RN tem quinto menor salário médio de admissão do país, aponta estudo

A média salarial de admissão no Brasil alcançou R$ 2.178 em 2024, um avanço real de 2,0%. A Indústria (R$ 2.310) foi o setor com melhor remuneração média | Foto: Magnus Nascimento

O salário médio de admissão no Brasil apresentou avanço real de 2,0% em 2024, alcançando R$ 2.178, segundo o estudo “Raio-X do Salário de Admissão”, divulgado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN). Apesar da melhora nacional, o Rio Grande do Norte aparece apenas na 23ª posição entre os 26 estados e o Distrito Federal, com média salarial de R$ 1.760 e aumento de apenas 0,8% comparado a 2023, ficando à frente apenas de Alagoas (R$ 1.753), Amapá (R$ 1.725), Roraima (R$ 1.715) e Acre (R$ 1.700). O desempenho coloca o Estado no grupo de remunerações iniciais mais baixas do país, cenário que acende o alerta para os efeitos sobre o consumo e o desenvolvimento econômico.

O levantamento mostra que as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste concentram os maiores salários médios de admissão, reflexo da maior presença de setores industriais, tecnológicos e de serviços financeiros. São Paulo lidera o ranking, com R$ 2.473, seguido pelo Distrito Federal (R$ 2.284) e Rio de Janeiro (R$ 2.223). Já no Nordeste, a realidade é marcada por disparidades: enquanto o Ceará, por exemplo, apresenta rendimento médio de admissão em R$ 1.927, ainda abaixo da média nacional, o Estado de Alagoas ocupa a pior posição na região, com os admitidos recebendo uma média de R$ 1.753, uma diferença de R$ 174,00 ante os cearenses.

Dentro desse cenário, Helder Cavalcanti, economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon-RN), destaca que o salário é um instrumento de aceleração do processo de crescimento. “À medida que alguém começa a receber salário, passa a ter um poder de compra e isso faz a moeda circular na economia. Essa pessoa vai alugar uma casa, comprar alimentação, usar o transporte e isso vai gerando novos mercados e possibilidades de rendimento para outras pessoas”, afirma.

Por outro lado, no contexto de uma baixa remuneração inicial, esse efeito multiplicador se restringe. “Com um salário mais baixo, esse impacto é negativo, porque limita o consumo. Quanto maior o salário, mais poder de compra, mais alguém é colocado nessa cadeia produtiva. Você deixa de consumir o básico para adquirir um objeto de desejo e a cadeia se fortalece mais ainda. A circulação da moeda traz todos esses aspectos, desde a arrecadação de impostos até a geração de novas oportunidades no mercado de trabalho”, acrescenta.

O estudo da FIRJAN indica que os setores que oferecem as melhores remunerações médias de admissão no país são a Indústria (R$ 2.310) e os Serviços (R$ 2.250), ambos acima da média nacional. Já Agropecuária (R$ 2.011) e Comércio (R$ 1.926) apresentam patamares mais baixos. A explicação para as diferenças regionais está na concentração de atividades econômicas de maior valor agregado, como a tecnologia da informação, a engenharia, a extração mineral e os serviços financeiros.

“O mercado de trabalho é sensível: responde a qualquer impacto. Então, precisamos de mais incentivos para atrair indústrias e criar um ambiente atrativo ao investidor”, observa Helder.

Outro ponto levantado pelo economista é a informalidade, que tem absorvido parte da mão de obra diante dos salários iniciais mais baixos. Motoristas por aplicativos, prestadores de serviços autônomos e trabalhadores por conta própria representam uma fatia crescente no RN, com impactos diretos sobre a arrecadação.

Indústria paga acima da média no RN

Na avaliação da Federação das Indústrias do RN (FIERN), é preciso observar que o tamanho do mercado consumidor potiguar, o perfil predominante de empresas micro e pequenas e os custos logísticos envolvidos na distribuição de produtos para outros estados desenham um cenário desafiador para que as empresas locais consigam ser competitivas em seus salários iniciais.

Apesar disso, Indicadores do Observatório da Indústria MaisRN apontam que, diferentemente do dado geral, quando se faz o recorte do salário pago pela indústria potiguar, o setor alcança um salário médio de R$ 2.629,89, superando a média nacional de R$ 2.310,00, reforçando a conclusão do estudo da FIRJAN de que as indústrias pagam salários mais altos que os demais setores.

“A média potiguar relativamente superior à nacional é resultado das atividades petrolíferas, que, em média, pagam aproximadamente R$ 15.380,00. Além desse setor, também se destacam: fabricação de máquinas e equipamentos elétricos (R$ 8.505,17); eletricidade e gás (R$ 8.034,64); captação, tratamento e distribuição de águas (R$ 7.584,75); e extração de minerais (R$ 5.550,81)”, disse a FIERN por meio de nota.

Outro setor que se destaca na questão salarial é o da energia eólica, de acordo com a FIERN. Pesquisa do Observatório da Indústria MaisRN já indica que municípios e regiões produtoras conseguiram alcançar médias salariais superiores às das regiões não produtoras. “Para a operação, o setor exige equipes multidisciplinares com formação qualificada, que vão desde engenheiros até assistentes sociais, biólogos e ecólogos, permanecendo em atuação mesmo após a fase de construção”, explica.

A Federação das Indústrias pontua, no entanto, que confiança do setor produtivo na economia potiguar, medida por meio do ICEI (Índice de Confiança do Empresário Industrial), aponta para uma “queda consistente” que vem ocorrendo desde janeiro de 2024, passando de 60,6 pontos (janeiro/2024) para 53,2 pontos (agosto/2025), o que significa que investimentos, expansões e novas contratações estão se tornando cada vez mais difíceis.

“Assim, estamos em um período de baixas expectativas e menor geração de empregos, o que desenha um cenário em que aumentar os salários iniciais se torna excessivamente custoso para empresas que já buscam alternativas para se manterem ativas diante desse contexto mais desafiador no Rio Grande do Norte”, sublinha a FIERN.

Para elevar os salários médios do RN, e retirá-lo da lista dos estados com menores remunerações, a FIERN destaca ser “essencial adotar políticas públicas integradas que priorizem a educação, promovam a inovação e modernizem o ambiente regulatório, alinhando-se às vocações econômicas do estado”.

Qualificação como vetor de mudança

De acordo com o levantamento da FIRJAN, 77% das ocupações registraram aumento real nos salários de admissão em 2024, destacando a retomada de uma tendência positiva após anos de retração. A FIRJAN ressalta que engenharias, tecnologia e inovação continuam a figurar entre as áreas mais valorizadas, com salários iniciais que ultrapassam a marca dos R$ 10 mil em alguns segmentos, como engenheiros de computação (R$ 13.794) e engenheiros químicos (R$ 11.181).

Para Raniery Pimenta, diretor regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial no RN (Senac-RN), os dados demonstram que é preciso investir em qualificação. “Embora os números mostrem um desafio, vemos isso como uma oportunidade de transformação. Desenvolver novas competências, sobretudo nas áreas mais inovadoras, dá ao trabalhador a chance de disputar vagas melhores e com remunerações mais altas”, destaca.

Somente em 2024, foram mais de 33 mil vagas ofertadas em cursos técnicos e de qualificação, um aumento de 20% em relação a 2023, sendo 17 mil através do Programa Senac de Gratuidade (PSG). O diretor ressalta que há grande espaço de crescimento quando o trabalhador investe em competências comportamentais, as chamadas soft skills, como comunicação, relacionamento com o cliente, liderança e visão de negócio.

“Neste ano, mais de 2 mil pessoas, entre público externo e alunos egressos do Senac, foram contratadas por meio da realização de processos seletivos de emprego em parceria com empresas de diversos segmentos do Comércio e de Serviços. Em 2024, mais de 3 mil pessoas foram encaminhadas para o mercado de trabalho. Essas iniciativas mostram que, quando unimos educação de qualidade e oportunidades reais, conseguimos mudar trajetórias de vida”, destaca Raniery Pimenta. “Quando empresa e trabalhador crescem juntos, toda a economia do nosso estado se beneficia”, acrescenta o diretor regional do Senac-RN.

No detalhamento por setores, os salários iniciais de serviços mais elevados aparecem em segmentos como exploração de jogos de azar e apostas (R$ 9.301), serviços financeiros (R$ 5.179) e tecnologia da informação (R$ 4.927), além de pesquisa e desenvolvimento científico (R$ 4.861). Na indústria, atividades como a extração de petróleo e gás natural, com média de R$ 9.104, e a fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos, com R$ 4.186, figuram entre as mais bem pagas.

O levantamento também aponta que, apesar da tendência de alta no país, alguns estados tiveram desempenho reduzido na variação dos salários de admissão entre 2023 e 2024. O Rio de Janeiro foi o único a registrar retração, com queda de 0,4%, enquanto Ceará e Pará ficaram praticamente estáveis, ambos com aumento de apenas 0,1%. Já Acre e Bahia registraram crescimento de 0,9%, próximo dos 0,8% do Rio Grande do Norte.

LEVANTAMENTO

Raio-X do Salário de Admissão, estudo divulgado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN)
Deu na TN

Deixe um comentário

Rolar para cima