Nos últimos dias, o preço do ovo começou a deixar o brasileiro mais preocupado. Com os sucessivos aumentos nos valores da carne, o insumo se tornou alternativa para muitos lares. Paralelo a isso, o período de quarenta dias antes da Páscoa também elevou os valores nas gôndolas do supermercado.
Nos últimos dias, uma caixa com 30 ovos pôde ser encontrada por R$ 40 em alguns estados, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). De acordo com a instituição, o insumo na cesta básica avançou 0,78% em janeiro.
Pela linha histórica do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, em Santa Maria de Jetibá (ES), um dos principais polos de produção de ovos do país, em 20 de janeiro de 2025 os ovos brancos tiveram uma alta real (descontada a alta da inflação no período) de 34,13%, enquanto os vermelhos ou caipira, o aumento foi de 42,8% em relação ao mesmo dia do ano passado.
De acordo com o IBGE, a inflação dos preços de aves e ovos subiu 1,69% em janeiro, mostram números do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). No acumulado de 12 meses, a alta foi de 7,84%.
Quando o ovo vai ficar mais barato?
Especialistas apontam que os preços dos ovos estão impulsionados por uma combinação de fatores estruturais e conjunturais que afetam tanto a demanda quanto a oferta.
Desde meados de 2024, a valorização das carnes, especialmente a bovina, gerou um efeito cascata sobre outras fontes de proteína, incluindo os ovos. A alta nos preços da carne foi motivada pelo aumento da demanda interna, impulsionada pelo crescimento do PIB e da renda dos brasileiros, além da desvalorização do real, que tornou os produtos agropecuários mais competitivos no mercado externo.
Com um cenário de exportações aquecidas, impulsionado pelos Estados Unidos, a oferta de carne no mercado interno diminuiu, pressionando os preços e levando consumidores a buscar alternativas mais acessíveis, como ovos e outras proteínas.
Nos últimos meses, além do impacto da demanda elevada, fatores climáticos e sanitários passaram a restringir a oferta, agravando o quadro inflacionário.
Produtores de ovos apontam que o calor intenso reduziu a produtividade das granjas no Brasil, afetando a produção de ovos e aumentando os custos para os produtores.
Paralelamente, um surto de gripe aviária nos Estados Unidos resultou no abate de mais de 40 milhões de aves entre o final de 2024 e janeiro de 2025, reduzindo a oferta global e pressionando ainda mais os preços.
Com menos ovos no mercado e uma procura elevada, os preços dispararam, criando um cenário de forte encarecimento para os consumidores.
Segundo o diretor de investimentos da Nomos, Beto Saadia, o impacto dessas oscilações deve permanecer no curto prazo, já que a recuperação da produção depende da normalização das condições climáticas no Brasil e do controle da gripe aviária no mercado internacional.
Além disso, ele não prevê um retorno dos preços aos valores antigos.
“Não é tão esperado que os preços baixem de forma muito acentuada. Sempre quando você tem uma alta muito aguda dessa forma, é muito difícil que os preços voltem para o seu status original. Eles sempre vão achar ali alguma coisa no meio do caminho de um preço que vai terminar ali num nível mais alto do que estava no ano passado, sem dúvida, mas a gente espera uma acomodação que gira em torno de seis meses”, disse.
Ajuste de preços deve levar tempo
Para o economista Sergio Vale, os preços ainda devem levar um tempo para se ajustar.
“Os preços das carnes só agora começam a desacelerar e isso ajudou o preço dos ovos a subir, junto com a sazonalidade da Páscoa. Tende a melhorar a partir de abril. Também é importante que a gripe aviária se mantenha afastada. Ela tem feito os preços subirem nos EUA, mas por enquanto está sob controle”, disse.
Para a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a expectativa é que os preços continuem pressionados nos próximos meses e voltem ao padrão após o fim da Páscoa — que neste ano deve ocorrer em 17 de abril, — segundo nota da instituição publicada nesta semana.
“Após longo período com preços em baixa, a comercialização de ovos aqueceu pela demanda natural da época, quando há substituição de consumo de carnes vermelhas por proteínas brancas e por ovos”, explicou a ABPA.