Buffet com “sofisticação”, bebidas de “alto nível” e banda trotskista: o Réveillon do PCO

 

Um novo ano está prestes a começar e, para o PCO (Partido da Causa Operária), renovam-se as esperanças de que a revolução comunista finalmente virá. Enquanto isso não acontece, a sigla decidiu celebrar a chegada de 2024 com uma festa requintada.

O partido, que tem 5.447 membros em todo o Brasil, está com tudo pronto para o “Réveillon Vermelho”, em São Paulo. O site oficial descreve o evento como “A festa mais antiga da esquerda.”

Como a revolução comunista ainda não aconteceu, só entra na festa quem desembolsar R$ 350 pelo ingresso. Um operário casado e com dois filhos adolescentes terá de gastar R$ 1.400 reais — mais de um salário mínimo.

Os organizadores garantem que vale a pena.

Buffet com “sofisticação”

Para celebrar a chegada de 2024, o PCO reservou um bufê chique no bairro do Ipiranga, em São Paulo. O local costuma realizar casamentos, festas de 15 anos e confraternizações de empresas. Em sua página na internet, o espaço se apresenta assim: “Realçado com um toque de beleza coloquial, a arquitetura do Buffet para eventos possui toques carismáticos de legítimo charme e sofisticação.”

Quem comprar os ingressos terá comida e bebida à vontade. “O réveillon vai ser uma fartura de comida. A gente quer isso para os operários”, explicou nesta sexta-feira Márcio Roberto, integrante do diretório do PCO e responsável pela organização da festa. Ele participou de uma transmissão ao vivo na página do jornal Causa Operária, mantido pelo PCO.

Roberto deu mais detalhes sobre o evento, que vai até as 3h da madrugada: “A ceia vai ser gigante”, prometeu. Serão “mais de 10 tipos de cerveja”. A bebida vai ser “de alto nível”. Por exemplo: os comunistas vão se deliciar com conhaque das marcas Napoleon e Macieira. “Quem conhece bebida sabe”, explicou Roberto.

A festa do Partido da Causa Operária não terá nada de simplória. “É uma coisa sofisticada, da maneira que os operários merecem passar a virada de ano”, disse Roberto. Para quem estiver preocupado com uma possível traição aos ideais marxistas, o militante tem boas notícias: “O primeiro embrião de um partido operário marxista foi a Liga Comunista, formado por Marx e Engels. E eles desde o início já faziam confraternização para comemorar o ano passado e ter energia para o ano novo”.

À meia-noite, o PCO promoverá uma queima de fogos que promete ficar marcada na memória do bairro do Ipiranga e, quem sabe, marcar a chegada do ano da revolução.

Banda trotskista na programação

A festa será animada pela banda Revolução Permanente, formada por militantes trotskistas. Quem comparecer à festa estará protegido do pensamento burguês dos outros conjuntos musicais. “As músicas que eles vão tocar foram selecionadas a dedo”, explica Roberto. “Inclusive o próprio companheiro Rui participou da seleção dessas músicas”, diz. Ele se refere Rui Costa Pimenta, eterno presidente do PCO.

Uma das canções da banda Revolução Permanente inclui os versos “É mesmo um verme de milico / A faca saiu até limpa”, em referência à facada em Jair Bolsonaro em 2018.

O evento terá ainda sorteio de prêmios (no ano passado, o principal deles foi uma TV de plasma). E quem comparecer também vai assistir ao lançamento de uma “campanha permanente em defesa da Palestina”.

Aliás, quando não está organizando festas de ano novo, Márcio Roberto costuma desfilar pela Avenida Paulista com a bandeira do Hamas nas mãos e, à semelhança das fãs da apresentadora Xuxa, uma faixa com os dizeres “100% Hamas” na testa.

Em 2022, Márcio Roberto tentou se eleger deputado estadual mas teve a candidatura indeferida. Quatro anos antes, ele disputou como vice na chada de Lilian Miranda ao governo paulista. Em 2016, concorreu a um assento na Câmara de Vereadores de São Paulo e conquistou 56 votos. É provável que a festa de ano novo do PCO reúna mais gente.

Pagamento facilitado

O valor de 350 reais pode ser pago por PIX, cartão, boleto ou por meio da plataforma Mercado Pago.

O site oficial do evento exibe os símbolos do Itaú, da Visa e da Mastercard para assegurar aos visitantes que a compra do ingresso tem o respaldo do sistema financeiro capitalista. Bem ao lado, o texto convida os revolucionários a comparecer: “Que possamos celebrar, juntos, as lutas e as conquistas da classe operária contra os retrocessos e o esforço da burguesia para manter os trabalhadores presos em seus grilhões.”

Talvez por distração, a página do evento troca 2024 por 2023: “Que 2023 seja um ano próspero para todos, sobretudo os oprimidos e companheiros que estão conosco nas trincheiras, dia após dia.” Mas, para quem vive no século passado, um ano a menos faz pouca diferença.

Informações da Gazeta do Povo

 

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