O traficante Luiz Carlos Bandeira Rodrigues, o Da Roça ou Zeus, de Rondônia, chegou ao Rio há pouco mais de dois anos sob a chancela de Fernandinho Beira-Mar. Os dois estiveram na Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, de 2019 a 2021, mas a relação é anterior a esse período. Segundo investigação da Polícia Civil rondoniana, Zeus já ensinava comparsas a fazerem contato com o chefe em 2015, quando um áudio foi interceptado por agentes:
“Você faz o seguinte. Elabora aí o informativo e lança no WhatsApp do (também traficante) Matemático, que vou encostar ali na cunhada para ver o dia que pode mandar lá para dentro (do presídio). Vai passar do WhatsApp para o papel, do papel vai para a mão do advogado, e o advogado bate lá e manda na mão do corre”. Naquela época, Beira-Mar estava preso na federal de Porto Velho, e Zeus, no Centro de Ressocialização do Cone Sul, em Vilhena.
A chegada de Zeus à capital fluminense coincide com o início da expansão do Comando Vermelho pela Zona Sudoeste, historicamente dominada pela milícia. Aliás, o prestígio dele junto à facção no Rio se aperfeiçoa quando ele, por meios próprios, toma a Muzema, em Rio das Pedras. Como reconhecimento, ele virou chefe do tráfico na comunidade.
— Ele já chegou ao Rio com a chancela do apadrinhamento de Beira-Mar, mas, quando ajudou a facção a dominar a região da Muzema, conquistou de vez o respeito da chefia local — afirmou uma fonte na polícia sob condição de anonimato.
Segundo a Polícia Civil fluminense, Zeus está escondido atualmente no Complexo do Alemão, na Zona Norte, comandando, à distância, tanto a Muzema quanto Rondônia. A posição de chefe, ainda incomum para traficantes de fora, também está ligada à habilidade bélica e à agilidade para conseguir armas e munições.
Expansão do Comando Vermelho: em dois anos, facção tomou pelo menos dez favelas na Zona Sudoeste do Rio
A presença de Zeus no Rio não é isolada. Órgãos de segurança pública fluminenses já identificam a presença de traficantes de outros 12 lugares do Brasil em territórios sob domínio do Comando Vermelho no Rio. O Pará é o principal deles, com 78 criminosos identificados pela Polícia Civil e escondidos nos grandes complexos cariocas. Nos últimos anos, a facção tem expandido negócios Brasil afora, fazendo frente à abrangência nacional do grupo paulista Primeiro Comando da Capital. Para o delegado Carlos Antônio Luiz de Oliveira, subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da Polícia Civil do Rio, essa situação se tornou uma ameaça nacional:
— Não se trata apenas das disputas no Rio de Janeiro. Hoje, o Comando Vermelho disputa o Brasil com o PCC. Em pouco tempo, não estaremos mais discutindo somente segurança pública, mas sim soberania nacional e quem manda no país — alerta.
Atualmente, o Comando Vermelho já tem “franquias” em 25 estados e no Distrito Federal, e transformou o Rio num espaço de intercâmbio, onde chefes da facção espalhados pelo Brasil ganharam blindagem e passaram a controlar territórios à distância, escondidos nos grandes complexos cariocas, o que deu estabilidade aos negócios.
Em nota, a Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) e a Polícia Penal Federal (PPF) afirmam que todas as comunicações são monitoradas dentro das penitenciárias federais, e que “todas as tentativas de comunicação ilícita mencionadas na matéria foram identificadas e interceptadas pela própria Polícia Penal Federal, o que comprova a eficiência e a integridade dos mecanismos de segurança”. A nota segue informando que “os conteúdos interceptados foram posteriormente encaminhados às autoridades competentes, subsidiando diversas operações policiais conduzidas por órgãos de segurança pública, como a Polícia Federal, motivo pelo qual há registros dessas informações em documentos oficiais”.
A Senappen e a PF afirmam também que as interações entre presos nas penitenciárias federais são “acompanhadas em tempo real por policiais penais federais, que atuam com elevado padrão técnico e estrito cumprimento da Lei de Execução Penal”, e que, a partir de 2019, houve um endurecimento ainda maior de seus protocolos de segurança e inteligência, em razão de tentativas de desestabilização do sistema, inclusive com o assassinato de servidores da Polícia Penal Federal por organizações criminosas.
Fonte: Extra