Foto: Divulgação/Ministério da Previdência
Três associações citadas pela Polícia Federal (PF) na investigação que apura um esquema bilionário de fraude no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) têm assento no Conselho Nacional de Previdência, o CNPS.
As instituições citadas são a Confederação Brasileira de Aposentados, Pensionistas e Idosos (Cobap), a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e o Sindicato Nacional dos Aposentados e Pensionistas da Força Sindical (Sindinapi).
O assento do Sindinapi é representado pelo sindicalista Milton Baptista Souza Filho. Os do Contag, por Evandro José Morello e Edjane Rodrigues Silva, e o da Cobap por Obede Muniz Teodoro.
As entidades aparecem em uma investigação conjunta entre a PF e a Controladoria-Geral da União (CGU) que apura descontos não autorizados em mensalidades de aposentados e pensionistas do INSS.
Estima-se que R$ 6,3 bilhões teriam sido descontados indevidamente entre 2019 e 2024.
As informações foram verificadas com base nos dados atuais de composição do conselho divulgados pela página de acesso à informação do Ministério da Previdência Social.
As três instituições citadas são investigadas pela Polícia Federal e constam no relatório da PF apresentado à 15ª Vara Federal Criminal da Seção Judiciária do Distrito Federal.
Responsável por apreciar e aprovar os planos e programas da Previdência Social, definindo metas, prazos e mecanismos de controle para avaliação de sua execução, o CNPS também atua nas seguintes frentes:
- acompanhar e verificar os trabalhos de manutenção do Cadastro Nacional de Informações Sociais;
- acompanhar e estabelecer mecanismos de controle do pagamento dos benefícios;
- apreciar e aprovar as propostas orçamentárias da Previdência Social, antes de sua consolidação na proposta orçamentária da Seguridade Social.
Foi em uma reunião do CNPS que o ex-ministro Carlos Lupi (PDT) foi alertado sobre as denúncias de fraude no INSS. A conselheira Tonia Galleti pediu discussão sobre indícios de irregularidades nos descontos de aposentados, que só aconteceu cerca de dez meses depois.
Presidido pelo ministro da Previdência e Assistência Social, atualmente o recém-empossado Wolney Queiroz — que já atuava como conselheiro no colegiado — o Conselho conta com 15 membros titulares.
Seis deles pertencem ao governo federal e a maior parte das cadeiras (nove) é destinada à sociedade civil.
As vagas fora do governo são divididas entre três representantes dos “trabalhadores em atividade”, três representantes dos “empregadores” e três dos aposentados e pensionistas, sendo esses últimos pertencentes aos sindicatos e associações.
De acordo com o regimento interno do CNPS, os membros são nomeados pelo ministro da Previdência a partir de indicações dos dirigentes das três classes.
A próxima reunião do Conselho está prevista para acontecer em 27 de maio.
A CNN entrou em contato com o Ministério da Previdência, responsável pelo conselho, para checar se as associações investigadas permanecerão com as vagas, e, até o momento, não obteve retorno. O espaço segue aberto.
“Falta de requisitos” e descontos indevidos
Tanto a COBAP como o Sindinapi foram apontados como associações que não teriam atendido aos requisitos necessários para continuarem recebendo os descontos.
Um ofício de 2024 emitido pela companhia estatal de dados previdenciários DataPrev, responsável pela implementação das exigências técnicas da área, atesta que as entidades não haviam validado plenamente a biometria facial dos beneficiários.
O instrumento é necessário para garantir a autorização devida os descontos.
O que dizem as associações
Em nota, a Contag afirma que “não praticou nenhuma irregularidade em relação ao processamento de descontos de mensalidades associativas nos benefícios previdenciários concedidos” e que chegou a denunciar duas vezes “práticas abusivas contra aposentados e pensionistas rurais”.
A Controladoria-Geral da União (CGU) apontou que as “maiores vítimas” dos descontos indevidos foram aposentados da zona rural, representando 67%.
Em comunicado à imprensa, o Sindinapi, por sua vez, também negou as acusações da investigação e e afirma que o sindicato adotou a biometria facial por iniciativa própria antes mesmo da obrigatoriedade exigida pelo INSS.
“Quando o INSS, em julho de 2024, estabeleceu a exigência de biometria facial usando o modelo Dataprev, nosso sindicato já utilizava um método semelhante de validação”, diz o texto.
Apesar das citações relacionadas à descontos irregulares no relatório da Polícia Federal, o Sindinapi nega que tenha estado na condição de investigado.
“Não recebemos qualquer intimação nesse sentido e apoiamos totalmente as investigações em curso para o esclarecimento das irregularidades cometidas”, afirma nota encaminhada à CNN.
“O Sindnapi tem assento no Conselho Nacional da Previdência Social e assim permanecerá. Não há motivo para ser diferente. O fato de ser citado no inquérito da Polícia Federal não significa que o Sindnapi esteja envolvido na investigação”, complementa. A CNN tenta contato com a Cobap para comentar o caso.
Deu na CNN Brasil.