Abraão Lincoln foi preso em 2015, apontado como líder de organização criminosa

Foto: Wesley Amaral/Câmara dos Deputados

O potiguar Abraão Lincoln Ferreira da Cruz, presidente da Confederação Brasileira dos Trabalhadores de Pesca e Aquicultura (CBPA), investigado na CPMI do INSS, acumula um histórico de condenações e investigações que vão de crimes eleitorais a suspeitas de liderar organização criminosa e de participação no esquema bilionário de descontos indevidos em benefícios previdenciários.

Abraão foi condenado em agosto deste ano por prática de caixa dois nas eleições de 2014, quando disputou uma vaga na Câmara dos Deputados pelo Rio Grande do Norte. Segundo o Ministério Público Eleitoral, ele utilizou a conta bancária de uma auxiliar subordinada a ele como “laranja” para movimentar recursos não declarados à Justiça Eleitoral.

Caixa dois nas eleições de 2014

De acordo com a investigação, valores considerados vultosos circularam na conta da funcionária. Parte do dinheiro era sacada por um filho de Abraão e, em outros momentos, transferida para contas de familiares, inclusive da esposa. Entre os depósitos identificados estão R$ 86 mil feitos por um policial militar e R$ 46 mil depositados pela esposa do próprio Abraão.

O sindicalista alegou que os recursos seriam fruto de uma “vaquinha” para fomentar movimentos nacionais do setor pesqueiro e custear o evento “Gritos da Pesca”. O Ministério Público, no entanto, apontou inconsistências e informou que o evento ocorreu em período diferente das movimentações bancárias investigadas.

A apuração eleitoral teve origem em desdobramentos da Operação Enredados, da Polícia Federal.

Operação Enredados e acusação de liderança criminosa

Em 2015, Abraão Lincoln foi um dos 18 alvos da Operação Enredados, deflagrada pela PF para investigar crimes ambientais, lavagem de dinheiro e irregularidades contra a administração pública no setor pesqueiro.

Na decisão que decretou sua prisão preventiva, em outubro de 2015, Abraão foi apontado como líder de uma organização criminosa que atuava junto ao extinto Ministério da Pesca e Aquicultura. Entre as acusações estão corrupção ativa, crimes ambientais e emissão de autorizações em desacordo com normas legais, incluindo licenças para comercialização de arraias ornamentais por empresas de fachada.

Ele foi solto em janeiro de 2016, após pedido da defesa. O processo ainda tramita na Justiça.

Prisão por falso testemunho na CPMI do INSS

Mais recentemente, em 4 de novembro deste ano, Abraão voltou a ser preso, desta vez durante sessão da CPMI do INSS, sob acusação de falso testemunho. Segundo a comissão, ele mentiu ao negar relação pessoal com o tesoureiro da CBPA, Gabriel Negreiros, que é padrinho de seu neto.

Durante a oitiva, o deputado federal Duarte Jr. (PSB-MA) apresentou uma foto do batizado da criança e afirmou que Abraão teria depositado R$ 5 milhões na conta de Negreiros. Pressionado, o presidente da CBPA alegou ter se confundido nas respostas. A CPMI sustenta que ele mentiu em ao menos cinco momentos. Após pagamento de fiança, foi liberado.

Farra do INSS e suspeitas sobre a CBPA

A CBPA é uma das entidades investigadas no escândalo conhecido como Farra do INSS, revelado pelo portal Metrópoles. Segundo a Controladoria-Geral da União (CGU), a confederação arrecadou R$ 221,8 milhões em cerca de dois anos com descontos associativos em aposentadorias e pensões.

Dados da CPMI apontam que 99% dos aposentados e pensionistas que reclamaram afirmaram não ter autorizado os descontos. A CGU também identificou mais de 40 mil pedidos de inclusão de descontos em benefícios de pessoas mortas.

Apesar do crescimento exponencial — chegando a 757 mil cadastrados até 2025 — a entidade não possui estrutura compatível com esse volume. Relatórios indicam ausência de funcionários registrados e suspeita de uso irregular de empresas de telemarketing, prática vedada no acordo de cooperação técnica com o INSS.

Ligações políticas e com o “Careca do INSS”

Abraão Lincoln já comandou o Republicanos no Rio Grande do Norte e foi candidato a deputado federal em 2018. Ele mantém relações com políticos da legenda e com quadros ligados ao INSS.

A CBPA também aparece como uma das entidades que pagaram o lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, apontado como um dos pivôs do esquema de fraudes nos descontos previdenciários.

O que diz a defesa

Em nota ao Metrópoles, a defesa de Abraão afirmou que recorreu da condenação por caixa dois e que o recurso ainda não foi julgado pelo TRE-RN. Segundo o advogado Emanuel Grilo, os valores questionados representariam uma fração irrisória dos gastos de campanha declarados e não haveria intenção deliberada de ocultar despesas.

Enquanto isso, Abraão Lincoln segue no centro das investigações que apuram um dos maiores escândalos recentes envolvendo o sistema previdenciário brasileiro.

Com informações de Metrópoles

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