Nova patente da UFRN integra microalgas e processos químicos para gerar biocombustíveis

Foto: Reprodução

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com apoio da Galp Sinopec Brasil, deram um passo inovador rumo ao futuro sustentável, tratando o gás carbônico não apenas como resíduo, mas como matéria-prima. O grupo acaba de depositar no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) a patente de um sistema integrado que promove a conversão de microalgas em biocombustíveis por meio de rotas termoquímicas, ao mesmo tempo em que captura gás carbônico (CO₂) e o transforma em energia limpa.

A ideia nasce de um desafio conhecido: como enfrentar as altas emissões de dióxido de carbono e avançar na descarbonização, o processo de reduzir ou eliminar a dependência de combustíveis fósseis e suas emissões. Ao usar o CO₂ como matéria-prima, o resultado pode ser a produção de combustíveis limpos, como o bioquerosene de aviação e o diesel marítimo sustentável, apontando caminhos para um futuro energético mais responsável e de baixo carbono. Dessa forma, os produtos e subprodutos são aproveitados por meio da integração dos processos, viabilizando a valorização de resíduos dentro de um conceito de biorrefinaria integrada à economia circular.

Primeiro, as microalgas cultivadas absorvem o CO₂ liberado por atividades industriais. Em seguida, essa biomassa passa por processos químicos de aquecimento e transformação, que incluem a gaseificação por ciclos químicos, em que a biomassa de microalgas é convertida em gás de síntese (CO e H₂); a pirólise, em que a biomassa é aquecida até ser convertida em bio-óleo, carvão e gás; a liquefação hidrotérmica, que transforma a biomassa úmida em um tipo de óleo por meio de aquecimento sob alta pressão; e a hidrodesoxigenação, processo que utiliza hidrogênio para retirar o excesso de oxigênio e produzir um combustível mais puro e eficiente.

Aspecto inovador

Para a pesquisadora Renata Martins Braga, uma das coordenadoras do projeto, o diferencial está justamente na integração dos métodos. “O que há de inovador é a forma como essas rotas podem ser conectadas, passando de um processo para outro de maneira mais econômica e rentável, alcançando maior rendimento e sem gerar resíduos”, afirma.

Além dela, participam como autores desse trabalho científico os pesquisadores Amanda Duarte Gondim, Ângelo Anderson Silva de Oliveira, Dulce Maria de Araújo Melo, Gineide Conceição dos Anjos, Gislane Pinho de Oliveira, Joemil Oliveira de Deus Junior, José Luiz Francisco Alves, Karine Fonseca Soares de Oliveira, Leila Laise Souza Santos, Rafael da Silva Fernandes, Rebecca Araújo Barros do Nascimento Santiago, Rodolfo Luiz Bezerra de Araújo Medeiros, Tiago Roberto da Costa, Vítor Rodrigo de Melo e Melo, Pedro Nothaft Romano, João Monnerat Araújo Ribeiro de Almeida e Filipa Maria Braz Silva.

Parceria entre academia e indústria

Além do aspecto tecnológico, a patente também tem peso acadêmico. Renata destaca que o registro coloca a UFRN na dianteira da pesquisa em biorrefinarias com microalgas. “Essa patente é importante para marcar a universidade como pioneira em soluções de descarbonização e integração de microalgas com indústrias emissoras de CO₂”, detalhou.

A pesquisa envolveu alunos de graduação e pós-graduação em engenharia química, química e engenharia de materiais. Na UFRJ, o grupo do Laboratório de Intensificação de Processos e Catálise (LIPICAT) contribui com pesquisas específicas na etapa de hidrodesoxigenação. Já o financiamento vem da Galp Sinopec Brasil, reforçando a parceria entre academia e setor produtivo.

Embora a patente proteja o processo, e não um protótipo pronto, a equipe já testou algumas aplicações em laboratório. A utilização em escala industrial é vista como um passo para o futuro, a ser desenvolvido em novas fases do projeto, com potencial de transformar gases poluentes em combustíveis de baixo impacto ambiental.

Mais do que uma conquista científica, a nova patente representa um avanço no conceito de integração e intensificação de processos, uma estratégia que visa tornar as reações químicas mais eficientes ao reunir etapas distintas em um único sistema. A proposta mostra que resíduos podem deixar de ser apenas um problema ambiental para se tornar parte de soluções energéticas, reforçando o papel das universidades brasileiras na construção de alternativas sustentáveis.

Fonte: Portal da UFRN

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