Crise nos Correios leva governo a garantir empréstimo de R$ 20 bilhões com aval do Tesouro

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Os recorrentes prejuízos dos Correios acenderam um alerta no governo federal e se tornaram uma ameaça às contas públicas. Para evitar um colapso financeiro na estatal, o Tesouro Nacional decidiu garantir um empréstimo de R$ 20 bilhões à empresa.

A medida foi oficializada na quarta-feira (15) pelo presidente dos Correios, Emmanoel Rondon, e confirmada pela CNN Money. Segundo integrantes da equipe econômica, a decisão busca evitar que o rombo bilionário da estatal tenha reflexos negativos nas finanças da União.

Atualmente, os Correios são classificados como uma empresa pública não dependente do Tesouro, o que significa que seus resultados não impactam diretamente o Orçamento da União, já que a estatal se mantém com receitas próprias.

Restrições do arcabouço fiscal

Antes da criação do novo arcabouço fiscal, o governo podia injetar recursos em estatais por meio de operações de capitalização — sem que o gasto fosse contabilizado dentro do limite de despesas. Foi o que ocorreu, por exemplo, na capitalização da Emgeprom (Empresa Gerencial de Projetos Navais) entre 2017 e 2019.

Com as novas regras, esse tipo de operação passou a contar no teto de gastos. Assim, qualquer injeção direta de recursos nos Correios obrigaria o governo a cortar outras despesas para compensar o impacto fiscal.

Além disso, há um obstáculo jurídico: se a estatal recebesse aportes diretos do Tesouro, poderia ser reclassificada como “empresa dependente”, o que levaria todas as suas despesas a integrar o Orçamento da União.

“Se os Correios se tornassem uma empresa dependente, toda a sua despesa passaria a concorrer pelo espaço fiscal limitado pelo arcabouço. Seria um grande problema”, explicou o especialista em contas públicas Murilo Viana.

Empréstimo com garantia do Tesouro

Sem a alternativa da capitalização, a estatal precisa recorrer a empréstimos bancários para aliviar o caixa. O problema é que, diante da fragilidade financeira da empresa, bancos relutam em conceder crédito em condições favoráveis.

Com a garantia do Tesouro, os bancos terão a segurança de que serão ressarcidos em caso de calote, o que destrava as negociações. Economistas, no entanto, alertam para o risco fiscal que essa operação transfere ao governo federal.

Plano de reestruturação

Ao anunciar o pacote, Emmanoel Rondon também detalhou um plano de reestruturação para tentar equilibrar as contas dos Correios. A estratégia será dividida em três eixos principais:

  1. Corte de despesas — com um novo programa de demissão voluntária, focado em setores de baixo desempenho, e renegociação de contratos com fornecedores;
  2. Diversificação de receitas — com a venda de imóveis ociosos e o lançamento de novos negócios, como o programa “Mais Correios”, voltado ao segmento de marketplaces;
  3. Recuperação financeira, que inclui a operação de empréstimo junto aos bancos.

No primeiro semestre de 2025, os Correios registraram prejuízo de R$ 4,3 bilhões, mais que o triplo das perdas anotadas no mesmo período do ano anterior (R$ 1,3 bilhão).

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