Impopularidade de Lula torna mais cara fatura no Congresso e afasta apoios para reeleição

Foto: Rafaela Araújo/Folhapress

É recorrente ouvir nos corredores do Congresso que, hoje, poucos deputados e senadores têm coragem de postar uma foto com o presidente Lula (PT) em suas redes sociais, dada a impopularidade atual do petista, reforçada por pesquisas de opinião em série.

Desta vez, foi o levantamento da Quaest a apontar que a percepção negativa sobre a gestão permanece elevada, num momento em que o governo se vê às voltas com as crises do IOF e, principalmente, do INSS.

O medo de perder eleitores faz com que até parlamentares de partidos de esquerda hesitem em divulgar a aliança com o petista.

Há três dias, Lula participou da cerimônia que deu posse a João Campos na presidência do PSB e afirmou que, se continuar “bonitão”, a “extrema direita não volta a governar esse país”. Era natural que, após comparecer ao evento, Lula tivesse fotos e vídeos publicados pelos parlamentares da sigla nas redes, mas eles pareceram não concordar com o autoelogio.

Dos 15 deputados federais do PSB, só 4 postaram retratos ou falas do petista nas últimas semanas em seus feeds. Dos 4 senadores, 2 não publicam imagens do presidente há meses.

Se a vinculação ao governo afeta até os congressistas de esquerda, é no centrão que a impopularidade de Lula bate mais forte: a fatura para aprovar no Congresso as propostas de interesse do Planalto será cada vez mais alta, e as chances de apoio à reeleição parecem praticamente nulas.

MDB e PSD já não escondem que estão distantes da “frente ampla” pela reeleição. Seus líderes argumentam que apenas os políticos da região Nordeste topam essa foto. Nos demais estados, a percepção é que estar ao lado de Lula na reeleição tirará votos e que não há motivo para impor esse desgaste quando a prioridade é fortalecer as bancadas na Câmara e no Senado.

Nos demais partidos de centro-direita e direita, a hesitação é maior e provoca momentos inusitados. Em abril, quando Lula jantou com líderes partidários, alguns políticos fugiram discretamente da lente do fotógrafo para não aparecer no registro do encontro. Nem o protagonista do livro “Onde Está Wally?” se escondeu tão bem.

A pesquisa Quaest desta quarta (4) acaba reforçando a falta de boa vontade dos políticos do centrão com o petista dentro do Congresso. Os dados mostram dificuldade de recuperação de Lula em seu pior momento, com 43% de avaliação negativa e apenas 26% de positiva. Em março, eram 41% a 27%. A margem de erro é de dois pontos.

No começo do ano, os motivos que levaram Lula a atingir o que os petistas esperavam ser o fundo do poço eram a inflação alta e a crise do Pix. Agora, a impressão sobre a alta dos preços dos alimentos e dos combustíveis caiu, o que pode até ser comemorado por eles, mas a fraude contra aposentados e os protestos de empresários contra a nova alta de impostos mantiveram o desgaste em patamar elevado.

No caso do INSS, o governo Lula foi incapaz de fazer a população acreditar na sua estratégia de jogar a culpa no governo Bolsonaro e assumir o papel de algoz dos malfeitores, responsável por devolver o dinheiro pilhado dos velhinhos. Para 31% dos eleitores, a culpa é, sim, da atual gestão. Apenas 8% atribuem a paternidade da fraude nos descontos à administração anterior.

Na crise do IOF, a população se mostra mais inclinada a apoiar os atores que defendem derrubar a alta do imposto do que enxergar mérito nos argumentos do governo, de que é necessário elevar novamente a arrecadação para o poder público não travar.

A pesquisa mostra que 50% dos entrevistados consideram o aumento do tributo um erro, embora só 39% tivessem conhecimento de que isso havia ocorrido quando foram questionados pelos entrevistadores.

A falta de apoio popular à iniciativa deixa o Palácio do Planalto e o Ministério da Fazenda em situação delicada para negociar as medidas compensatórias que permitam a Lula recuar da alta do imposto e, ao mesmo tempo, manter o patamar de despesas nos níveis pretendidos.

Deu na Folha de S.Paulo

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