Para 30% dos brasileiros, o ovo é o principal ingrediente das refeições. O consumo é mais acentuado para as classes D e E que consomem 28% das ocasiões. Os dados constam em pesquisa da Kantar e revelam um desafio às camadas mais pobres da população em manter uma rotina de alimentação com índices proteicos satisfatórios nutricionalmente.
Só entre janeiro e fevereiro deste ano, o preço dos ovos, que costuma ser uma opção para substituir carnes, subiu 69%, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da USP. Por outro lado, a inflação também foi observada sobre as carnes, conforme o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Nos últimos 12 meses, o valor avançou quase 22%, dificultando um cenário de substituição para as famílias que deixem o consumo de ovo escanteado no período de encarecimento. “Se o consumidor não vai comprar a proteína do ovo, ele vai trocar pela carne? É impossível, inimaginável. E aí vai ficar pela proteína da ave mesmo, há algum tempo, inclusive, o nosso mercado voltou a oferecer pé de galinha, pescoço, cortes menos nobres”, exemplificou a coordenadora institucional do Movimento das Donas de Casa de Minas Gerais, Solange Medeiros.
Para ela, o consumidor não tem o interesse em entender os motivos que encarecem o ovo. As justificativas envolvem desde as altas temperaturas, alta no preço do milho e a proximidade da quaresma. “A gente está vivendo um período muito complicado com relação aos alimentos, porque a alta de preços está generalizada. O ovo faz parte da alimentação do brasileiro, porque sempre foi a proteína mais barata”, assinalou.
O gerente de Inteligência Estratégica do Instituto Pacto Contra a Fome, Ricardo Mota, reforçou o cenário de uma inflação sobre todas as fontes de proteínas. “A gente vê o que chamamos de efeito substituição, quando troca um alimento por outro inacessível, mas também vivemos a inflação atingindo esses alimentos”, explicou.
Mota disse que o encarecimento sobre o ovo representa um risco à segurança nutricional, sobretudo, das classes D e E. “Para essas pessoas, a inflação vai corroendo o poder de compra de maneira muito grave. O peso da inflação é quase o dobro”, atestou. “É possível que muitas dessas pessoas, inclusive, já não estejam consumindo nenhuma fonte de proteína”, comentou.
Para ele, o ovo faz parte da cultura alimentar do brasileiro, bem como outras fontes de proteína animal, o que acaba dificultando o acesso a fontes de proteína vegetal. Ricardo Mota ainda disse que o corte de impostos para carnes importadas e as medidas que o governo adotou, até então, não têm o poder de gerar efeitos imediatos ao bolso da população.
“A isenção de impostos, do ICMS da cesta básica, que está sendo estimulada aos governadores, é algo muito positivo e com efeito imediato”, acrescentou o representante do Pacto Contra a Fome.
Deu no O Tempo