Cientistas internacionais, participantes do projeto Event Horizon Telescope (EHT), divulgaram nesta quinta-feira, 12, a imagem do buraco negro supermassivo localizado no centro da Via Láctea. Denominado Saggitarius A* (Sgr A*), por ter sido detectado na direção da constelação de Sagitário, ele possui uma massa de cerca de quatro milhões de sóis e está a cerca de 27.000 anos-luz da Terra. Sua existência era suspeita desde 1974, quando uma fonte de rádio incomum foi detectada no centro da galáxia. Na década de 1990, vários astrofísicos confirmaram a presença de um objeto compacto supermassivo naquele local, o que rendeu um Prêmio Nobel de Física em 2020.
A captura desta imagem representa a primeira prova visual desse objeto e faz com que os cientistas acreditem que isso comprove que os mesmos princípios da física operam no coração de dois sistemas de tamanhos muito diferentes. Um buraco negro, tecnicamente, não pode ser examinado diretamente devido a sua densidade e atração gravitacional tão poderosa que nem mesmo a luz pode escapar de sua força de atração. Mas é possível detectar a matéria que circula ao seu redor, antes de ser engolida. Os buracos negros podem receber duas classificações: estelares, quando têm uma massa equivalente a três vezes a do Sol, e supermassivos, quando sua massa é equivalente a milhares, ou mesmo bilhões de sóis. “Temos dois tipos completamente diferentes de galáxias e duas massas muito diferentes de buracos negros, mas quando você examina suas bordas, esses buracos parecem notavelmente semelhantes”, disse Sera Markoff, co-presidente do conselho de ciência do EHT, em um comunicado que acompanha o anúncio.
A imagem apresentada é o resultado de várias horas de observação realizadas essencialmente em 2017, além de cinco anos de cálculos e simulações realizados por mais de 300 pesquisadores de 80 institutos. Conseguir esse registro foi muito mais difícil do que a da galáxia M87*, porque o buraco negro no centro da Via Láctea é muito menor e porque há nuvens de poeira e gases que se estendem por milhares de anos-luz e o ocultam. Em 2019 a EHT já tinha conseguido a captura histórica do buraco negro supermassivo de M87, equivalente a seis bilhões de massas solares e localizado a 55 milhões de anos-luz de distância. O Sgr A+ representa, portanto, um “peso-pena” em comparação.
As duas imagens que os cientistas agora têm, e sua comparação, permitirão o estudo detalhado do comportamento da matéria em condições extremas, com plasma a “bilhões de graus, poderosas correntes magnéticas e matéria que circula a uma velocidade próxima à da luz”, explicou o professor Heino Falcke, ex-diretor do conselho científico do EHT que produziu a imagem do M87*. Tais condições adversas permitirão explorar fenômenos como as deformações do espaço-tempo perto de um objeto supermassivo, previstas na teoria da relatividade geral que Albert Einstein formulou em 1915.
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