Lula ataca Banco Central e Arthur Lira sai em defesa da autonomia

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Na véspera da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para decidir a nova Taxa Selic, e num momento em que analistas do mercado preveem que os juros vão parar de cair, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou na terça-feira (18) o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. A reunião para definir a Selic começa na terça-feira. A taxa atual está em 10,5% e, se for mantida, vai interromper uma sequência de redução nos juros iniciada em agosto de 2023.

Lula afirmou que o comportamento da instituição é a única coisa “desajustada” na economia do país. E comparou Campos Neto ao ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (União-PR), que foi o responsável por condená-lo na Lava-Jato. Segundo o petista, Campos Neto tem “lado político” e não demonstra “capacidade de autonomia”.

“Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil nesse instante, é o comportamento do Banco Central, essa é uma coisa desajustada. Um presidente do BC que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que na minha opinião trabalha muito mais para prejudicar o país do que ajudar, porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que está”, afirmou o presidente em entrevista à CBN.

Lula disse ainda que indicará um novo presidente para o Banco Central – o mandato de Campos Neto termina no fim deste ano – que seja sério e que tenha compromisso com o desenvolvimento e que não pense só no controle da inflação.

Para ele, “temos que pensar em uma meta de crescimento, porque é o crescimento econômico, da massa salarial, que vai permitir a gente controlar a inflação”.

SUBSÍDIOS

A fala ocorre um depois de o presidente reunir a equipe econômica no Palácio do Planalto para iniciar a discussão sobre revisão de gastos do governo. Lula sinalizou no encontro, porém, que o corte de despesas deve vir só em 2025.

“Estamos fazendo um estudo muito sério sobre o Orçamento. Não gosto de gastar aquilo que eu não tenho. A equipe econômica tem que me apresentar as necessidades de corte. Ontem quando eu vi a demonstração da (ministra do Planejamento, Simone Tebet), disse para ela que fiquei perplexo. A gente discutindo corte de R$ 10 bilhões, R$ 15 bilhões aqui e de repente você descobre que que tem R$ 546 bilhões de benefício fiscal para os ricos nesse país, como é que é possível?”.

ELEIÇÃO

Sem citar o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro, afirmando que foi orientado a não falar o nome do seu antecessor, Lula disse que Bolsonaro não se preocupava com o Orçamento e deixou “o Congresso fazer o quisesse”.

E afirmou que poderá se candidatar à reeleição para evitar o retorno de “trogloditas” ao comando do país: “Não quero discutir eleição e reeleição porque eu tenho apenas um ano e sete meses de mandato, quero cumprir aquilo que eu prometi ao povo brasileiro. Quando chegar o momento de discutir, tem muita gente boa para ser candidato, não preciso ser candidato. Agora, presta atenção no que eu vou te falar, se for necessário ser candidato para evitar que os trogloditas que governaram voltem a governar, pode ficar certo que meus 80 anos virarão 40 e eu poderei ser candidato”, afirmou Lula.

CREDIBILIDADE

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), defendeu a autonomia do Banco Central nesta terça-feira (18). Segundo ele, a “credibilidade” da política monetária do país aumentou após a adoção da medida.

“A autonomia do Banco Central, às vésperas do Copom, aumentou a credibilidade da nossa política monetária. O nosso arcabouço fiscal e a reforma tributária racionalizam a nossa política fiscal”, disse durante participação no evento CNN Talks.

Lira ainda afirmou que a Câmara dos Deputados tem empurrado o país “na direção correta”, com apoio a reformas econômicas e “resistindo a toda tentativa de retrocesso”.

As falas de Lira vem em meio às críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra o presidente do BC, Roberto Campos Neto.

REUNIÃO

O Comitê de Política Monetária (Copom) começa a se reunir nesta terça e, nesta quarta-feira (19), e poderá decidir por um novo corte na Selic. Desde a última reunião, ocorrida em maio, o colegiado reduziu o ritmo e é esperado que os diretores mantenham o corte em 0,25 ponto percentual.

AUTONOMIA

Em 2021, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) sancionou a lei complementar 179/21, que confere autonomia operacional ao Banco Central. A medida garantiu mandatos fixos ao presidente e aos diretores da instituição financeira.

O orçamento da autoridade monetária, no entanto, ainda é vinculado ao governo federal. Ou seja, o Banco Central tem autonomia operacional, mas não financeira.

Desde o ano passado, Campos Neto tem atuado para aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 65/23, que propõe a autonomia fiscal e orçamentária do Banco Central. O texto está em análise na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal.

Deu na Tribuna do Norte

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