Pesquisa da UFRN resulta em tecnologia inovadora para atender pessoas com cegueira

Foto: Cícero Oliveira – Agecom/UFRN

Um grupo de cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) desenvolveu uma tecnologia pensada para atender pessoas com cegueira, por meio de um processo tátil completo que inclui até o braille e a textura, e que pode ser utilizada em diversos contextos que envolvem a identificação de cores, tais como ensino de artes, laboratórios científicos e ambientes industriais.

Kleison José Medeiros Leopoldino, um dos pesquisadores envolvidos no desenvolvimento do protótipo, diz que o depósito trata-se de um sistema de identificação fácil de cores e texturas. Ele caracteriza que o sistema permite não só identificar a cor, como também a textura do material, garantindo os aspectos de cores e os níveis de intensidade.

De acordo com o pesquisador Leopoldino, é possível ainda anexar mostras dos materiais, o que garante uma experiência tátil mais completa. O sistema permite que pessoas cegas ou com baixa visão severa compreendam a transição cromática de forma sensorial e identifiquem graduações de intensidade por meio da espessura de uma linha inferior em relevo.

“Adicionalmente, o centro desse arco semicircular comporta um espaço destinado à anexação de amostras materiais, de modo que o usuário não apenas seja informado sobre a cor, mas também possa sentir, fisicamente, a textura, sua condição de absorção de calor ou o tipo de material correspondente”, explica Kleison Leopoldino.

O cientista complementa que a tecnologia se complementa a outros sistemas como o See Color e o ColorADD. Em decorrência, os símbolos táteis podem ser integrados diretamente em textos em braille, com dimensões compatíveis com as linhas de leitura. Contudo, com algo inexistente nos sistemas anteriores: é possível uma leitura contínua e simultânea de conteúdo textual e informações cromáticas.

Albanizia Ferreira Campelo, estudante de Psicologia na FACISA e uma das cientistas autoras do invento, conta que o sistema é pratico de ser sentido, e, além disso, o sistema dispensa legendas. “Facilmente eu posso identificar a cor, a intensidade de forma mais intuitiva e a textura a que ela se refere. Então, isso é muito importante para a gente. Ele já dispensa a legenda de quaisquer informações como cor, textura ou intensidade da cor”, descreve Albanizia Ferreira Campelo.

Funcionando como uma espécie de validadora, o envolvimento de Albanizia Campelo se deu, além do conhecimento que ela possui e que foi aplicado na tecnologia, também pela característica de que a invenção reflete um pensamento voltado a solucionar problemas reais de acessibilidade. Além de Kleison e Albanizia, a invenção, cujo nome recebido foi “Sistema para identificação tátil de cores em arco, seu método de produção e uso”, contou com as contribuições de Isaac de Santana Bezerra, Edson Noriyuki Ito, Bismarck Luiz Silva e João Marcelo Silva de Lima, em uma parceria entre a FACISA e o Laboratório de Polímeros, vinculado ao Departamento de Engenharia de Materiais do Centro de Tecnologia (CT), junto com o grupo de tecnologia e educação inclusiva.

Para além do visual

Os pesquisadores estabelecem a premissa de que o sistema tradicional de cores é totalmente visual. Para indivíduos cegos ou com baixa visão, essa exclusividade do recurso visual gera desigualdades no acesso à informação cromática, privando-os de participar de diversos processos que dependem de categorização ou apreciação das cores. A presença e a identificação de cores são elementos cruciais em inúmeros contextos: científicos, artísticos, educacionais e industriais. Para indivíduos cegos ou com baixa visão severa, a exclusividade do recurso visual gera desigualdades no acesso à informação cromática, privando-os de participar de diversos processos que dependem de categorização ou apreciação das cores.

Para contornar a situação, eles criaram, então, um sistema de cores em arco, totalmente acessível, que permite uma experiência tátil completa. Nesta, pode-se identificar as cores em suas diversas intensidades, além de garantir a identificação tátil da textura do material descrito, já que existe um espaço dedicado para anexar amostras de materiais. Assim, a invenção propõe um sistema tátil semicircular que representa a sequência tradicional das cores do arco-íris — vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta — utilizando faixas em relevo diferenciadas para cada cor. A grande inovação está na possibilidade de indicar, também em relevo, a intensidade ou saturação da cor por meio da espessura variável de uma linha inferior. Isso gera uma correspondência mais direta e intuitiva entre a percepção tátil e a percepção visual da cor.

Edson Noriyuki Ito, coordenador do grupo, salienta que a invenção insere-se no campo da acessibilidade, do design universal e da educação inclusiva. Ele ratifica que o invento é aplicado para facilitar o acesso às cores e à textura durante a leitura voltada para pessoas com cegueira ou baixa visão. Edson Ito destaca que o grupo do Laboratório de Polímeros está buscando desenvolver ainda outras tecnologias que garantam a integração de pessoas com diversas deficiências no mundo acadêmico, laboratorial e industrial.

Isaac de Santana Bezerra complementa, situando que a tecnologia desenvolvida já possui protótipo, tendo sido aprovada após uso por pessoas cegas, “as quais garantiram ser um sistema superior a todos os outros já utilizados por parte deles”. Com cinco depósitos de pedido de patente na bagagem, ele frisa que a invenção está em um nível de maturidade TRL 7. O TRL, ou Technology Readiness Level (Nível de Prontidão Tecnológica), é um método de medição para avaliar o quão madura está uma tecnologia em seu ciclo de desenvolvimento. A escala varia de 1 a 9, sendo que cada nível representa um estágio diferente de desenvolvimento da tecnologia.

Tanto Ito como Isaac citam que o sistema em questão pode ser aplicado em diferentes ambientes, como instituições de ensino, para auxiliar no aprendizado da teoria das cores; exposições de arte, para permitir uma experiência mais inclusiva; e até mesmo em segmentos industriais, onde a codificação por cores é necessária para classificar produtos ou processos, como em indústrias têxteis. “Dessa forma, o sistema abre caminho para ampliar a compreensão tátil, fomentando uma cultura de maior acessibilidade”, sintetiza o professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências e Engenharia de Materiais (PPGCEM), Edson Ito.

Informações do Portal da UFRN

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