Com uma população de apenas 5,8 mil habitantes e sem tradição turística, o município paraense de Sapucaia, a 694 quilômetros de Belém, ganhará um novo portal para enfeitar a entrada da cidade avaliado em R$ 1,3 milhão. A obra, que será paga com recursos do Ministério do Turismo, comandado por Celso Sabino (União-PA), ilustra uma tendência observada em 2024, ano de eleições municipais: o alto investimento feito pela pasta do governo Lula na construção de pórticos e praças pelo país — o segundo maior volume registrado nos últimos dez anos.
Levantamento feito pelo GLOBO nos convênios assinados pela pasta mostra que, dos R$ 354,7 milhões firmados entre janeiro e maio deste ano, R$ 90,9 milhões serão direcionados a obras desse tipo, o que equivale a pouco mais de um quarto dos recursos. Especialistas ouvidos pela reportagem avaliam, no entanto, que a aplicação de verbas em pórticos e praças gera pouco impacto no fomento ao turismo e não deveria ser foco de políticas públicas do ministério.
Perfil das cidades
O valor só não será maior do que o investido pelo governo federal em 2018, também ano eleitoral, quando foram destinados mais de R$ 100 milhões, em valores corrigidos pela inflação acumulada no período, durante a gestão do ex-presidente Michel Temer. Ao todo, 35 cidades serão contempladas com essas novas estruturas e cerca de 40% desses municípios não estão no Mapa do Turismo, instrumento que define a área a ser trabalhada prioritariamente pelo ministério no âmbito do desenvolvimento das políticas públicas.
Procurado, o ministério chefiado por Celso Sabino alega que os investimentos são realizados “preferencialmente, mas não exclusivamente” nas cidades que integram o mapa. “São obras estruturantes como pórticos e praças, além de outros parâmetros, que permitem um município ingressar no Mapa para ter direito a mais recursos”, justificou o ministério, em nota.
O prefeito de Sapucaia, Wilton Lima (MDB), admite que o município não tem tradição no setor de turismo, mas justifica o investimento ao defender que a cidade fica às margens de uma rodovia que possui grande fluxo de veículos.
— O nosso atrativo é mais a pecuária, com um conjunto de eventos, como a festa da vaquejada — aponta Lima.
O prefeito diz acreditar que o pórtico ajudará a atrair visitantes:
— Nosso movimento é grande. O pórtico chama atenção e fica algo marcado.
Outro caso é o de Valente, município de 24,3 mil habitantes no nordeste da Bahia. O prefeito, Ubaldino Amaral (Avante), diz que uma emenda parlamentar vai permitir a construção de novas praças e que, apesar de a cidade não ter tradição turística, recebe alto número de visitantes. Valente é conhecida como “capital do sisal”, planta resistente à aridez do sertão nordestino e usada para fazer, por exemplo, tapetes.
— Deve ter uns 2 mil turistas por ano, ou 3 mil. É uma cidade muito visitada — contabiliza o prefeito.
Os investimentos do ministério, contudo, não ficam restritos a pequenas cidades, sem tradição no turismo. Um dos principais destinos da Bahia, Porto Seguro, por exemplo, assinou um convênio de R$ 22,2 milhões para a reforma e modernização de duas praças, além de pavimentação de acesso, passarela e ciclofaixa. Dentre os projetos, está um de melhoria da Praça do Trabalhador, com estruturas para esporte, como basquete e pista de skate.
Deu no O Globo