chapa pela reeleição. O favorito para compor a chapa ao lado de Paes é o deputado federal Pedro Paulo (PSD-RJ).
No Recife (PE), o partido de Lula também sofre com a resistência do prefeito João Campos (PSB) ao nome de um petista para a vaga de vice.
“Vale a pena surfar na onda da polarização [em busca de votos]. Mas tem que tomar muito cuidado com a rotulagem. Como dizia Ulysses Guimarães, na política, você tem que estar nem tão perto que não possa se distanciar e nem tão longe que não possa se aproximar”, ressalta Consentino, que confirma a tendência dos pré-candidatos de optaram por lados no ambiente polarizado como estratégia eleitoral.
Segundo ele, a articulação partidária nos pleitos municipais permite uma “dicotomia entre a realidade local e os compromissos para 2026”, o que não causa “constrangimento” no meio político. “Aliados do presidente Lula que possuem ministérios no governo estão embarcando na candidatura de Ricardo Nunes para prefeito de São Paulo”, exemplifica. Além disso, o União Brasil, partido com o maior número de deputados na base do governo Lula, também está alinhado à direita ou centro-direita na maioria das capitais para as eleições deste ano.
Deu na Gazeta do Povo