Em 8 idas ao G7, Lula reclamou do grupo e teve sugestões ignoradas

Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participa a partir de segunda-feira (16) da 51ª Cúpula do G7, grupo que reúne os 7 países mais industrializados do mundo. Essa será a 9ª participação em encontros do grupo nos 11 anos à frente do Palácio do Planalto.

Lula exalta os convites por entender ser um reconhecimento internacional de seu governo e da importância do Brasil no cenário global. Apesar disso, o presidente costuma vocalizar em reuniões do G7 propostas que nem sempre vão para frente. O Poder360 fez uma pesquisa sobre o tom dos discursos do petista e o que aconteceu na sequência.

Em 8 participações, Lula não fechou acordos bilaterais, o que não é foco da cúpula. O petista manteve reuniões com líderes dos 7 países do grupo –Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, mas falhou em conseguir incluir sugestões nas declarações finais da cúpula.

A relação de Lula com o G7 foi marcada por frustrações e cobranças. Desde sua 1ª participação, em 2003, na França, o líder brasileiro criticou o que considera ser a exclusão de economias emergentes dos principais debates globais. Na ocasião, defendeu a criação de um fundo mundial de combate à fome, proposta que acabou não sendo acatada.

Foto: Poder 360

Em 2005, no Reino Unido, Lula voltou a insistir no combate à pobreza, destacando a urgência de aumentar a ajuda à África. Embora o grupo tenha prometido destinar US$ 50 bilhões até 2010, a promessa não foi cumprida integralmente e só um valor reduzido foi acordado posteriormente, na cúpula de 2009.

Nas duas últimas idas em sua 1ª passagem no Executivo, o petista intensificou sua campanha pela ampliação do grupo e alegou que o então G8 estava perdendo importância. Em 2008 cobrou mais diálogo entre os países industrializados e o G5, grupo de economias emergentes formado com África do Sul, China, Índia e México. No ano seguinte, disse que as discussões econômicas deveriam ser concentradas no G20, do qual o Brasil faz parte.

De resultado concreto nessas duas ocasiões, em 2008 foi possível obter algum consenso na defesa da eliminação dos subsídios agrícolas, uma pauta que Lula já levantava desde a reunião de 2005. Na cimeira de 2009, saiu mais otimista depois de uma reunião com o então presidente dos EUA, Barack Obama, que sinalizou avanços em negociações climáticas, embora o acordo só tenha se concretizado na COP21 de Paris em 2015.

Lula foi reeleito à Presidência da República em 2022. Já no 1º ano de volta ao governo, foi convidado pelo premiê japonês Fumio Kishida para a cúpula do G7 no país. Depois de 14 anos, o discurso crítico e o pedido de mudanças se manteve. Sem resultado.

No Japão, o presidente fez críticas aos “blocos antagônicos” e cobrou maior comprometimento dos países ricos no combate às mudanças climáticas. Além disso, defendeu uma reforma no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) e tentou promover uma reunião com Volodymyr Zelensky, líder da Ucrânia, que acabou não se concretizando.

Ano passado, na Itália, Lula voltou a defender que os diálogos pela paz na Ucrânia incluíssem a Rússia, algo que não foi acolhido pelo grupo, que manteve seu apoio a Kiev e incluiu a questão no documento final.

O presidente brasileiro também criticou o aumento dos gastos militares dos países mais ricos, mas a tendência global é de aumento. A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), capitaneada pelos EUA, discute a possibilidade de os países integrantes elevarem os gastos em defesa de 2% para 5% do PIB (Produto Interno Bruto).

Agora, em 2025, Lula chega contrariado à 51ª Cúpula do G7, com uma trajetória marcada por críticas constantes ao modelo de governança global representado pelo grupo. Apesar das divergências, sua presença sinaliza que, mesmo desconfortável, o Brasil segue buscando espaço nas grandes discussões multilaterais.

A reunião será realizada a partir deste domingo (15.jun) e termina na 3ª feira (17.jun) em Kananaskis, na província de Alberta (Canadá). Além do Brasil, foram convidados para a cúpula: África do Sul, Austrália, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Índia, México e Ucrânia. Segundo o governo brasileiro, os temas da reunião serão segurança energética e preservação de florestas.

Lula no Canadá

Lula embarca de Brasília para o Canadá na 2ª feira (16.jun), às 8h. Chega no fim da tarde no horário local. A agenda do 1º dia inclui apenas um jantar de boas-vindas. Na 3ª feira (17.jun), o chefe do Executivo brasileiro participa da foto oficial dos países integrantes e convidados e do debate geral. Lula deve retornar ao Brasil na noite do mesmo dia.

A única bilateral confirmada é com o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney (Partido Liberal, centro-esquerda). Outras reuniões com chefes de governo, se houver, se darão depois do encerramento da cúpula.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky , pediu um encontro particular com o petista, mas a reunião ainda não foi marcada. De acordo com o Itamaraty, Lula está disposto a encontrar o líder ucraniano. Os diplomatas dizem que tentam achar um tempo na agenda do presidente. Se for realizada, será a 2ª reunião privada entre Lula e Zelensky. A 1ª foi realizada em Nova York, em 2023.

O presidente brasileiro deve se avistar com Donald Trump somente na reunião ampliada do grupo. Não há previsão de reunião bilateral entre os 2.

Deu no Poder 360

 

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