O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, deixou claro que não pretende antecipar sua saída do comando da autoridade monetária.
Alvo de uma série de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de integrantes do governo, inclusive durante o seminário promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) na quinta-feira (25/5), Campos Neto tem mandato até 2024 na presidência do BC. E diz que vai cumpri-lo até o fim.
“Eu tenho mandato até 2024 e não vou abreviar. O que eu sempre disse é que não estava disposto a uma recondução. Já fiz bastante coisa, tem que passar o bastão para o próximo”, afirmou o presidente do BC, em entrevista à GloboNews.
A eventual troca de comando do BC começou a ser especulada após a indicação do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, para a Diretoria de Política Monetária do BC. O número 2 da pasta deve ser sabatinado no Senado, na próxima semana.
Nos bastidores, comentava-se que Galípolo era cotado para suceder Campos Neto na presidência do BC, o que poderia abrir espaço para uma saída do atual chefe da autoridade monetária antes do fim de seu mandato.
Campos Neto vem sendo o alvo preferencial de Lula e parte do governo, que criticam a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano, considerada um entrave para a retomada do crescimento do país. A desaceleração da inflação nos últimos meses pressiona ainda mais o BC a iniciar a queda dos juros. Ontem, na Fiesp, Lula disse que os juros atuais no país são uma “excrescência”.
“Não sei, acho que ele (Galípolo) vai chegar, tem o trabalho da Diretoria de Política Monetária a ser feito. A gente vai discutir ao longo do tempo. Quem decide o novo presidente é o governo. Pode decidir por alguém que está na casa ou não”, disse Campos Neto, sobre a possível chegada de Galípolo ao BC. “Vai ser um processo de aprendizado para ele, como foi para mim quando cheguei”, completou.
Campos Neto reiterou os elogios que já havia feito a Galípolo e ao servidor de carreira Ailton Aquino dos Santos, indicado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para a Diretoria de Fiscalização.
“Converso bastante com o Galípolo desde o início do governo. Ailton é superquerido dentro do BC. As indicações do governo fazem parte da regra do jogo da autonomia e foram boas”, disse o presidente do BC. “Tenho certeza de que os diretores que entrarem entenderão que o processo é técnico.”
Autonomia
Em fevereiro de 2021, o então presidente Jair Bolsonaro sancionou o projeto que deu autonomia ao BC e, assim, limitou a influência do Executivo sobre as decisões relacionadas à política monetária.
Pela regra vigente desde então, os mandatos do chefe do BC e do titular do Palácio do Planalto não são mais coincidentes. O presidente do banco assumirá sempre no primeiro dia útil do terceiro ano de cada governo. Assim, o chefe do Executivo federal só poderá efetuar troca no comando do BC a partir do segundo ano de gestão. No caso de Lula, isso só acontecerá em 2024.
Deu no Metrópoles