A ampla maioria dos economistas e analistas do mercado financeiro acredita que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve seguir pelo caminho mais agressivo e fazer um aumento de, pelo menos, 1,5 ponto na Selic, a taxa básica de juros do país, para 7,75%, nesta quarta-feira (27).
É o que indica pesquisa com 264 casas feita pela corretora BCG Liquidez na terça-feira, pouco depois da divulgação da prévia da inflação de outubro, que mostrou mais um recorde para o mês e ampliou a alta em 12 meses para os 10,3%.
Se o aumento se confirmar, será a maior elevação já feita pelo BC nos juros de uma única vez em 18 anos – desde 2003 até o início de 2021, todos os aumentos feitos na Selic tinham sido apenas de 0,25, 0,5 ou 0,75 ponto.
Desde a reunião retrasada, em julho, o Copom já vinha elevando a Selic com ajustes de 1 ponto, magnitude que também não era aplicada desde 2003, ano em que a primeira eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez dólar e inflação dispararem em poucos meses.
De março até aqui, a Selic subiu de 2%, o menor valor de sua história, para 6,25%, na escalada mais rápida também desde 2003.
De acordo com o levantamento da BCG, 191 dos 264 entrevistados (72%) apostam na alta de 1,5 ponto nesta quarta-feira. Outros 37 analistas acham que a alta pode ser ainda maior: de 1,75 ponto (3%), 2 pontos (10%) e 2,5 pontos (0,4%).
Apenas 37 deles, ou 14% do total, ainda acham que o aumento será de 1,25 ou 1 ponto.
Auxílio Brasil maior e ‘puxadinho’ no teto
Até poucas semanas atrás, havia pouca discordância de que o BC faria um novo ajuste de 1 ponto, o que vinha sendo sinalizado pelo próprio Copom em seus comunicados. O consenso, porém, mudou rápido nos últimos dias, levando as apostas para ajustes mais altos.
Por trás da mudança, está o imbróglio criado pelo governo na semana passada ao anunciar um Auxílio Brasil maior do que o que vinha sendo dito e a intenção de uma mudança completa na metodologia do teto de gastos, o que deve ampliar o espaço para despesas no eleitoral e fazer com que a dívida do país volte a crescer. As propostas ainda dependem de aprovação no Congresso.
As notícias fizeram a bolsa de valores ter uma das piores semanas do ano e jogou o dólar de volta para perto dos R$ 5,60, conforme a confiança dos investidores no compromisso do governo com a responsabilidade nos gastos virava pó.
A reviravolta no cenário também levou a uma onda de revisões nas projeções dos economistas para os principais indicadores econômicos em 2022: o dólar mais alto deve piorar a inflação no ano que vem, o que deve forçar o BC a subir ainda mais os juros, o que deve ter impacto no crescimento econômico e reduzir o PIB.
Boa parte dos economistas já falam agora na Selic passando dos 10% até o começo de 2022 – e, para alguns, ela pode até ultrapassar a barreira dos 11%.