Silvio Almeida sugeriu acareação com Anielle Franco após acusação de assédio

Foto: EFE/André Borges

 

Acusado de importunação sexual contra a ministra da Igualdade Racial Anielle Franco, o ex-chefe dos Direitos Humanos Silvio Almeida procurou integrantes do governo para que promovessem uma acareação dele com a ex-colega de Esplanada. Demitido na sexta-feira, 6, Almeida tentou na véspera que os ministros Jorge Messias (Advocacia-Geral da União), Vinícius Marques de Carvalho (Controladoria-Geral da União) e Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação) aceitassem a proposta de os colocar frente a frente, mas a ideia foi descartada de pronto porque significaria revitimizar Anielle.

Conhecidas entre integrantes do governo desde o final do ano passado, as acusações da titular da Igualdade Racial viraram um escândalo público depois que o portal Metrópoles divulgou, na quinta-feira, 5, que a ONG Me Too Brasil havia recebido denúncias de assédio sexual contra Silvio Almeida e que Anielle seria uma das vítimas. Naquela mesma noite, Almeida apresentou sua versão à trinca de ministros em uma reunião convocada às pressas no Palácio do Planalto e ofereceu a possibilidade de fazer uma acareação.

Àquela altura Silvio Almeida já havia sido procurado pelo menos duas vezes semanas antes por emissários do presidente Lula para apurações informais sobre as suspeitas. Em ambos os casos negou ter assediado a ministra. Um dia antes da eclosão do escândalo, Anielle Franco e aquele que ela aponta como seu algoz ainda dividiram a tribuna de autoridades em um último evento público juntos. Não se cumprimentaram, não se olharam e a ministra deixou o local antes que o chefe dos Direitos Humanos começasse a discursar.

Conforme mostra a edição de VEJA que chega neste fim de semana às bancas e plataformas digitais, quando apresentou sua versão dos fatos aos ministros Vinícius Marques de Carvalho, Jorge Messias, Cida Gonçalves (Mulheres) e Esther Dweck (Gestão), Anielle confirmou diferentes episódios de importunação sexual – de toques inapropriados nos ombros e costas a provocações e convites de cunho sexual.

Em um dos pontos mais tensos do relato, disse, desconcertada, ter sido tocada nas partes íntimas pelo chefe dos Direitos Humanos em uma reunião de trabalho que discutia denúncias de racismo envolvendo uma companhia aérea. Silvio Almeida nega todas as acusações e, em nota, afirma ser alvo de “ilações absurdas”.

Procurada, a defesa do ex-ministro disse que não iria se manifestar. “A ministra pede que respeite o espaço e o direito à privacidade e informa que contribuirá com as apurações sempre que acionada”, declarou a VEJA a assessoria de Anielle.

Com planos de se lançar ao Senado por São Paulo em 2026, Silvio Almeida procurou amigos advogados nos últimos dias. Disse que sua carreira estava arruinada, relatou episódios em se desgastou com a antiga colega de governo, como em setembro passado, quando ambos viajaram a São Paulo para participar de atos antirracistas na final da Copa do Brasil – ele em voo comercial, ela em uma aeronave da Força Aérea Brasileira – e voltou a alegar inocência.

Transtornado, assim que a acusação de assédio foi revelada pelo site Metrópoles, ouviu apelos para que buscasse uma saída honrosa e deixasse o governo antes de ser demitido. Em um primeiro momento, concordou em entregar o cargo e pediu ao chefe de gabinete de Lula uma reunião com o presidente. Informado pelo auxiliar que Silvio Almeida iria se demitir, o petista ficou furioso quando o ministro voltou atrás. Silvio Almeida foi substituído pela deputada estadual Macaé Evaristo.

Deu na Veja

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