A ministra Sonia Guajajara, dos Povos Indígenas, reconheceu nesta quinta (22) que as ações do governo na Terra Indígena Yanomami foram insuficientes ao longo de 2023 e que as mortes de 363 pessoas pode ter sido subnotificada. O reconhecimento ocorre dias depois de um relatório preliminar do Ministério da Saúde indicar a letalidade de indígenas no ano passado maior do que em 2022, quando foram contabilizadas 343 mortes.
Guajajara, no entanto, refutou que o aumento das mortes representa um descaso da gestão petista, e atribuiu ao governo de Jair Bolsonaro (PL) parte da culpa, como o fechamento de seis polos-base de atendimento e baixo efetivo de profissionais – além da subnotificação.
“Entendemos que um ano não foi suficiente para gente resolver todas as situações instaladas ali, com a presença do garimpo, com a presença de quase 30 mil garimpeiros convivendo diretamente no território, aliciando e violentando os indígenas impedindo que as equipes de saúde chegassem ali”, disse durante uma entrevista à tarde com representantes da Funai e do Ministério da Saúde, além do ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social.
O reconhecimento das falhas, no entanto, já havia sido adiantado pela própria ministra em janeiro, quando participou de uma live em que admitiu o insucesso da chamada “missão yanomami”.
A ministra afirmou que, apesar dos números, o governo agora tem um panorama mais completo da situação e “sai desse estado de ações emergenciais e passamos ao estado de ações permanentes a partir da instalação da Casa de Governo em Boa Vista”. A estrutura será montada dentro do território e terá representantes fixos de 13 ministérios.
Sonia Guajajara explicou que a quantidade de mortes de indígenas no último ano de Bolsonaro foi subnotificada, por conta da menor presença de médicos e equipes de assistência. E, até mesmo, a contagem da população guarda imprecisões, com uma diferença de cerca de quatro mil entre os dados do IBGE (27,1 mil) e dos sistemas do Ministério da Saúde (31 mil).
Ethel Maciel, secretária Nacional de Vigilância e Saúde e Ambiente, afirmou que essa diferença vai levar a mais uma subnotificação neste ano, “mas agora sabemos e temos diagnóstico do que está acontecendo”. Ela disse, ainda, ter a certeza que a letalidade reduziu em 2023 na comparação ao que teria sido subnotificado no ano anterior.
Entre as ações do governo, segundo o ministério, houve a ampliação de 690 para 1.058 profissionais nas localidades e aumentou de 9 para 28 os profissionais do Mais Médicos no território. Também foram realizadas 3,4 mil remoções de indígenas para atendimento médico, recuperação nutricional de 400 crianças e aplicação de 59 mil doses de vacinas.
Outra ação prometida pelo governo é a construção de um hospital indígena em Boa Vista, com estudos em andamento para entender as particularidades da população Yanomami para prestar atendimento na unidade. Também foi anunciada a construção ou reforma de 22 unidades básicas de saúde, mas sem explicar quantas estarão prontas ainda neste ano.
Em janeiro, o governo anunciou a instalação de três bases de vigilância no território, com a atuação da Polícia Federal e das Forças Armadas em um investimento previsto de R$ 1,2 bilhão.
Informações da Gazeta do Povo