Em processo de retomada, o setor de mineração do Rio Grande do Norte tem atraído investidores pelo potencial de terras raras e deve se posicionar como um espaço seguro para investimentos com o novo hub de inovação do segmento no Estado. É o que aponta o presidente do Sindicato da Indústria da Extração de Metais Básicos e de Minerais Não Metálicos do Rio Grande do Norte (SINDIMINERAIS-RN), Mário Tavares.
Geólogo e doutor em Recursos Naturais, além de diretor da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern), o presidente apontou em entrevista à TRIBUNA DO NORTE os principais gargalos, as perspectivas de melhora e os impactos do contexto macroeconômico na mineração potiguar.
Qual o panorama do setor de mineração aqui no Rio Grande do Norte, sobretudo, em termos de potencial de crescimento?
Está muito bem e em retomada. Há vários investidores de fora aqui, incluindo sauditas e chineses. Com as terras raras, também estamos atraindo americanos. Nós temos indicações de terras raras, e já foram objeto de muita procura os minerais críticos e estratégicos, como o lítio, tungstênio e tântalo.
Como não temos estudo, não posso afirmar quanto temos de cada um desses recursos. No entanto, estou trabalhando em um relatório final de pesquisa sobre tântalo e nióbio em uma área que estamos estudando.
Em relação a esse potencial de terras raras e minerais estratégicos, embora ainda não tenhamos dados precisos, como o estado vem tentando se posicionar diante dessas necessidades?
Estamos tentando atrair investidores. Isso porque temos encontrado esses minerais, mas é preciso estudá-los. O pessoal da academia, inclusive, gosta de diferenciar a pesquisa mineral e prospecção mineral. Na prospecção, o objetivo é saber se existe um determinado bem mineral no estado. Já na pesquisa, uma vez identificado o que tem, a finalidade é saber o quanto tem.
Isso porque, às vezes, temos situações em que temos um bem mineral, mas a quantidade dele é pequena e não compensa investir em uma mina. Estudei áreas de ouro aqui no estado, por exemplo, com um ouro muito bonito, mas em baixa quantidade.
Pegando esse gancho, nós temos a chegada do S.Mine Hub com a proposta de integrar pesquisadores para realizar estudos sobre os potenciais do Rio Grande do Norte na mineração. Como essa iniciativa deve se projetar no segmento do estado?
A expectativa é muito grande, pois esse Hub tem contatos com o pessoal de altíssimo nível das universidades do estado e pretende ajudar as empresas de mineração a produzir da melhor maneira e utilizando as tecnologias a que nós temos acesso.
Atualmente, a maior parte da produção do minério potiguar é para o mercado interno. A chegada do S.Mine Hub deve favorecer a abertura de novos mercados para o minério do estado?
Acredito que sim. Tem pessoas com experiência no mercado externo e eu também tenho alguma experiência. Vamos colocar isso à disposição do Hub e das empresas do setor mineral do Rio Grande do Norte.
Sobre o contexto macro do setor de mineração, em outubro a Agência Nacional de Mineração (ANM) alertou sobre a insuficiência orçamentária e o risco de paralisação de atividades, devido à falta de recursos orçamentários. Nesta quarta, a ANM também adiou a aprovação do edital da 9ª Rodada de Disponibilidade de Áreas por conta dos custos para preparar as etapas do leilão.
Esse problema tem afetado o RN? De que modo?
Para você ter uma ideia, há muitas áreas que estão disponíveis para esse leilão e poderiam estar começando seus trabalhos, gerando emprego e renda a partir da exploração mineral, mas estão paradas. Não há como requerer uma área que está para leilão, porque você perde seu dinheiro.
A nível de Brasil, há 100 mil áreas para leilão e a ANM consegue mandar cinco mil no máximo, por cada leilão. Então tem que fazer muito leilão para ter um equilíbrio disso. Agora, no nono, parou por falta de recursos.
Ainda sobre a Agência, também houve uma mudança no Regimento Interno da ANM que foi vista por alguns agentes do setor como um retrocesso, que foi a Resolução nº 211/2025, que entrou em vigor em agosto e teve como uma das principais alterações a centralização das superintendências regionais. Como o setor está lidando com essa questão? Essas alterações também foram prejudiciais para o segmento?
Bom, vamos considerar que temos aqui um diretor-geral da Agência Nacional de Mineração. Quando tenho uma dúvida ou demanda, por exemplo, ligo pra ele ou vou na ANM e, dentro das possibilidades, ele resolve. Mas agora não é possível fazer isso, pois está tudo centralizado por região, com um pessoal que não tem o mesmo olhar local.
O SINDIMINERAIS/RN está realizando algum tipo de movimento para tentar mudar essa resolução?
Nós fizemos uma nota pública articulada com outros sindicatos que também dependem da ANM e enviamos para uma comissão explicando qual seria a perda das mineradoras, mas não deram um retorno. Como um estado menor, para conseguirmos um pleito fica muito mais difícil com a centralização [estabelecida pela resolução].
Além desse desafio, quais são os principais gargalos do setor mineral no Rio Grande do Norte?
O principal está no investimento. O brasileiro, via de regra, quer investir hoje pela manhã para à tarde já ter um retorno. Só que a mineração não é assim, pois é um setor em que o grau de certeza que você vai ter esse recurso de volta é baixíssimo.
Nós não temos empresários aqui dispostos a fazer esses investimentos. Não há uma segurança, por exemplo, de que você terá de volta o dinheiro investido para a pesquisa.
E a chegada do Hub pode mudar esse cenário para atrair as empresas?
Na minha perspectiva, acredito que sim. Isso porque é mais fácil entregar um projeto para uma pessoa capacitada em quem você confia. Quando ela iniciar essa pesquisa, por já ser capacitada, ela já vai dizer a você, por exemplo “não investe muito aqui, pois o negócio não é bom”. Quando você investe e trabalha com pessoas pouco capacitadas, por outro lado, elas não têm condições de assumir essa posição.
Então o Hub está pegando a “nata” de cada setor das pessoas que trabalham aqui no estado do Rio Grande do Norte. Isso é o que diferencia o Hub das outras coisas.
Quais os números atuais do setor da mineração potiguar em termos de empregos gerados e investimentos?
O setor da mineração no Rio Grande do Norte vem apresentando desempenho positivo, tanto em geração de empregos quanto em expansão da base produtiva.
De acordo com os dados do Novo CAGED, no período de janeiro a outubro de 2025, o setor mineral potiguar contabilizou 11 mil empregos formais, o que representa um crescimento de 3,30% em relação ao mesmo período do ano passado, quando havia 10,6 mil trabalhadores ocupados. No acumulado do ano, o saldo de empregos foi positivo em 197 postos, indicando que o número de admissões superou o de desligamentos no período.
Complementarmente, os dados da RAIS 2024 apontam que o Rio Grande do Norte conta atualmente com 253 estabelecimentos de mineração, concentrados principalmente nas regiões Oeste e do Seridó Potiguar.
Deu na Tribuna do Norte




