Pastores com 50 milhões de seguidores no Instagram, Facebook e Twitter expressam apoio a Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição na corrida pelo Palácio do Planalto. Juntos, os dez maiores líderes religiosos apoiadores do presidente ecoam mensagens da luta do bem contra o mal e de uma guerra, em sintonia com o discurso do presidente. Com medo da derrota e em reação ao avanço de Bolsonaro, a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu criar perfis nas redes sociais direcionados aos evangélicos.
Em período eleitoral, o apoio de pastores é valioso. A missão, segundo eles, é salvar o País. “Eu te convido, com as suas mãos erguidas, a orar. Nós temos nesta tela a Bandeira do Brasil 2022 é um ano de guerra. Nós estamos em guerra. É uma batalha ideológica, de filosofias, é uma batalha cultural”, disse o pastor André Valadão, da Igreja Batista Lagoinha, em janeiro, em um prenúncio do que seria 2022.
A pregação foi publicada no Instagram, rede na qual o líder tem 5,3 milhões de seguidores. Foi em um culto com Valadão que a primeira-dama Michelle Bolsonaro afirmou que o Planalto era “consagrado a demônios”.
Outro líder é Claudio Duarte, com mais de 13,9 milhões de seguidores. Da Igreja Projeto Recomeçar, o líder se apresenta como “um pastor seriamente engraçado”. Entre sermões e esquetes de humor, usa as redes para publicar fotos com o presidente. “Eu sou eleitor de Bolsonaro, sou cabo eleitoral dele e sou intercessor dele”, afirmou, em vídeo.
Na corrida eleitoral, o apelo à fé tem surtido efeito. Bolsonaro cresceu no segmento evangélico, que corresponde a 25% da amostra da mais recente pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira. Ele subiu de 43% para 49%, enquanto Lula oscilou de 33% para 32%.
Em comício no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, o ex-presidiário Lula tratou de religião e política. “O Estado não tem de ter religião todas as religiões têm de ser defendidas pelo Estado. Mas também quero dizer: as igrejas não têm de ter partido”, afirmou. Segundo ele, “tem gente” que “está fazendo da igreja um palanque político”.
Para frear as investidas de Bolsonaro, a campanha do petista informou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), também ontem, da abertura nas redes das contas “Evangélicos com Lula”. Em nota, a assessoria disse que a iniciativa “partiu de religiosos”. “Alguns setores evangélicos – tanto dos partidos da coligação quanto de fora dela – nos contataram com interesse em atuar junto a comunidades evangélicas na campanha, e, para isso ser possível, registramos esses sites e perfis no TSE.”
Por interesse estritamente político, Lula já esteve próximo de pastores e os puxava para sua órbita de poder. Idealizador da Marcha para Jesus, o apóstolo Estevam Hernandes, da Renascer em Cristo, hoje, é um dos principais cabos eleitorais de Bolsonaro – na foto de perfil, já aparece ao lado do presidente. Ele, por exemplo, esteve na ocasião da sanção da lei que instituiu um dia para a realização da marcha, em 2003, durante o governo do petista.
O prestígio dado a líderes religiosos no passado não se mostra suficiente agora. Novo conselheiro de Lula na comunicação com evangélicos, o pastor Paulo Marcelo Schallenberger fala apenas com 260 mil seguidores nas redes. Já o pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), fundador da Igreja Batista do Caminho e pré-candidato a deputado federal, acumula 913 mil seguidores.
Ex-aliado de Lula e fundador da Catedral do Avivamento, o deputado Pastor Marco Feliciano (PL-SP) mudou de lado. “Sou a favor de Bolsonaro porque ele defende os valores cristãos e da família tradicional. Sou contra Lula porque ele defende a subversão desses valores. É uma questão de sobrevivência”, afirmou Feliciano.
Em maior ou menor intensidade, Silas Malafaia, Damares Alves, Valdemiro Santiago, José Wellington Bezerra da Costa, Josué Valandro Jr. e o bispo Robson Rodovalho também dão suporte ao presidente nas redes sociais. E, pelos menos, na disputa entre os eleitores evangélicos, parece não haver dúvidas de que o presidente possui larga vantagem sobre o ex-presidiário Lula.