Mais de 5.600 efetivos participaram nesta quinta-feira, 28, de exercícios militares ordenados pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, em resposta à chegada de um navio de guerra britânico à Guiana, que negou planejar “uma ação ofensiva” contra o país vizinho. A chegada do HMS Trent rompe uma trégua frágil entre os dois países em meio à disputa secular pelo território de Essequibo, rico em petróleo. “Ordenei a ativação de uma ação conjunta de toda a Força Armada Nacional Bolivariana sobre o Caribe Oriental da Venezuela, sobre a Fachada Atlântica, uma ação conjunta de caráter defensivo e em resposta à provocação e à ameaça do Reino Unido contra a paz e a soberania de nosso país”, disse Maduro em uma transmissão de rádio e televisão, acompanhado do alto comando das forças armadas.
A Guiana, uma ex-colônia britânica, negou que a chegada do HSM Trent faça parte de planos para um ataque. “Estas são associações destinadas a aumentar a segurança interna, não representam uma ameaça a ninguém e, de forma alguma, pretendem ser agressivas ou constituir um ato ofensivo”, afirmou no Facebook o presidente da Guiana, Irfaan Ali. O vice-presidente guianense, Barrat Jagdeo, disse mais cedo que a Guiana não planejava “invadir a Venezuela. O presidente Maduro sabe disso”, ressaltou Jagdeo, que descartou um cancelamento da “atividade programada” com os britânicos. Uma fonte do Ministério das Relações Exteriores da Guiana afirmou à AFP que o HMS Trent chegará à sua costa na sexta-feira e ficará em seu território por “menos de uma semana” para exercícios de defesa em mar aberto. Não está previsto que atraque em Georgetown.
A primeira fase dos exercícios militares venezuelanos contou com 5.682 combatentes, segundo a transmissão, que mostrou aviões de guerra patrulhando a área e o slogan no rádio de “papel de combate”. Participaram caças F-16 e Sukhoi russos, além de embarcações, navios-patrulha, lanchas armadas com mísseis e veículos anfíbios. Os exercícios foram mobilizados a partir do estado de Sucre (nordeste), perto de Trinidade e Tobago, em frente aos limites das águas disputadas com a Guiana. A Venezuela havia pedido mais cedo à Guiana que tomasse “ações imediatas para a retirada do navio HMS Trent” e se abstivesse “de continuar envolvendo potências militares na controvérsia territorial”.
Maduro e Ali reuniram-se no último dia 14 em São Vicente e Granadinas, onde concordaram que seus governos, “direta e indiretamente”, não “usarão a força mutuamente em nenhuma circunstância”. “Acreditamos na diplomacia, no diálogo, na paz”, disse Maduro. “Mas ninguém deve ameaçar a Venezuela, ninguém deve mexer com a Venezuela. Somos homens de paz, somos um povo de paz, mas somos guerreiros e essa ameaça é inaceitável para qualquer país soberano (…), inaceitável a ameaça do decadente, corrupto ex-império do Reino Unido. Não aceitamos”.
Em 18 de dezembro, o chefe da diplomacia do Reino Unido nas Américas, David Rutley, reafirmou o apoio do governo britânico à Guiana, em um encontro em Georgetown com Ali. A Venezuela afirma que o Essequibo, uma região de 160.000 km² rica em recursos naturais, faz parte de seu território, como em 1777, quando era colônia da Espanha, e apela ao Acordo de Genebra, assinado em 1966, antes da independência da Guiana do Reino Unido, que estabelecia as bases para uma solução negociada e anulava um laudo de 1899, que Georgetown pede que a Corte Internacional de Justiça (CIJ) ratifique.As tensões entre os dois países se intensificaram após a realização de um referendo sobre a soberania de Essequibo em 3 de dezembro na Venezuela, o que despertou o temor de um conflito armado entre os vizinhos. O HMS Trent foi deslocado para o Caribe para combater o tráfico de drogas no início de dezembro, embora costume operar no Mar Mediterrâneo.