Uma empresa ligada ao deputado federal Ismael Alexandrino (PSD-GO) teve R$ 787 mil sacados em espécie de sua conta bancária durante o período de pelo menos seis meses. Na mesma época, essa empresa recebia repasses de verba pública da saúde do governo de Goiás e do município de Iporá (GO).
A empresa em questão é a Amme Saúde, que tem como sócia majoritária Andréia Lopo, ex-recepcionista de uma clínica de Brasília do médico Daniel Alexandrino, irmão de Ismael (foto em destaque). Para a Delegacia de Combate à Corrupção de Goiás (Deccor), Andréia é “laranja” de Daniel na empresa. Saques em espécie em grandes quantidades são operações suspeitas de lavagem de dinheiro.
Reportagem do Metrópoles de junho de 2022 revelou os contratos suspeitos da Amme Saúde com o poder público. Em janeiro do ano passado, a Polícia Civil de Goiás entrou no caso e deflagrou a Operação Sinusal, prendendo preventivamente Daniel, Andreia e Fernando Borges de Oliveira, outro suspeito de envolvimento no esquema. Eles foram soltos alguns dias depois e a investigação ainda não foi concluída.
Agora, a reportagem teve acesso aos extratos bancários apreendidos no escritório da empresa, que revelam uma rotina de saques em dinheiro vivo. Para se ter uma ideia, só no dia 25 de fevereiro de 2022 foram sacados R$ 150 mil da conta bancária da empresa. Em 17 de março, R$ 140 mil. Em 31 de janeiro do mesmo ano, R$ 160 mil em espécie. Veja os valores e datas:
Entra recurso público, sai dinheiro vivo
Nos meses de fevereiro e março de 2022, últimos da gestão de Ismael como secretário estadual de Saúde de Goiás, a Amme Saúde levou mais de R$ 10 milhões em contratos para prestação de serviços médicos especializados em duas policlínicas e um hospital públicos de Goiás.
Os contratos eram com a organização social Instituto Brasileiro de Gestão Compartilhada (IBGC), que repassava recursos do estado para a empresa ligada aos irmãos Alexandrino. Ismael deixou a secretaria para se candidatar a deputado federal e ganhou, com quase 55 mil votos.
A Amme também levou R$ 3,7 milhões em um contrato com a prefeitura de Iporá para o fornecimento de leitos de UTI no contexto da pandemia da Covid-19. O contrato foi assinado em junho de 2021.
Ao mesmo tempo que a Amme recebia recursos da organização social IBGC e do Fundo Municipal de Saúde de Iporá, eram sacados altos valores em espécie. Só entre novembro de 2021 e abril de 2022, período de extratos a que a reportagem teve acesso, foi sacado um total de R$ 786.999,97, arredondado para R$ 787 mil.
Falta de fiscalização
Relatório do Tribunal de Contas do Estado de Goiás (TCU-GO) de novembro de 2022 identificou “superestimação de metas em relação às metas executadas” em seis contratos da Amme Saúde com duas policlínicas estaduais. Ou seja, a empresa estava recebendo mais verba pública do que realmente estava oferecendo em contrapartida.
Essas duas policlínicas apontadas no relatório do TCU são das cidades de Goiás e São Luís de Montes Belos, sendo que a última se chama Ismael Alexandrino Pinto, em homenagem ao pai do deputado Ismael, que morreu em 2021.
Ainda segundo o relatório do TCU, houve deficiências na fiscalização do contrato por parte da Secretaria de Estado da Saúde. O Tribunal de Contas fez uma série de recomendações, incluindo o ressarcimento imediato aos cofres públicos dos valores recebidos a mais do que o executado.
Deu no Metrópoles