Difícil imaginar que Lula (PT) aparecia nas conversas de Javier Milei e seus conselheiros como um exemplo. Mas isso aconteceu.
Quando ainda deputado (2021-2023), esse economista que se projetou na TV e que nesta segunda-feira (10) completa seis meses à frente da Presidência da Argentina buscava exemplos de pragmatismo político, mesmo entre aqueles dos quais discordava ideologicamente.
Seu então assessor para política externa, Álvaro Zicarelli, mencionou dois nomes, segundo conta à Folha. “Falávamos de Richard Nixon, um fervente anticomunista, mas com a inteligência de quem se abriu à China. E também de Lula, de esquerda, mas que soube se adaptar para além de sua ideologia no primeiro governo, com um gabinete econômico ortodoxo.”
Passado o primeiro semestre do projeto ultraliberal à frente da Casa Rosada, esse analista político vê dificuldades. “Das coisas que Lula fez, Milei aplicou uma: a projeção internacional. Porque na parte do pragmatismo… bem, essa ainda lhe custa muito.”
Seis meses após assumir o comando da Argentina ao ser eleito com 55,7% dos votos, Milei mantém sua base de apoio; vê a inflação cair consecutivamente e recebe elogios do FMI (Fundo Monetário Internacional); tem suas propostas travadas no Congresso e conduz um arrocho radical que trouxe a queda no poder de compra.
Mas a sensação para quem lê o noticiário sobre o presidente é de que Milei viveu esses meses com um pé fincado na Casa Rosada e o outro nos aeroportos. O economista registra recorde de viagens ao exterior nestes primeiros meses de mandato. Foram oito até aqui, cinco delas aos Estados Unidos. Nenhuma aos países vizinhos. Brasil? Dada a distância entre ele e Lula, não há nem um plano sequer.
Com informações de Mayara Paixão – Folha de S. Paulo