Nos corredores do antigo Estádio Machadão, ecoa o murmúrio das memórias de um passado glorioso. O América de Natal, conhecido por sua tradição e garra, viveu uma década de contrastes marcantes. Em 2014, o clube chegou ao ápice de uma euforia contagiante: conquistou o Campeonato Potiguar e fez uma brilhante campanha na Copa do Brasil eliminando times tradicionais do país como Athletico Paranense, e Fluminense, este último ao aplicar 5 a 2 em pleno Maracanã após um revés em casa por 3 tentos a zero, chegando às quartas de final caindo para o Flamengo após duas derrotas por 1 a 0. Com jogadores no elenco como o experiente goleiro Fernando Henrique, o atacante Rodrigo Pimpão, o meia campista classico Daniel Costa, dentre outros, o sonho do acesso à Série A parecia ao alcance. Mas o destino, imprevisível e cruel, trouxe o rebaixamento para a Série C em 2015, uma queda que anunciaria um ciclo doloroso de desafios.
Em 2015, sob a direção de Roberto Fernandes, o América teve uma temporada marcada por um desempenho insatisfatório na Série C do Campeonato Brasileiro. Apesar de ter sido campeão estadual do centenário diante do ABC no Estádio Frasqueirão e ter participado da Copa do Nordeste e da Copa do Brasil, o clube enfrentou dificuldades e terminou a Série C na quinta posição do Grupo A. A instabilidade no comando técnico e as dificuldades em campo refletiram a falta de direção e planejamento da equipe.
A temporada de 2016 foi um pesadelo. Rebaixado para a Série D, o América enfrentou uma série de desafios, exacerbados pela péssima gestão do presidente Beto Santos. A instabilidade interna se refletiu nas sucessivas trocas de treinadores – Aluísio Moraes, Guilherme Macuglia, Sérgio China e Francisco Diá – que não conseguiram evitar a queda. A gestão ineficaz agravou ainda mais a situação do clube, que viu sua tentativa de recuperação se desmoronar diante de uma realidade desalentadora.
Em 2017, o foco do América estava na tentativa de recuperação. A equipe, sob o comando de Felipe Surian e Flávio Araújo, fez uma boa campanha na Série D, mas foi eliminada nas quartas de final pelo Juazeirense. A chegada de Leandro Campos trouxe uma nova esperança, mas o acesso à Série C continuou a escapar.
A temporada de 2018 trouxe mais frustrações. Com uma boa campanha no Campeonato Potiguar e na Série D, o América foi eliminado pelo Imperatriz nas oitavas de final. A instabilidade continuou, com Leandro Campos, Pachequinho e Ney da Matta como treinadores principais, mas a busca pelo acesso continuava sem sucesso.
Os anos seguintes também foram desafiadores. Em 2019, o América foi eliminado nas quartas de final da Série D pelo Jacuipense-BA. Em 2020, ano inicia com a perda do Campeonato Potiguar, mas a equipe fez uma campanha respeitável na Série D, o acesso foi frustrado pela eliminação pelo Floresta na nas quartas de final. Mas, e se fosse o Mirassol? Nunca saberemos… Waguinho Dias e Paulinho Kobayashi enfrentaram os desafios e tentaram restaurar a confiança, mas a jornada estava longe de terminar.
A temporada de 2021 foi um ano de grandes desafios e frustrações. O América, sob a direção de Evaristo Piza, Daniel Neri, a equipe foi com Renatinho Potiguar eliminado nos pênaltis pelo Campinense na fase do acesso da Série D. Sem calendário para o ano seguinte, o clube teve que torcer pelo acesso do rival ABC, que viria a ser coroado no dia seguinte com o acesso a terceira divisão. Essa conquista do rival garantiu ao América um calendário nacional em 2022, proporcionando um sopro de esperança para a equipe.
Finalmente, 2022 trouxe um sopro de esperança com a conquista da Série D. O América fez uma campanha marcante na Série D do Campeonato Brasileiro. O time mostrou um desempenho sólido e consistente ao longo da competição. Com uma boa gestão do presidente Souza e um elenco bem preparado, a equipe conseguiu avançar para as fases finais. No mata-mata, o América superou seus adversários com dedicação e habilidade, culminando na conquista do título da Série D. A vitória na final contra o Pouso Alegre-MG foi um marco significativo para festejar o título e o alívio de sair do fundo do poço do cenário nacional. Mas o dia que vai ficar marcado como o dia mais feliz dos últimos dez anos ao torcedor, será o 28 de Agosto de 2022, diante do Caxias para mais de 30 mil torcedores na Arena das Dunas, um 3 a 1 de virada garantindo o acesso à Série C e reacendendo a chama da esperança para o clube.
A temporada de 2023 trouxe uma nova era para o América com a chegada da SAF (Sociedade Anônima do Futebol). A mudança na gestão trouxe novas esperanças e perspectivas para o clube, prometendo uma abordagem renovada e mais profissional para enfrentar os desafios futuros. A transformação em SAF representou uma importante reestruturação, abrindo novos caminhos para o futuro do clube. Mas alegria de americano parece durar pouco. Um dia após anunciar SAF, o América dispensou técnico Leandro Sena, Campeão Brasileiro no ano anterior e Campeão Potiguar 2023. Após a saída do glorioso Sena, o alvirrubro voltou a viver uma nova onda de desilusão, comandada por Thiago Carvalho e Dado Cavalcanti, treinadores que enfrentaram a dura realidade de um time que lutava para se manter na divisão. No fim, o rebaixamento para a Série D na volta à Série C e o adversário era novamente o carrasco, o Floresta. Restava ao torcedor a revolta e esperança de começar a remar tudo de novo.
Em 2024, o América celebrou a conquista estadual e parecia começar o ano bem, fez uma boa campanha na Copa do Nordeste, apesar de não avançar de fase. O maior desafio da temporada viria a ser na Série D. Apesar de um treinador que prometia muito, a equipe iniciou a competição com grandes expectativas, mas a campanha na primeira fase foi marcada por uma série de resultados insatisfatórios. O América teve um início irregular, com uma sequência de jogos ruins que dificultou sua trajetória. A equipe enfrentou dificuldades para se impor em campo, e os tropeços em jogos cruciais colocaram o time em uma posição delicada. Ao final da primeira fase, apenas a 3ª colocação. No mata-mata, a equipe teve a oportunidade de se redimir, mas enfrentou um adversário difícil e competitivo. A eliminação nos pênaltis para o Retrô foi um golpe duro. A frustração da eliminação deixou um gosto amargo e reforçou a sensação de que o clube estava sempre no “quase” para alcançar seus objetivos e revelou a dureza do caminho
Após a eliminação na Série D, o América vai enfrentar um período de cinco meses sem futebol competitivo. Mas já chegou a ser pior, lembra de 2016? Foram seis meses de portas fechadas. Agora o clube e sua imensa torcida tem que lidar com a ausência de partidas e com a necessidade de planejar o futuro enquanto aguarda o retorno das competições que será somente em 2025. Esse período sem atividades será mais um momento crítico de introspecção e planejamento para garantir que o clube volte forte na próxima temporada.
A recente transformação em SAF abre novas possibilidades, mas o caminho para restaurar a grandeza deste clube centenário continua a ser uma jornada incerta. Cada temporada foi uma nova página em um livro de esperanças e frustrações, um ciclo incessante de altos e baixos que definiram a última década do América de Natal Futebol Clube. O clube, com sua rica história e uma torcida apaixonada, continua a buscar a luz no fim do túnel, navegando por um abismo que parece nunca ter fim, mas sempre com a esperança de um futuro melhor.
Deu no Portal da 98